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Romper com modelo é a saída, diz economista
DA SUCURSAL DO RIO
Enquanto não houver uma ruptura com o atual modelo, não será
possível reativar a economia. Essa
é a opinião de José Carlos Miranda, coordenador de macroeconomia do Instituto de Economia da
UFRJ e co-autor do livro "Estados
e Moedas no Desenvolvimento
das Nações" (Ed. Vozes, 1999).
"Esse modelo não permite saída. Ou você rompe com ele ou estaremos fadados, de tempos em
tempos, a tomar um tranco do
mercado. Isso não significaria dar
um calote. A primeira providência é tirar as amarras para o crescimento", disse Miranda à Folha. A
seguir, trechos da entrevista.
(RICARDO REGO MONTEIRO)
Folha - Em meio à turbulência financeira, o lado real da economia
parece esquecido. A produção e o
emprego estão fadados a permanecer à mercê dos mercados?
José Carlos Miranda - O modelo
dos últimos oito anos deteriorou
o lado real e os fundamentos macroeconômicos. Por mais que os
mercados sejam especulativos, irracionais, especulam em cima de
uma realidade concreta. O país
não consegue produzir um superávit adequado da balança comercial; tem um déficit estrutural na
conta de renda e de transações
correntes porque privatizaram
empresas que remetem lucro,
mas não têm receita em dólar, por
serem não-exportadoras; o BC
mantém uma taxa de juros exorbitante, o que aumenta o estoque
de dívida pública em poder do
público, e erra na gestão das LFTs.
A maior parte da expansão da
dívida, de 94 para cá, é explicada
pela política de juros e pela necessidade de esterilizar a contrapartida em real da entrada de dólares
necessários para financiar o déficit em transações correntes e da
balança de pagamentos. O modelo propicia falta de credibilidade.
Folha - Parece que os mercados
reagiram bem às medidas do governo. Isso vai se manter?
Miranda - A situação, embora
mais grave, é parecida com a de
98, quando disseram que o modelo era seguro e que não iria mudar. Após a reeleição, mudou-se
tudo e viu-se a fragilidade do modelo; 99 foi um ano terrível. Mas
não ajustaram como deviam.
Folha - Como fazer para a economia real voltar a reagir?
Miranda - Aumentando o superávit primário para pagar juro da
dívida interna é que não será possível crescer. Mantendo os juros
como estão, justificando-se com a
meta inflacionária, quando todos
os índices de preços estão caindo,
é que não vai ser. Enquanto não
derem a chance de os empresários
produzirem, não será possível retomar o crescimento.
Folha - O que seria preciso fazer
para voltar a crescer?
Miranda - Está claro que os juros
altos não são para controlar a inflação. São para financiar o déficit
e o balanço de pagamentos, atrair
capital quando existe uma enorme desconfiança quanto à possibilidade de esse governo rolar a
dívida interna.
Folha - Como sair disso?
Miranda - Esse modelo não permite saída. Ou você rompe com
ele ou estaremos fadados, de tempos em tempos, a tomar um tranco do mercado. Isso não significa
dar um calote, mas começar a fazer política industrial, porque há
vários produtos, insumos e componentes que podem ser produzidos no Brasil. A primeira providência é tirar as amarras para o
crescimento. Fazer alguma engenharia financeira que propicie financiamento mais barato da produção e do investimento.
É preciso diminuir o desemprego para ter aumento da arrecadação. Com o aumento da arrecadação, você pode gastar mais. Não é
que não tenha que ter superávits.
Tem que ter equilíbrio, mas manter equilíbrio significa alongar o
perfil da dívida. Alongar o perfil
não é dar o calote, mas há de convir que uma herança de oito anos
não será desamarrada em dois
meses. É preciso minimizar as
turbulências da travessia, o que
demanda acordos políticos, e não
técnicas de economistas. Um
bom começo seria colocar um político no Ministério da Fazenda.
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