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PACOTE CALMANTE
Governo vai tomar US$ 10 bi do Fundo, que serão usados para recompor reservas e na recompra de títulos
País abaterá dívida com dinheiro do FMI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro vai recorrer a recursos emprestados pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) para antecipar o pagamento de parcelas da dívida externa do setor público que vencem em 2003 e 2004. A decisão faz
parte de uma série de medidas
anunciadas ontem pelo governo
com o objetivo de reduzir a desconfiança do mercado financeiro
em relação ao país.
O Brasil irá tomar cerca de US$
10 bilhões emprestados do FMI.
Desse total, US$ 5,2 bilhões se referem a recursos que já foram liberados pelo Fundo. O restante
ainda depende de aprovação da
diretoria da instituição, o que, segundo o governo, deve ocorrer na
próxima semana.
O dinheiro do empréstimo vai
para as reservas internacionais do
Brasil, que hoje estão em US$
32,887 bilhões. Com a ajuda desse
reforço, o governo pretende recomprar até US$ 3 bilhões em títulos da dívida externa brasileira
que vencem nos próximos anos.
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, disse que a antecipação do resgate de parcelas da
dívida externa representa "um
uso nobre para as nossas reservas". É a primeira vez, desde 1998,
que o governo recorre a um empréstimo do FMI para honrar
parte de seus compromissos.
Segundo Fraga, a decisão de recomprar os títulos brasileiros foi
tomada porque, devido ao nervosismo que tomou conta do mercado nas últimas semanas, a cotação dos papéis ficou excessivamente baixa. "Vamos dar uma
contribuição para que esse mercado se normalize", afirmou.
Quando um país anuncia sua
intenção de recomprar seus próprios títulos, a tendência é que as
cotações dos papéis subam. Isso
pode ajudar a reduzir os índices
de risco-país calculados por muitos bancos, que levam em consideração, nas suas contas, o valor
dos títulos de cada governo
-quanto menor a cotação, maior
o risco, e vice-versa.
Dívida interna
Em relação à dívida interna
-um dos principais focos de
preocupação do mercado nas últimas semanas-, nada deverá
ocorrer no curto prazo. A idéia do
governo é dar continuidade, de
maneira gradual, às ações que
têm sido adotadas: recomprar títulos públicos com vencimentos
mais longos e trocá-los por papéis
de prazos mais curtos.
O governo estuda a realização
um programa de recompra dos títulos públicos negociados dentro
do país, a exemplo do que foi
anunciado ontem para os papéis
da dívida externa. Mas o secretário-executivo do Ministério da
Fazenda, Amaury Bier, disse que
esse programa ainda "está no
mundo das possibilidades e nada
acontecerá no curtíssimo prazo".
A recente desvalorização dos títulos da dívida interna provocou
perdas em muitos fundos de investimento há duas semanas,
quando o BC e a CVM (Comissão
de Valores Mobiliários) introduziram mudanças na regulamentação desse mercado.
FMI
Depois do empréstimo de aproximadamente US$ 10 bilhões
anunciado ontem, o Brasil terá
usado praticamente todos os US$
15,7 bilhões da linha de crédito
aprovada pelo FMI no ano passado. Em setembro, o governo já
havia usado US$ 4,2 bilhões para
enfrentar o nervosismo causado
pelos atentados nos EUA.
Em abril, o governo já havia devolvido ao FMI, antecipadamente, os recursos emprestados em
setembro. Agora, precisou recorrer novamente ao Fundo.
O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse que a mudança no
cenário nas últimas semanas justifica a opção de usar o dinheiro
do FMI. O acordo em vigor com o Fundo termina em dezembro e,
segundo Malan, o atual governo não irá negociar a prorrogação.
"É uma decisão que caberá ao presidente eleito em outubro."
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