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OPINIÃO ECONÔMICA
Elementos da agenda pós-recuperação
ANTONIO BARROS DE CASTRO
Mesmo na hipótese da não-ocorrência de grandes distúrbios no plano internacional,
não é fácil estimar o quanto pode
crescer a economia brasileira nos
próximos anos. E isso por pelo menos três razões.
Há cerca de um quarto de século
que a economia brasileira se encontra: ou em recuperação, por
vezes vigorosa; ou perdendo fôlego; ou até mesmo em retração, como no primeiro semestre do ano
passado. Esse é, portanto, um daqueles casos em que a média -o
mísero crescimento de cerca de
2% ao ano exibido (em média)
nos últimos 25 anos- pouco representa.
Não faz sentido, tampouco, tomar o que ocorre nas fases de retomada como representativo da
capacidade de crescer da economia. E isso porque, ainda quando
recuperações vigorosas não deixem de ser sinais de vitalidade, o
crescimento para valer supõe a
criação e a utilização de capacidade produtiva adicional. Ora,
nas retomadas, como se sabe, predomina a mera (re)utilização de
capacidade previamente acumulada. Aliás, no último quarto de
século, a indústria deste país só
chegou a utilizar 90% da capacidade instalada na produção de
bens intermediários (onde essa
medição é razoavelmente confiável), na "festa da estabilização"
que se seguiu ao lançamento do
Plano Cruzado e na fase inicial do
Plano Real.
Finalmente, é também difícil estimar o quanto esta economia pode crescer, porque desde 1999
nunca houve um momento de trégua suficientemente longo para
que o seu potencial de expansão,
em mais de um sentido renovado,
fosse testado. Ou seja, admitindo
que desde aquela data o quadro
macroeconômico do país mudou
(e continua mudando) para melhor e que a indústria brasileira
mostrou-se capaz de sobreviver à
abertura, fazendo dela uma arma
para reequipar-se (o que, em regra, não ocorreu na América Latina), falta testar o potencial de
crescimento de médio e longo prazo. Houve, de fato, apenas uma
breve trégua, da segunda metade
de 1999 ao início de 2001 -e é
possível afirmar que a economia
aproveitou-a bem, crescendo a
um ritmo superior a 4% ao ano.
Mas o colapso da economia argentina, a implosão da Bolsa norte-americana e a crise energética
nacional impediram que a expansão durasse o suficiente para que
o crescimento ultrapassasse a fase
na qual predomina o aproveitamento de capacidade instalada.
As indeterminações que acabam de ser apontadas parecem
sugerir que não faz muito sentido
tentar precisar a que taxas pode
crescer esta economia. A conclusão não deveria surpreender. Afinal, após um período excepcionalmente longo, pontilhado de crises,
improvisos e transformações -e
em meio a um mundo que também apresenta profundas e rápidas mudanças-, como se poderia determinar, a partir dos dados
disponíveis (isto é, já revelados), o
potencial de crescimento da economia?
O que, sim, parece plausível afirmar é que cabe aos poderes públicos o desenho de possíveis futuros,
o apoio às empresas para que se
animem (e efetivamente possam)
a explorar o seu próprio potencial
de expansão e, num outro plano,
o empenho na renovação da infra-estrutura de serviços básicos.
Esta, profundamente desajustada
às novas circunstâncias, deveria
passar a dar fôlego -ao invés de
restringir, como no presente- às
iniciativas das empresas.
Antonio Barros de Castro, 66, professor titular da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) e ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às
quartas, a cada 15 dias, nesta coluna.
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