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Fundo soberano não é grande negócio, diz especialista
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O economista americano Jan
Kregel, especialista em finanças e desenvolvimento, afirma
que a criação de um fundo soberano é uma estratégia pouco
eficaz. Segundo ele, a única forma de o país driblar os efeitos
da enxurrada de dólares é adotar taxas de juros mais baixas.
Os fundos soberanos visam
gerar um retorno mais alto para o excesso de poupança gerado do que o país teria se fosse
gerenciado de forma mais conservadora -por exemplo, com
reservas internacionais.
Kregel esteve no Brasil na semana passada para participar
de um encontro com especialistas em um estudo internacional com o Ibase (Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas) sobre o papel das
entidades financeiras internacionais na governança global.
Ele já foi economista-chefe
do departamento de Análises
de Políticas e Desenvolvimento
do escritório de Financiamento do Desenvolvimento da
ONU e assessorou a Unctad.
FOLHA - Qual o valor de obter o "investment grade" quando as agências de risco são tão criticadas?
JAN KREGEL - As agências medem a capacidade de pagamento do país. A forma como o "rating" é feito, no entanto, não
necessariamente reflete a habilidade real de pagamento. Isso é
usualmente feito de forma
comparativa. Há dúvidas se a
comparação é mesmo válida. A
nota significa uma mudança estrutural. Muitas instituições
que trabalham de acordo com
princípios fiduciários rígidos
podem investir apenas em locais que não representem risco
significativo. Essa regra é interpretada como somente investir
em ativos classificados como
grau de investimento.
FOLHA - Como fica a questão da
maior entrada de dólares?
KREGEL - O Brasil passa a ser
atraente não apenas para fundos de hedge especulativos mas
para instituições como fundos
de pensão e companhias de seguro. Não há dúvida de que haverá um aumento no fluxo de
recursos. Nos últimos anos, o
Brasil teve efeitos positivos
com a balança comercial favorável. Mas, em qualquer cenário, há uma probabilidade
maior de que a balança não seja
tão favorável quanto no passado por fatores externos, como a
crise nos EUA e os efeitos sobre
a demanda chinesa. Além disso,
o real se apreciou muito em relação ao dólar nos últimos anos,
e isso teve um grande impacto
nos preços dos produtos brasileiros lá fora. O Brasil tem um
mercado doméstico consistente, capaz de sustentar o crescimento da indústria. Mas, em
geral, para ser bem-sucedido,
um país precisa ser capaz de
vender seus produtos no exterior. A taxa de câmbio torna essa competição mais difícil.
FOLHA - O governo anunciou a
criação de um fundo soberano. O
que o sr. acha?
KREGEL - O fundo soberano significa simplesmente dizer que
estamos recebendo esses dólares, mas não precisamos deles e
vamos mandá-los de volta. Se
os investidores estrangeiros
vão aplicar no Brasil e receber
algo em torno de 12%, e o fundo
soberano vai usar esse dinheiro
para investir no exterior com
taxa de retorno de 6% ou 7%, isso não me parece realmente
um grande negócio.
FOLHA - Como resolver então a
questão do dólar?
KREGEL - Esse é um debate que
vem desde o início do governo
Lula -o equilíbrio entre a política monetária e a política industrial e fiscal. O país precisa
baixar as taxas de juros. Isso reduz o incentivo para o estrangeiro aplicar aqui. Mais importante do que as expectativas de
inflação é o seu movimento, se
sobem ou caem ante os acontecimentos.
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