São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998

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ANO 2000
Há 60% de chance de que a economia mundial mergulhe em uma crise pior do que a de 73-74, diz especialista
Bug do milênio ameaça com recessão global

ALESSANDRA BLANCO
de Nova York

Não é só a crise que vem da Ásia que ameaça a economia global com uma onda de recessão. O bug do milênio pode colocar o planeta em uma recessão pior do que a ocorrida em 1973-74 por conta da crise do petróleo.
Uma série de empresas deve fechar suas portas e países podem ficar sem energia elétrica, telefone e atendimento básico.
Tudo isso porque, na virada de 31 de dezembro de 1999 para 1º de janeiro de 2000, uma série de computadores vão ler o "00" do ano 2000 como se fosse 1900, porque não tiveram seus chips "defeituosos" trocados.
Calcula-se que apenas 3% dos computadores do mundo tenham esses chips defeituosos. O problema é que não se sabe quais são esses computadores -e todos devem ser analisados e testados.
Apenas o período de testes leva de seis meses a um ano, e nem todas as empresas e órgãos governamentais estão dando ao assunto a importância devida. A expectativa é de que Bill Gates saia com a solução daqui a alguns meses, apesar de ele já ter dito que esse é um problema muito grande até para a Microsoft resolver.
Além disso, esses computadores com chips defeituosos que entrarão em pane ao ler "00" como 1900 estão ligados a uma rede de outros computadores, ou seja, um computador "defeituoso" pode colocar em risco todo um sistema.
Já é consenso que nem todos os computadores vão estar prontos para o ano 2000. A questão é: quais computadores vão falhar?
Alguns computadores falhando no mercado financeiro da Ásia poderiam levar a uma crise mundial.
Edward Yardeni, economista-chefe e diretor de planejamento do banco Deutsche Morgan Greenfell e um dos maiores especialistas no assunto, diz que as chances de uma recessão igual ou pior à de 1973-74 devido à crise do petróleo são de 60%.
Isso significaria uma queda de 10% no PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA e de 30% na Bolsa de Nova York a partir do segundo semestre de 1999.
"Quando os investidores voltarem suas atenções para o assunto, deve haver uma queda na Bolsa, e minha previsão é de 30%", disse Yardeni à Folha.
Mas o mercado financeiro ainda não é a preocupação número um. John Koskinen, apontado pelo presidente Bill Clinton para resolver o problema nos EUA, diz que todas as agências federais estarão com seus computadores prontos já em março do ano que vem, apesar de um relatório divulgado pelo Congresso americano dizer que o governo está atrasado.
Mesmo que os EUA consigam ter 100% de seus computadores preparados, o que pode acontecer com armas nucleares no Iraque, Irã e Líbia, por exemplo?
"Não temos qualquer informação sobre sistemas de computadores e chips, riscos, possibilidades de falsos alarmes e lançamentos acidentais. Espero que não aconteça, mas não sei nada sobre isso. EUA e Rússia já fizeram um acordo de cooperação sobre o ano 2000. Mas os EUA não podem projetar o poder militar em países como Iraque, Irã e Líbia. É um risco muito grande", diz Yardeni.
Outros grandes problemas seriam, nesta ordem, suprimento de energia, telecomunicações, transportes e serviços básicos de infra-estrutura. "A energia é minha preocupação número um. Como iremos consertar os computadores se não houver energia para isso?", pergunta Yardeni.
Koskinen diz que a situação nos EUA está sob controle, mas reconhece que não há informações sobre o que pode ocorrer no resto do mundo. Alguns países podem ficar incomunicáveis, sem telefone e nem mesmo televisão para obter informações. E as maiores companhias aéreas, por exemplo, já informaram que não devem operar em alguns países porque têm medo de que seus controles de tráfego aéreo possam falhar, o que criará algumas zonas mortas para vôos.
A posição do governo norte-americano até agora é de que não pode dizer a outros países o que fazer. Yardeni discorda e diz que os EUA têm obrigação de tomar a liderança de uma campanha.



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