São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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Pacote "calmante" mira risco Brasil e dólar

Governo consegue no FMI mais dinheiro para conter alta do dólar

Economia de gastos públicos vai aumentar mais R$ 2,7 bilhões

Medidas incluem recompra de dívida externa para baixar risco

DA REDAÇÃO

Os mercados financeiros engoliram a dose de calmante oferecida pelo governo no pacote econômico, mas os efeitos mais duradouros do remédio só devem aparecer na semana que vem.
A menos de quatro meses das eleições, o governo anunciou ontem um minipacote econômico que aumenta a munição do Banco Central para intervir no mercado de câmbio e aprofunda o aperto nos gastos públicos. Com isso, o governo espera conter a alta do dólar e, sobretudo, pôr um fim na turbulência financeira.
Em resumo, o governo Fernando Henrique Cardoso tomou medidas que visam a redução do risco-país (a medida, em nível de taxa de juros, da desconfiança dos investidores na capacidade de um país honrar suas dívidas) e, por consequência, das taxas de juros e do dólar, que sobem há dois meses e dispararam nesta semana. O anúncio das medidas fez juros, dólar e risco-país oscilarem durante todo o dia. Dólar e risco Brasil tiveram quedas significativas. O mercado de juros ficou indefinido. Em suma, o mercado corrigiu seus preços com cautela.
O governo vai sacar mais US$ 10 bilhões do FMI. Acertou também com o Fundo a possibilidade de usar mais dinheiro das reservas internacionais do país para intervir no câmbio. Indiretamente, parte do dinheiro a ser sacado entra na conta da munição para baixar o dólar. Na prática, os recursos disponíveis para intervenção no câmbio passaram de US$ 8,6 bilhões para US$ 13,6 bilhões.
Também vai aumentar o superávit fiscal de 3,5% do valor do PIB (todos os bens e serviços que o país produz em um ano) para 3,75%, o que representa uma economia adicional de R$ 2,7 bilhões nos gastos públicos. O FMI queria arrocho maior, mas a equipe econômica considerou impraticável fazer tal economia até o final do ano. Trata-se de uma demonstração de que o país está preocupado com sua solvência, sua capacidade de pagar dívidas e de não aumentá-las. Por fim, a maior novidade, o governo vai recomprar títulos da dívida externa brasileira. Isto é, vai pagar parte de sua dívida, o que deve derrubar o risco país e baixar um pouco os juros exigidos do governo e das empresas endividadas no exterior. As medidas para conter o pânico nos mercados foram anunciadas ontem pela equipe econômica.
Segundo analistas de mercado, o grande teste do "pacote calmante" ocorre daqui até meados da semana que vem, quando vence cerca de US$ 2,5 bilhões da dívida pública e quando o Banco Central define a nova meta da taxa básica de juros da economia. As dúvidas do mercado estão centradas em dois pontos. Primeiro, como o governo vai lidar com a política monetária. Isto é, se vai reduzir a quantidade de dinheiro em circulação e especulação por meio da redução do dinheiro que os bancos podem emprestar -o aumento dos depósitos compulsórios. O mercado também não sabe o que o Banco Central vai fazer da meta da taxa Selic (a taxa básica de juros da economia), que será definida na quarta-feira que vem. Segundo, o mercado não sabe como e se o Brasil vai intervir no preço do dólar e como vai renovar os empréstimos (rolar os títulos da dívida) daqui em diante. O mercado quer oferecer empréstimos (comprar títulos) cada vez mais curtos, temendo a incerteza gerada pela mudança de governo.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Reportagem Local

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