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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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LUÍS NASSIF

Fundos e investimento

Um dos dilemas brasileiros é como financiar o desenvolvimento, quando o espetáculo começar. Existe uma ferramenta preciosa à mão, que poderá ser acionada assim que o país vencer o enorme desafio de inverter o crescimento da dívida pública.
Hoje em dia a relação investimento/PIB é de 16%. A relação dívida interna/PIB é de 52%, por conta das inconsequências da era Pedro Malan. Se a política macroeconômica baixar os juros e conseguir reduzir essa relação para 42% (conforme meta explícita do Banco Central para 2011), ganham-se dez pontos percentuais para investimento. A questão relevante é que não falta poupança interna para financiar o desenvolvimento, só que ela vai inteiramente para financiar a dívida pública. E ela está alocada basicamente na indústria de fundos.
O Brasil tem a maior e mais diversificada indústria de fundos entre todos os países emergentes. Presidente da BB DTVM, Nelson Rocha Augusto lembra que a indústria de fundos brasileira tem ativos no valor de um terço do PIB. Dos R$ 450 bilhões, R$ 350 bilhões estão aplicados em títulos públicos. Só a BB DTVM tem US$ 30 bilhões em ativos, contra US$ 27 bilhões de toda indústria do México.
Depois de passado o susto com a eleição de Lula, a indústria não pára de crescer. Só a BB DTVM aumentou sua captação em R$ 13 bilhões. Hoje em dia esse dinheiro vai para títulos do governo. Bastaria uma redução na oferta dos títulos -por conta da diminuição da dívida pública- para disponibilizar uma dinheirama no mercado, para financiar o desenvolvimento. Os gestores terão que buscar ativos com rentabilidade para substituir títulos públicos. E aí se terá que preparar o ambiente para essa realocação.
É erro pensar que o sistema bancário é quem irá prover recursos para financiar empresas e consumo, diz Nelson. No mundo inteiro, o funding é dado pelos fundos, financiando a produção por meio de debêntures e o consumo por meio de instrumentos como os Fundos de Direitos Creditórios (recebíveis, já regulamentados no Brasil).
A tarefa é começar, agora, a preparar o país para quando o jogo começar a ser jogado.
Há muitos desafios pela frente. Primeiro, a necessidade de alargar o mercado de capitais e mudar a cabeça das empresas nacionais para que abram capital. O segundo, tratar de um conflito de interesse óbvio entre departamentos dos bancos. Quando se coloca a indústria de fundos para financiar o desenvolvimento, tira-se parte da intermediação financeira dos bancos, que descontam duplicata e financiam consumo. Daí a necessidade de regulamentações adequadas e do fortalecimento da CVM, para que amplie seu papel, atualmente meramente fiscalizatório, para o de coordenador de ações visando planos de desenvolvimento.
Mas o caminho das pedras passa por aí se o Banco Central não elevar a dívida pública a níveis sem retorno.

Turismo
Empresários do setor que participaram nesta semana de reunião de planejamento do Ministério do Turismo estão eufóricos com a consistência do plano apresentado. Garantem que vem revolução na área.

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