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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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Presidente da entidade afirma que, do ponto de vista, técnico há espaço para a redução da taxa básica

Fiesp ameaça demitir se juros não caírem

Sérgio Lima - 12.jun.03/Folha Imagem
Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, sai do Palácio do Planalto


JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, advertiu ontem que, se o Banco Central não reduzir os juros, as empresas podem ter que promover mais demissões. A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), responsável por determinar a taxa de juros básica da economia, ocorre entre terça e quarta da próxima semana.
"Estamos convivendo com uma desaceleração [da atividade econômica] e uma tensão psicológica muito grandes", disse Piva. "Quando percebem que o avião [a economia] está descendo rápido demais, os agentes começam a se antecipar, muitas vezes têm que adequar seus custos, efetuar ajustes, porque sabem que tão cedo não contarão com reativação do mercado interno", afirmou.
Indagado, logo na sequência, se esse ""ajuste" ocorreria na indústria, respondeu: "Se houver redução significativa de consumo, teremos que nos adaptar à nova realidade. Faremos todo o possível para que isso (demissões) não aconteça. Recorrer a banco de horas, negociar com representantes dos trabalhadores são maneiras de evitar tal medida."
De acordo com levantamento da própria Fiesp, apenas nos mês de maio foram fechadas 2.743 vagas no setor industrial de São Paulo. Em 12 meses, o número de empregos cortados na indústria no Estado chega a 51.117.
Por conta da repercussão das declarações, Piva afirmaria, mais tarde, que a entidade não fez ligação direta entre a decisão do Copom e um "ajuste no nível de emprego" (leia-se demissões). Segundo ele, os juros são um preço na economia e que, perdurando ""além do razoável" nos níveis atuais, podem ""criar constrangimento também no emprego".
Não foi a primeira vez na semana que a indústria advertiu sobre demissões. Anteontem, empresários do Grupo 9 da Fiesp (que representa nove setores ligados à metalurgia) ameaçaram iniciar uma onda de demissões caso o governo não baixe os juros e os trabalhadores não aceitem um pacote com a suspensão temporária de direitos trabalhistas. As empresas do Grupo 9 empregam 450 mil metalúrgicos em São Paulo.
Em sua defesa da queda dos juros, durante a abertura de congresso sobre a indústria paulista, na sede da Fiesp, Piva argumentou que os indicadores que apontam aumento do desemprego, desaquecimento da produção industrial e perda de renda dos consumidores servem para avalizar que uma eventual redução da taxa de juros não resultaria em risco de pressão inflacionária de demanda -quando os preços sobem porque a procura é maior que a oferta. A taxa básica de juros está em 26,5% ao ano, um ponto percentual e meio acima de quando o presidente Lula assumiu.
"Do ponto de vista técnico, porque do político não precisa nem ser dito, há espaço para queda dos juros. Vai [a redução] ter principalmente efeito psicológico, que é uma coisa de que precisamos muito", disse Piva.
Para além da queda da taxa de juros, o dirigente empresarial defendeu a queda dos compulsórios sobre os depósitos à vista.
Pelas regras atuais, os bancos têm que recolher ao BC 60% dos depósitos à vista. O principal efeito é um enxugamento de liquidez -ou seja, diminui o volume de crédito disponível no mercado. Quando há mais crédito no mercado, o consumo aumenta e pode pressionar a inflação.
"A queda do compulsório tem efeito positivo, na medida em que sobram mais recursos no mercado", disse Piva. ""Se o governo baixar os juros básicos, aliviar o compulsório e buscar no sistema financeiro redução do "spread" chegaremos a uma taxa de juros [final] muito menor que a de hoje", completou, pela manhã.
Depois, durante um evento promovido pela Febraban, o presidente da Fiesp disse que o governo deveria orientar sua política macroeconômica para o desenvolvimento, e não para o sistema financeiro. ""Precisamos de uma macropolítica que não seja a simples e repetitiva obsessão, quase doentia, pelo financeiro."
Piva declarou, no entanto, que os industriais não são adversários dos banqueiros. ""Tornou-se moda colocar os industriais e banqueiros como adversários. Mas não é essa a posição da Fiesp."

Colaborou a Folha Online


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