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ARTIGO
Juros deixam Greenspan na corda bamba
DAVID LEONHARDT
DO "THE NEW YORK TIMES"
Ao sinalizar que está preparado para cortar as taxas
de juros uma vez mais, Alan
Greenspan adentrou o que muitos analistas encaram como território perigoso, em uma das batalhas mais difíceis que ele já teve de
enfrentar como presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Greenspan usou seu poder retórico nas últimas semanas com o
máximo de efeito, dizendo que estava inclinado a fazer um "seguro" contra uma nova queda na
atividade econômica e contra a
perspectiva de uma queda sustentada nos preços, conhecida como
deflação. Essa dica de um novo
corte na taxa de juros de curto
prazo controlada pelo Fed ajudou
a derrubar os juros de longo prazo nos mercados financeiros e reduziu o custo de aquisição de casas, equipamentos industriais e
muitos dos outros propulsores do
crescimento econômico.
Antes que o mês acabe, no entanto, Greenspan se verá forçado
a avançar das palavras para os
atos, e fazê-lo implicará que enfrente um dilema.
Caso o Fed reduza as taxas de
juros de curto prazo -será o 13º
corte desde o começo de 2001-,
elas cairão ao nível mais baixo já
registrado depois dos anos 50. Os
juros estariam, então, bem perto
do ponto em que o setor do mercado monetário, responsável por
um giro de investimentos de US$
1 trilhão, praticamente não teria
espaço para obter lucros, o que
poderia perturbar os mercados financeiros e dificultar a captação
de recursos para algumas empresas.
Mas se o Fed optar por manter a
taxa atual, estará fazendo aquilo
que Greenspan sempre se esforçou arduamente por evitar: surpreenderá o mercado. As taxas de
juros hipotecários, e outras, provavelmente disparariam, e com o
Banco Central Europeu (BCE)
tendo cortado em meio ponto
percentual sua taxa de juros na
quinta-feira da semana passada, a
taxa de câmbio entre o dólar e o
euro poderia se recuperar, até certo ponto, o que prejudicaria os industriais norte-americanos que
competem por mercados com
empresas internacionais.
Essa escolha desconfortável tem
de ser feita por Greenspan em
meio a uma desaceleração econômica que já dura mais de dois
anos e o surpreendeu com sua
persistência. O Departamento do
Trabalho norte-americano anunciou na sexta-feira da semana
passada que o desemprego chegou a 6,1% em maio, seu ponto
mais alto em nove anos, e que a
economia estava afundada em
seu mais longo período sustentado de ausência de crescimento no
nível de emprego dos últimos 60
anos.
Embora alguns membros do comitê que determina as taxas de juros no Fed tenham argumentado
nos últimos meses em defesa de
um novo corte nos juros, Greenspan vinha mantendo o otimismo
e enfatizando a força subjacente
da economia, particularmente o
rápido crescimento na produtividade, causado em larga medida
pela adoção de novas tecnologias.
Com as taxas de juros perto do zero, os economistas dizem que é
possível que Greenspan em breve
tenha sua confiança justificada, o
que garantiria sua reputação, no
passado considerada inabalável,
como um dos melhores dirigentes
de banco central da história.
Os atuais problemas encontrados para tirar a economia de sua
letargia podem ser a última tarefa
de Greenspan. Tendo completado
77 anos em 6 de março, ele já é o
mais velho dos presidentes do
Fed. A lei requer que ele deixe o
comando do banco central norte-americano no máximo no começo de 2006, mais de dois anos antes do fim formal de seu quinto
mandato como presidente, porque naquela data expira seu mandato de 14 anos como membro do
conselho do banco central.
Não existe reeleição para os
membros do conselho, se bem
que lhes seja permitido manter
suas cadeiras interinamente até
que um sucessor seja nomeado.
Greenspan assumiu o posto de
presidente em 1987, e concluiu o
mandato de 14 anos de Paul Volcker, seu predecessor no comando
do Fed, antes de iniciar o seu.
A taxa de referência de 1,25%
dos Fed para os juros de curto
prazo deixa pouco espaço para
que as empresas de serviços financeiros obtenham lucros com
investimentos no mercado monetário. Se houver um corte de
0,75%, a taxa de juros básica de
meio ponto percentual colocaria a
maior parte dos fundos nessa situação, e algumas empresas provavelmente abandonariam suas
transações no setor.
"Se elas quiserem permanecer
no jogo, terão de abrir mão de
parte de suas receitas, e isso vai
doer", disse David L. Murphy,
que supervisiona os fundos de
mercado monetário administrados pela Fidelity Investments.
No momento, os fundos de
mercado monetário detêm mais
de US$ 1 trilhão em poupança nos
Estados Unidos, contra quase zero na metade dos anos 70, e uma
boa proporção desse dinheiro se
filtra até o mercado de commercial papers e chega às empresas,
que o usam para investimento.
Se os fundos começarem a fechar as portas ou começarem a
cobrar honorários, fazendo com
que os investidores transfiram
seu dinheiro para contas bancárias, os bancos talvez não se disponham a arcar com todo o risco
que um mercado mais amplo
agora aceita, dizem os economistas.
Os funcionários do Fed dizem
que não estão preocupados. Mesmo que os fundos do mercado
monetário desapareçam, "haverá
muitas opções que oferecem risco
muito baixo", garantindo que não
falte dinheiro para os investimentos, disse Arthur J. Rolnick, diretor de pesquisa do Federal Reserve de Minneapolis.
Os dirigentes do Fed acrescentam que reduzir a taxa básica de
juros não é sua única opção para
combater os problemas da economia. Se ela chegar a zero e surgir
risco de deflação, eles poderiam,
por exemplo, tomar medidas
concretas para a redução das taxas de juros de prazo mais longo.
Antes do final do mês, Greenspan
escolherá que conjunto de consequências prefere.
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