São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Ministros de Lula atacam bancos privados

Após BB retomar liderança do Itaú Unibanco, Mantega e Bernardo criticam atuação de bancos e declarações de Setubal

Para Mantega, instituições privadas "não contribuem com o crescimento da economia'; Bernardo afirma que Setubal foi "infeliz"

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ministros da área econômica do governo Lula aproveitaram a volta do Banco do Brasil ao primeiro lugar no ranking de maiores bancos do país, como antecipou ontem a Folha, para criticar as instituições privadas e seu maior banqueiro, Roberto Setubal, do Itaú Unibanco.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) pressionou pela redução dos juros dos empréstimos e disse que os bancos que não seguirem a política das instituições públicas de expansão agressiva do crédito após a crise "vão comer poeira". Foi uma resposta à crítica de Setubal de que as taxas cobradas pelos bancos públicos são insustentáveis. "O presidente do Itaú se equivocou. Ele não esperou o resultado do BB, falou antes e cometeu uma falácia, um erro grave. Se eles [bancos privados] não seguirem o exemplo, vão começar a comer poeira dos bancos públicos."
Desde o agravamento da crise, em setembro, bancos e governo estão em conflito. Num primeiro momento, as instituições privadas reduziram a oferta de crédito, como ocorreu em todo o mundo, enquanto o governo usou os bancos públicos para irrigar a economia, elevando sua fatia no crédito total. Mantega também substituiu o presidente do BB para garantir que a instituição acelerasse a queda nos juros e elevasse o volume de financiamentos oferecidos. O então presidente, Antonio Lima Neto, que defendia maior prudência na redução dos juros, perdeu o cargo para Aldemir Bendine em abril.
Após assumir, Bendine disse mais de uma vez que o banco, sendo público, não poderia se comportar como uma instituição privada. Os bancos públicos também tornaram-se agentes do governo em programas como o Minha Casa, Minha Vida, que promete construir 1 milhão de casas. O BB, que nunca atuou na venda de imóveis para a baixa renda, entrou no programa, e a Caixa, tradicional nesse mercado, tornou-se o principal agente do programa. O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) também reagiu, com ironia, às declarações de Setubal. "Quem sabe os bancos privados não se unem para definir uma taxa única para todo o setor?", disse Bernardo ontem, na Costa do Sauípe. Bernardo classificou o comentário de Setubal como "infeliz": "Setubal descuidou-se com o que estava dizendo. Todos sabemos que temos as taxas de juros mais altas do mundo. Temos é que aumentar a concorrência para reduzir mais ainda os juros".
Mantega justificou que o aumento do lucro do BB foi puxado pelo crédito. Segundo ele, o BB optou por oferecer mais crédito com juros menores, enquanto os bancos privados reduziram o volume de empréstimos e elevaram os juros e os "spreads" (diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada nos empréstimos que concedem). "Os bancos privados estão equivocados [ao aumentar os juros]. Eles não contribuem com o crescimento da economia", disse Mantega. Segundo ele, a redução dos "spreads" pelos bancos públicos foi feita de maneira responsável, tanto que o lucro do BB cresceu. Para ele, o governo conseguiu usar o banco para fazer políticas públicas de oferta de crédito e, ao mesmo tempo, deixou os acionistas satisfeitos.
"É uma política de gestão, eles [bancos privados] acham melhor emprestar menos e cobrar mais do cliente", disse à noite, durante evento com empresários em São Paulo. Mas o ministro não mencionou que, em caso de alta na inadimplência, o BB terá mais prejuízo do que os que restringiram a oferta de crédito durante a crise. Quando criticou a política de redução dos "spreads" bancários na semana passada, Setubal disse que o desempenho dos bancos públicos vai piorar no futuro se mantiverem os "spreads" mais baixos.


Com SAMANTHA LIMA e DENYSE GODOY


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