São Paulo, Quarta-feira, 14 de Julho de 1999
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ARGENTINA
Deve sair hoje empréstimo para cobrir gasto com aposentado; déficit não subiria, como temia Fernández
Menem tenta evitar atrito com ministro

Reuters - 14.jun.99
Roque Fernández, ministro da Economia da Argentina


ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

Para conter o déficit fiscal neste ano sem maiores custos políticos, o presidente argentino, Carlos Menem, costura acordo que terá impacto no Orçamento do próximo governo.
Hoje deverá ser acertado um empréstimo com bancos privados de US$ 200 milhões para financiar os gastos do Pami, sistema de cobertura médica dos aposentados e pensionistas. A conta terá que ser paga no futuro.
Segundo economistas consultados pela Folha, a decisão aumentará o endividamento do Estado argentino, que é de US$ 112 bilhões, cerca de 38% do PIB (total de riquezas do país).
O empréstimo foi a saída encontrada para que o Tesouro não tivesse que arcar com a crise financeira do sistema este ano. Especulou-se que o ministro da Economia, Roque Fernández, chegou a ameaçar com sua renúncia, caso Menem aprovasse uma transferência de verba para a rede de proteção aos aposentados.
Menem respaldou a posição de Fernández, mas exigiu uma alternativa para cobrir o déficit operacional do Pami, US$ 40 milhões por mês. O presidente argentino não quer arcar com o custo político da deterioração dos serviços médicos no final do mandato.
O ministro, por sua vez, não quer que as demandas sociais prejudiquem a meta de déficit fiscal acertada com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Em maio, Fernández teve que pedir aval ao Fundo para aumentar a meta de déficit por razões parecidas. Na ocasião, manifestações populares obrigaram o governo rever um corte previsto de US$ 150 milhões no orçamento para Educação. A meta com o Fundo passou de US$ 4,95 bilhões, para US$ 5,1 bilhões. O mercado financeiro reagiu mal.
O novo embate também influenciou os mercados financeiros. Na segunda, a Bolsa portenha despencou 8,66%. Segundo analistas, no entanto, a pressão sobre o gasto público não é a única causa para as turbulências no mercado. A recessão argentina, que diminui a arrecadação, e a incertezas sobre as posições políticas dos candidatos à Presidência também deixam o mercado tenso.
Ontem o pregão de Buenos Aires teve um dia mais tranquilo e fechou em alta de 4,59%.
O candidato oficialista, Eduardo Duhalde, também maneirou suas declarações contra o pagamento da dívida externa. No exterior, os principais títulos da dívida subiram entre 1,5% e 2%.
Ontem o governo emitiu US$ 250 milhões em títulos do Tesouro com vencimento em 91 dias pagando juros de 8,95%.


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