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TRABALHO
Acusação é feita por sindicalistas de várias centrais; para ministério, quem reclama teme perda de receita de imposto
Governo favorece sindicato em troca de apoio
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sindicalistas ligados a diversas
centrais sindicais acusam o Ministério do Trabalho de conceder
registros a sindicatos em troca de
apoio político ao governo Lula,
principalmente neste ano de eleições em que ter influência sobre
os trabalhadores vale votos.
Afirmam ainda que têm de recorrer à Justiça para impedir que
o ministério libere a criação de
mais de um sindicato de trabalhadores em uma mesma região, desrespeitando a Constituição, que
estabelece a unicidade sindical.
Nos últimos três anos, o ministério concedeu registro para 762 entidades sindicais no país -o número não inclui os que foram
abertos por ordem da Justiça.
Mais: revelam haver uma indústria para montar sindicatos em
busca do imposto compulsório
arrecadado do salário dos trabalhadores com carteira assinada.
No ano passado, o imposto sindical somou quase R$ 1 bilhão.
Desse valor, 60% ficam com os
sindicatos, 15% com as federações
estaduais, 5% com as confederações e 20% com o governo.
O Ministério do Trabalho informa que as reclamações partem de
sindicalistas insatisfeitos com o
desmembramento de seus sindicatos e que a pressão faz parte de
um jogo de interesses dos que não
conseguiram evitar a divisão de
suas bases -e a perda de receita.
"Se não tiver influência, não tem
registro para sindicato. A Força
tem dificuldades para abrir sindicatos. Criamos o sindicato dos
trabalhadores em concessionárias
de estradas e em refeições rápidas
e não conseguimos o registro. Se
fôssemos afinados com o PT, ia
sair", diz Paulo Pereira da Silva,
presidente da Força.
A situação se repete, segundo 25
sindicalistas e advogados da área
trabalhista consultados pela Folha, com sindicatos de trabalhadores das áreas de construção civil, transporte, têxtil, saúde, comércio, publicidade, lavanderias e diversões. Vários sindicalistas
preferem não se identificar.
"Cartucho"
"É no mínimo estranho o Ministério do Trabalho liberar registro para o Sindibin [Sindicato dos
Empregados de Bingos do Estado
de São Paulo], a partir de processo
que estava arquivado e impugnado por 14 entidades desde 95", diz
Elisson Zapparoli, presidente do
Sindiversões (Sindicato dos Empregados em Casas de Diversões
de São Paulo e Região), que nasceu nos anos 60. "Conseguiram
porque têm "cartucho" [recurso
para obter algo] com o governo."
Zapparoli afirma que, desde
2004, representa também os trabalhadores em casas de bingo
-atividade que funciona sem
amparo legal no Brasil- porque
fez uma alteração em seu estatuto.
Ao saber que o Sindibin tinha
autorização na mesma região,
Zapparoli entrou com mandado
de segurança contra o ato do ministério e obteve liminar para suspender o registro do concorrente.
"Travamos uma batalha na Justiça com o Sindiversões. Cumprimos uma série de exigências para
ter o registro. O que eles querem é
manter a arrecadação do imposto
sindical", diz Nelson Gomes Ferreira, vice-presidente do Sindibin.
"O meu sindicato é vítima da
troca de influência no ministério", diz Almir Macedo Pereira,
presidente do sindicato que reúne
os condutores em transporte rodoviário de cargas próprias de
São Paulo. O sindicato migrou da
Força Sindical para a CUT.
Pereira informa que já deixou
de ser "cutista" porque o ministério reconheceu o registro de sindicato (o dos Trabalhadores nas
Empresas de Ônibus Rodoviários
Internacionais, Interestaduais,
Intermunicipais e de Setor Diferenciado), por motivos políticos,
que concorre com sua base e teria
sido criado por dirigentes ligados
à CUT. "A certidão sindical deles
diz que representam motoristas
da indústria e do comércio de São
Paulo. Nós também."
O advogado Arnaldo Donizete
Dantas, que representa o sindicato dos motoristas do setor diferenciado, diz não haver conflito
de representação entre os sindicatos porque as categorias profissionais foram "desmembradas".
"Não houve influência política
na concessão do registro sindical.
A representação foi dada pelos
trabalhadores que buscaram o
sindicato em assembléias representativas", afirma Dantas. "Os
dois sindicatos surgiram de desmembramentos do Sindicato dos
Motoristas de São Paulo. Eles representam os motoristas do comércio, mas só nas empresas de
concretagem e terraplanagem. No
nosso caso, são os motoristas de
prestadoras de serviços."
Para o advogado trabalhista
João José Sady, "o trânsito na copa e na cozinha é mais fácil para
quem é cutista". Ele diz que a
CUT tem hoje o mesmo privilégio
que a Força teve no governo FHC.
"Estrutura arcaica"
A disputa entre sindicatos -e
que envolve o ministério- começou a partir da Constituição de
1988, que definiu que o Estado
não deve interferir na organização sindical, na avaliação de Sady.
"Passou a ser permitido fundar
sindicatos novos sem autorização
do Estado, criar sindicatos onde
antes era proibido, bem como
desmembrar sindicatos por categoria ou por cidade, sem autorização do Estado e independentemente da concordância do sindicato desmembrado. Isso gerou
um furioso processo de criação de
novas entidades."
O advogado informa que essa
situação se agravou em 2004, com
o decreto nš 5.063, que determina
que os pedidos de impugnação
aos pedidos de registro sindical
fossem decididos pelo próprio secretário de Relações do Trabalho.
A "bagunça" no setor, segundo
João Felício, presidente da CUT, é
reflexo da estrutura arcaica. "O
sindicato perde eleição e cria outro com outro nome para garantir
o imposto [sindical]."
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