São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

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União Sadia-Perdigão pune consumidor, dizem analistas

Órgãos de defesa do consumidor apontam concentração e força para fixar preços

Especialistas citam caso da AmBev, que, quando criada, gerou ganhos de sinergia para as empresas que não chegaram ao consumidor


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Sadia e Perdigão, a fusão entre as duas empresas, que pode ser anunciada ainda hoje, permitirá melhor negociação com fornecedores e clientes, redução de custos e ganhos de sinergia estimados em R$ 2,2 bilhões. Já para os consumidores e o governo, que deve aportar dinheiro no negócio por meio do BNDESPar (a área de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o negócio pode trazer prejuízos, segundo órgãos de defesa do consumidor e especialistas do mercado.
"A rigor, o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] não deveria aprovar um negócio desse", diz José Eduardo Balian, professor de economia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). "É ruim para a sociedade duas vezes: consolida um monopólio que reduz a concorrência e usa dinheiro público, que poderia ser direcionado a projetos mais prioritários, como em infraestrutura."
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) vê a fusão com preocupação. "Esperamos que o Cade e os órgãos competentes façam uma boa análise, mas concentração indica sempre aumento de preços", diz Marcos Pó, do Idec.
Os ganhos com sinergias, que poderiam significar redução de preço ao consumidor, não tiveram esse resultado nas últimas grandes fusões e aquisições no país, afirma ele. "A união entre Brahma e Antarctica, que resultou na criação da AmBev, trouxe muitos ganhos de sinergia, mas eles não chegaram ao consumidor", diz Pó. "Ao contrário. A AmBev usou o poder conquistado para pressionar concorrentes menores e tirar ainda mais opções do mercado. Quando duas empresas se unem, elas não o fazem em benefício do consumidor, mas para aumentar sua lucratividade."
Maria Inês Dolci, do Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), tem a mesma opinião. Levantamento da entidade mostrou que nenhum dos casos de fusão e aquisição no país resultou em redução de preços. "São raros os casos rejeitados pelo Cade mesmo que, para o consumidor, nunca tenha havido benefícios. Apenas menos opções, já que as concorrentes menores são eliminadas de vez com a criação de gigantes", diz Dolci, colunista da Folha.
Com o negócio, a nova empresa será uma das maiores companhias de alimentos das Américas. Segundo a consultoria Economática, ocupará a décima posição em faturamento no setor. Nos últimos 12 meses, a receita consolidada somada seria de US$ 9,466 bilhões. Para a corretora Brascan, a fusão eleva o valor de mercado das duas em quase 25%.

Quase 90% do mercado
A nova empresa também terá quase 90% de participação de mercado em massas prontas, quase 70% em pizzas semiprontas e mais de 50% em produtos industrializados em geral, de acordo com relatório da corretora Santander.
No caso da AmBev, o Cade obrigou a cervejaria a vender fábricas e a marca Bavária. Para Sadia e Perdigão, a expectativa é que os negócios sejam mantidos independentes por um período, até o aval da entidade.


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