São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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LUÍS NASSIF

O FMI e os bancos estrangeiros

Há uma característica nefasta no acordo firmado com o FMI. Na crise da Rússia, houve um acerto prévio entre o FMI e os bancos internacionais que fez com que, junto com o acordo, houvesse a normalização das linhas de crédito ao país.
Desta vez, não. Os financiamentos deveriam ter voltado quase simultaneamente com o anúncio do acordo. Mas o que está ocorrendo é que os bancos estrangeiros estão retirando aceleradamente suas linhas do país. A atual situação de redução das linhas comerciais é inédita na moderna história brasileira.
Em outras crises cambiais isso não aconteceu. Foi o caso dos projetos 3 e 4, que permitiram ao país sair do sufoco na crise cambial do governo Figueiredo e, depois disso, do governo Sarney.
Havia algumas diferenças em relação ao momento atual. Quando ocorreram as negociações, havia ainda de dois a três anos de governo pela frente. Assim, bancos e FMI sabiam com quem estavam negociando. Agora, os acertos terão de ser referendados pelo próximo presidente.
Além disso, na época havia duas figuras fundamentais. De um lado, o diretor-gerente do FMI, De la Rosière, que, extrapolando suas funções, chamou a banca internacional e exigiu a manutenção das linhas comerciais. De outro lado, Bill Rhodes, como o grande interlocutor do lado dos bancos.
Agora o diretor-gerente do Fundo tem pouca estatura política, não há interlocutores do lado da banca e vive-se um momento de transição política no Brasil.
O grande desafio atual é recompor as linhas comerciais do país. O melhor caminho apontado por especialistas é o BC brasileiro assumir linhas de crédito de outros bancos centrais, ou do próprio Fundo, e irrigar o sistema bancário nacional, mediante posterior comprovação de exportação. Como tem poder de fiscalização, verificaria a posteriori os contratos, dando um empurrão no mercado.
A segunda condição é que alguns candidatos a presidente parem com a retórica vazia e comecem a se comportar com responsabilidade.

Não-residentes
O que não se entende é, nesse tiroteio todo, o BC ordenar que todos os não-residentes com ativos no Brasil tirem seu CPF em um prazo de 60 dias. É daquelas medidas certas na hora totalmente imprópria, nos moldes da famosa "marcação de mercado", que deflagrou a atual corrida contra os fundos de investimento.

Fatos e dados
A informação dada por Ciro Gomes na série "Candidatos na Folha" segundo a qual sua gestão foi a responsável pelo maior superávit comercial da história do país não corresponde aos fatos.
Em 1994, de fato, o superávit chegou a US$ 10,5 bilhões. Ocorre que Ciro assumiu o ministério no terceiro trimestre daquele ano. Quando assumiu, o superávit anualizado estava em US$ 14 bilhões. Naquele trimestre, ficou em US$ 4,3 bilhões.
Com sua decisão de ampliar a abertura comercial de forma drástica, já no quarto trimestre houve um déficit de US$ 562 milhões, ou seja, uma reversão de US$ 4,8 bilhões de um trimestre para outro, talvez a maior reversão da história comercial do país.
No trimestre seguinte, o déficit saltou para US$ 2,3 bilhões. No segundo trimestre de 1995, o superávit anual de US$ 14 bilhões estava reduzido a um déficit anual de US$ 537 milhões.
O fim dos superávits comerciais foi comemorado por Ciro em histórico discurso no Encontro Nacional dos Exportadores de 1994.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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