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ANO 2000
Há 60% de chance de que a economia mundial mergulhe em uma crise pior do que a de 73-74, diz especialista
Bug do milênio ameaça com recessão global
ALESSANDRA BLANCO
de Nova York
Não é só a crise que vem da Ásia
que ameaça a economia global
com uma onda de recessão. O bug
do milênio pode colocar o planeta
em uma recessão pior do que a
ocorrida em 1973-74 por conta da
crise do petróleo.
Uma série de empresas deve fechar suas portas e países podem
ficar sem energia elétrica, telefone
e atendimento básico.
Tudo isso porque, na virada de
31 de dezembro de 1999 para 1º de
janeiro de 2000, uma série de computadores vão ler o "00" do ano
2000 como se fosse 1900, porque
não tiveram seus chips "defeituosos" trocados.
Calcula-se que apenas 3% dos
computadores do mundo tenham
esses chips defeituosos. O problema é que não se sabe quais são esses computadores -e todos devem ser analisados e testados.
Apenas o período de testes leva
de seis meses a um ano, e nem todas as empresas e órgãos governamentais estão dando ao assunto a
importância devida. A expectativa
é de que Bill Gates saia com a solução daqui a alguns meses, apesar
de ele já ter dito que esse é um problema muito grande até para a Microsoft resolver.
Além disso, esses computadores
com chips defeituosos que entrarão em pane ao ler "00" como
1900 estão ligados a uma rede de
outros computadores, ou seja, um
computador "defeituoso" pode
colocar em risco todo um sistema.
Já é consenso que nem todos os
computadores vão estar prontos
para o ano 2000. A questão é: quais
computadores vão falhar?
Alguns computadores falhando
no mercado financeiro da Ásia poderiam levar a uma crise mundial.
Edward Yardeni, economista-chefe e diretor de planejamento
do banco Deutsche Morgan
Greenfell e um dos maiores especialistas no assunto, diz que as
chances de uma recessão igual ou
pior à de 1973-74 devido à crise do
petróleo são de 60%.
Isso significaria uma queda de
10% no PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA e de 30% na Bolsa de
Nova York a partir do segundo semestre de 1999.
"Quando os investidores voltarem suas atenções para o assunto,
deve haver uma queda na Bolsa, e
minha previsão é de 30%", disse
Yardeni à Folha.
Mas o mercado financeiro ainda
não é a preocupação número um.
John Koskinen, apontado pelo
presidente Bill Clinton para resolver o problema nos EUA, diz que
todas as agências federais estarão
com seus computadores prontos
já em março do ano que vem, apesar de um relatório divulgado pelo
Congresso americano dizer que o
governo está atrasado.
Mesmo que os EUA consigam
ter 100% de seus computadores
preparados, o que pode acontecer
com armas nucleares no Iraque,
Irã e Líbia, por exemplo?
"Não temos qualquer informação sobre sistemas de computadores e chips, riscos, possibilidades
de falsos alarmes e lançamentos
acidentais. Espero que não aconteça, mas não sei nada sobre isso.
EUA e Rússia já fizeram um acordo de cooperação sobre o ano
2000. Mas os EUA não podem projetar o poder militar em países como Iraque, Irã e Líbia. É um risco
muito grande", diz Yardeni.
Outros grandes problemas seriam, nesta ordem, suprimento de
energia, telecomunicações, transportes e serviços básicos de infra-estrutura. "A energia é minha
preocupação número um. Como
iremos consertar os computadores se não houver energia para isso?", pergunta Yardeni.
Koskinen diz que a situação nos
EUA está sob controle, mas reconhece que não há informações sobre o que pode ocorrer no resto do
mundo. Alguns países podem ficar incomunicáveis, sem telefone
e nem mesmo televisão para obter
informações. E as maiores companhias aéreas, por exemplo, já informaram que não devem operar
em alguns países porque têm medo de que seus controles de tráfego
aéreo possam falhar, o que criará
algumas zonas mortas para vôos.
A posição do governo norte-americano até agora é de que não
pode dizer a outros países o que
fazer. Yardeni discorda e diz que
os EUA têm obrigação de tomar a
liderança de uma campanha.
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