São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Fundo Monetário Asiático?

Os países do leste da Ásia estão mais avançados em matéria de cooperação financeira regional

AS ÚLTIMAS duas semanas aqui no FMI têm sido sobrecarregadas pelo tema da "surveillance", isto é, pela revisão das regras de monitoramento dos países-membros. É um dos principais temas da agenda do Fundo. A questão está pegando fogo e pode haver uma decisão já amanhã. Escrevo este artigo, precariamente, entre uma reunião e outra. Portanto, peço desculpas, leitor, se a coluna sair pior do que de costume.
Deixo de lado, por enquanto, a questão da "surveillance", que ainda é objeto de discussão acirrada neste momento. Vou tratar de outro assunto que me parece bastante relevante para o Brasil e os demais países sul-americanos: a experiência do leste da Ásia em matéria de cooperação financeira. É um assunto praticamente ignorado aí no Brasil, mas de grande relevância para a discussão da integração financeira regional na América do Sul, que envolve, entre outros aspectos, a provável formação do Banco do Sul e de um Fundo Monetário do Sul, atualmente em fase inicial de discussão entre vários países da nossa região.
Os países do leste da Ásia estão mais avançados em matéria de cooperação financeira. Integração regional nunca foi o forte dos asiáticos. Mas a gravíssima crise cambial e financeira de 1997-98 mudou a percepção desses países. Houve descontentamento, e até revolta, com o modo como os EUA e o FMI abordaram a crise. As recomendações de política econômica foram consideradas em grande medida contraproducentes. Além disso, parece ter ficado evidente que os EUA estavam se valendo do Fundo e de outras instituições sediadas em Washington para promover os seus interesses nacionais. "O FMI tem feito mais para promover a agenda comercial e de investimento dos EUA na Coréia do que 30 anos de entendimentos comerciais bilaterais", disse na época Lawrence Summers, então subsecretário do Tesouro do governo Clinton.
Em setembro de 1997, o Japão propôs a criação de um Fundo Monetário Asiático. A proposta foi uma reação aos veementes pedidos de apoio dos países atingidos pela crise, mas foi abortada pela forte resistência dos EUA, dos países europeus e do FMI. A idéia não morreu, contudo. Em 2000, ela foi retomada de outra forma, mais discreta e mais limitada, e vem sendo gradualmente desenvolvida desde então. É conhecida como a Iniciativa de Chiang Mai e começou basicamente pela criação de uma rede de acordos bilaterais de "swaps", cuja finalidade é prover financiamento de balanços de pagamentos em situação de emergência. Os países participantes são a China, o Japão, a Coréia do Sul e os dez membros da Asean, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Indonésia, Tailândia, Malásia, Filipinas, entre outros).
Em maio deste ano, esses 13 países resolveram "multilateralizar" a Iniciativa de Chiang Mai, e constituir um arranjo auto-administrado de compartilhamento de reservas, governado por um único acordo contratual. Um país que tenha dificuldades de balanço de pagamentos poderá recorrer com mais rapidez a financiamento de emergência, desde que atenda às condições que forem negociadas, evitando assim as medidas traumáticas a que foram obrigados durante a crise de 1997-98. "A volatilidade e o volume dos fluxos de capital é ainda maior do que há dez anos. É por isso que nós precisamos de um projeto regional para lidar com o problema", declarou o ministro das Finanças da Tailândia ao anunciar, em nome do grupo, a "multilateralização" da Iniciativa de Chiang Mai.
Convém prestar atenção ao que está acontecendo no leste da Ásia.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).

pnbjr@attglobal.net


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