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LUÍS NASSIF
O FMI e os bancos estrangeiros
Há uma característica nefasta no acordo firmado
com o FMI. Na crise da Rússia,
houve um acerto prévio entre o
FMI e os bancos internacionais
que fez com que, junto com o
acordo, houvesse a normalização das linhas de crédito ao país.
Desta vez, não. Os financiamentos deveriam ter voltado
quase simultaneamente com o
anúncio do acordo. Mas o que
está ocorrendo é que os bancos
estrangeiros estão retirando aceleradamente suas linhas do país.
A atual situação de redução das
linhas comerciais é inédita na
moderna história brasileira.
Em outras crises cambiais isso
não aconteceu. Foi o caso dos
projetos 3 e 4, que permitiram ao
país sair do sufoco na crise cambial do governo Figueiredo e, depois disso, do governo Sarney.
Havia algumas diferenças em
relação ao momento atual.
Quando ocorreram as negociações, havia ainda de dois a três
anos de governo pela frente. Assim, bancos e FMI sabiam com
quem estavam negociando. Agora, os acertos terão de ser referendados pelo próximo presidente.
Além disso, na época havia
duas figuras fundamentais. De
um lado, o diretor-gerente do
FMI, De la Rosière, que, extrapolando suas funções, chamou a
banca internacional e exigiu a
manutenção das linhas comerciais. De outro lado, Bill Rhodes,
como o grande interlocutor do
lado dos bancos.
Agora o diretor-gerente do
Fundo tem pouca estatura política, não há interlocutores do lado
da banca e vive-se um momento
de transição política no
Brasil.
O grande desafio atual é recompor as linhas comerciais do
país. O melhor caminho apontado por especialistas é o BC brasileiro assumir linhas de crédito de
outros bancos centrais, ou do
próprio Fundo, e irrigar o sistema bancário nacional, mediante
posterior comprovação de exportação. Como tem poder de fiscalização, verificaria a posteriori
os contratos, dando um empurrão no mercado.
A segunda condição é que alguns candidatos a presidente parem com a retórica vazia e comecem a se comportar com responsabilidade.
Não-residentes
O que não se entende é, nesse tiroteio todo, o BC ordenar que todos os não-residentes com ativos no Brasil tirem seu CPF em um prazo de 60 dias. É daquelas medidas certas na hora totalmente imprópria, nos moldes da
famosa "marcação de mercado", que deflagrou a atual corrida
contra os fundos de investimento.
Fatos e dados
A informação dada por Ciro
Gomes na série "Candidatos na
Folha" segundo a qual sua gestão foi a responsável pelo maior
superávit comercial da história
do país não corresponde aos fatos.
Em 1994, de fato, o superávit
chegou a US$ 10,5 bilhões. Ocorre
que Ciro assumiu o ministério no
terceiro trimestre daquele ano.
Quando assumiu, o superávit
anualizado estava em US$ 14 bilhões. Naquele trimestre, ficou
em US$ 4,3 bilhões.
Com sua decisão de ampliar a
abertura comercial de forma
drástica, já no quarto trimestre
houve um déficit de US$ 562 milhões, ou seja, uma reversão de
US$ 4,8 bilhões de um trimestre
para outro, talvez a maior reversão da história comercial do país.
No trimestre seguinte, o déficit
saltou para US$ 2,3 bilhões. No
segundo trimestre de 1995, o superávit anual de US$ 14 bilhões
estava reduzido a um déficit
anual de US$ 537 milhões.
O fim dos superávits comerciais foi comemorado por Ciro
em histórico discurso no Encontro Nacional dos Exportadores
de 1994.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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