São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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Bolsa recua 18% mesmo com grau de investimento

Cenário externo desfavorável impede que mercado se beneficie de "promoção'

A exemplo de outros países, ativos se apreciaram nos meses pré-"investment grade", mas logo perderam fôlego com piora da crise


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Passada a euforia decorrente da conquista do almejado grau de investimento pelo Brasil, a Bovespa se depreciou de forma rápida e considerável. Desde seu pico histórico alcançado em 20 de maio, de 73.516 pontos, a Bolsa de Valores de São Paulo sofreu um tombo de 18,2% -fechou a 60.148 pontos na sexta-feira. O mesmo ocorreu com o risco-país, que bateu em 179 pontos em 5 de junho e agora voltou aos 241 pontos.
O cenário internacional desfavorável não permitiu que o mercado brasileiro se mantivesse em rota de ganhos. Além disso, analistas lembram que investidores costumam se antecipar a notícias esperadas, como a do grau de investimento, para depois realizarem lucros previamente acumulados.
O índice internacional MSCI mostra que os ativos brasileiros tiveram boa apreciação nos três meses que antecederam o grau de investimento, para perder fôlego nos meses seguintes. Curiosamente, esse movimento foi presenciado por muitos países que passaram a ser considerados grau de investimento.
No caso do Brasil, houve valorização de 8,4% nos três meses anteriores ao recebimento da primeira elevação da nota de risco e queda de 8,1% no período posterior (até o último dia 10), segundo o MSCI.
O índice MSCI é calculado pela MSCI Barra -que tem na instituição financeira norte-americana Morgan Stanley seu acionista majoritário- e considera a oscilação de ativos (ações e outros títulos) dolarizados dos mercados de capitais de vários países.
No caso da Rússia, que foi alçada a "investment grade" em novembro de 2003, houve valorização dos ativos de 10,7% nos três meses anteriores à promoção e queda de 19,2% nos três meses seguintes. Para o México, que atingiu o "investment grade" em março de 2000, o resultado foi de alta de 8% antes e de baixa de 11,6% depois.
"É comum verificarmos o mercado financeiro antecipar o "investment grade", e, depois que a elevação é finalmente concedida, o desempenho [dos ativos] acaba por ser igual ou mesmo pior que antes [da concessão da nota]", afirma o economista Luis Fernando Lopes, do Pátria Investimentos.
O Brasil recebeu pela primeira vez o "investment grade" (grau de investimento), concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, no último dia 30 de abril. Menos de um mês depois, seria a vez da agência Fitch Ratings tomar a mesma decisão.
Quando um país é classificado como grau de investimento, significa que se tornou um local mais seguro para os investidores internacionais aplicarem. Em outras palavras, os riscos de o país dar calote diminuíram consideravelmente. Dessa forma, esperava-se que o mercado brasileiro recebesse um fluxo expressivo de capital externo após conquistar o grau de investimento, o que acabou por ainda não ocorrer.
"Se o cenário internacional estivesse menos tenso, poderíamos ter sentido um fluxo mais favorável de recursos externos para o mercado brasileiro. Demos um pouco de azar, pois, com dois selos de "investment grade" entramos no radar de fundos de pensão pelo mundo que só podem aplicar em mercados com essa característica", afirma Fábio Susteras, economista do Private Bank do banco Real.
"No caso do México, no período que recebeu o "investment grade", houve realmente realização [de lucro] mais forte após a conquista do selo."
Além da queda da Bolsa e da saída de capital externo do pregão brasileiro, o desempenho do risco-país aponta para a liquidação dos ativos nacionais.
O risco-país, medido pelo banco JP Morgan Chase, é calculado a partir de uma cesta de títulos da dívida negociados no mercado internacional. Quando os investidores estão interessados e compram esses títulos, a pontuação do risco diminui. E vice-versa.
E o que tem se visto nas últimas semanas é o risco-país em alta -ou seja, os investidores estão se desfazendo dos títulos brasileiros no exterior.
O risco atingiu sua menor pontuação do ano no começo de junho, quando ficou abaixo de 180 pontos -indicativo de que os papéis brasileiros estavam sendo bem procurados no exterior. Mas o movimento se inverteu, e o risco voltou a subir e superar os 240 pontos.
"Com o atual cenário de crise, os gestores estão rebalanceando suas carteiras. A facilidade de alocação global favorece esses movimentos. O investidor vê que o setor bancário se desvalorizou muito nos EUA, por exemplo, e acaba vendendo ações de bancos aqui para comprar de instituições financeiras americanas", diz José Augusto Miranda, chefe da mesa de operações da HSBC Corretora.

Calmaria no câmbio
Um fator interessante nesse período crítico, bastante diferente de outros momentos de volatilidade no mercado financeiro, é o desempenho do mercado de câmbio.
Apesar de toda a atual turbulência, o dólar não tem se apreciado diante do real. Na sexta-feira, a moeda norte-americana encerrou vendida a R$ 1,602, com depreciação acumulada de 9,85% em 2008.
No mês passado, o dólar desceu à faixa de R$ 1,59, em seu mais baixo patamar desde janeiro de 1999, quando o governo, encurralado pela crise cambial, viu-se obrigado a liberar as cotações da moeda.
Em 2002, quando o mercado enfrentou um período de fortes turbulências, motivadas pelas incertezas dos investidores em relação ao futuro do país, que passava pelas eleições presidenciais que marcaram o fim do governo FHC, o dólar disparou e encostou em R$ 4.


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