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União Sadia-Perdigão pune consumidor, dizem analistas
Órgãos de defesa do consumidor apontam concentração e força para fixar preços
Especialistas citam caso da AmBev, que, quando criada, gerou ganhos de sinergia para as empresas que não chegaram ao consumidor
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Sadia e Perdigão, a fusão
entre as duas empresas, que pode ser anunciada ainda hoje,
permitirá melhor negociação
com fornecedores e clientes,
redução de custos e ganhos de
sinergia estimados em R$ 2,2
bilhões. Já para os consumidores e o governo, que deve aportar dinheiro no negócio por
meio do BNDESPar (a área de
participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o negócio pode trazer prejuízos, segundo
órgãos de defesa do consumidor e especialistas do mercado.
"A rigor, o Cade [Conselho
Administrativo de Defesa Econômica] não deveria aprovar
um negócio desse", diz José
Eduardo Balian, professor de
economia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). "É ruim para a sociedade
duas vezes: consolida um monopólio que reduz a concorrência e usa dinheiro público, que
poderia ser direcionado a projetos mais prioritários, como
em infraestrutura."
O Idec (Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor) vê a
fusão com preocupação. "Esperamos que o Cade e os órgãos
competentes façam uma boa
análise, mas concentração indica sempre aumento de preços",
diz Marcos Pó, do Idec.
Os ganhos com sinergias, que
poderiam significar redução de
preço ao consumidor, não tiveram esse resultado nas últimas
grandes fusões e aquisições no
país, afirma ele. "A união entre
Brahma e Antarctica, que resultou na criação da AmBev,
trouxe muitos ganhos de sinergia, mas eles não chegaram ao
consumidor", diz Pó. "Ao contrário. A AmBev usou o poder
conquistado para pressionar
concorrentes menores e tirar
ainda mais opções do mercado.
Quando duas empresas se
unem, elas não o fazem em benefício do consumidor, mas para aumentar sua lucratividade."
Maria Inês Dolci, do Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), tem a
mesma opinião. Levantamento
da entidade mostrou que nenhum dos casos de fusão e
aquisição no país resultou em
redução de preços. "São raros
os casos rejeitados pelo Cade
mesmo que, para o consumidor, nunca tenha havido benefícios. Apenas menos opções, já
que as concorrentes menores
são eliminadas de vez com a
criação de gigantes", diz Dolci,
colunista da Folha.
Com o negócio, a nova empresa será uma das maiores
companhias de alimentos das
Américas. Segundo a consultoria Economática, ocupará a décima posição em faturamento
no setor. Nos últimos 12 meses,
a receita consolidada somada
seria de US$ 9,466 bilhões. Para a corretora Brascan, a fusão
eleva o valor de mercado das
duas em quase 25%.
Quase 90% do mercado
A nova empresa também terá
quase 90% de participação de
mercado em massas prontas,
quase 70% em pizzas semiprontas e mais de 50% em produtos industrializados em geral, de acordo com relatório da
corretora Santander.
No caso da AmBev, o Cade
obrigou a cervejaria a vender
fábricas e a marca Bavária. Para
Sadia e Perdigão, a expectativa
é que os negócios sejam mantidos independentes por um período, até o aval da entidade.
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