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Ministros de Lula atacam bancos privados
Após BB retomar liderança do Itaú Unibanco, Mantega e Bernardo criticam atuação de bancos e declarações de Setubal
Para Mantega, instituições privadas "não contribuem com o crescimento da economia'; Bernardo afirma que Setubal foi "infeliz"
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ministros da área econômica
do governo Lula aproveitaram
a volta do Banco do Brasil ao
primeiro lugar no ranking de
maiores bancos do país, como
antecipou ontem a Folha, para
criticar as instituições privadas
e seu maior banqueiro, Roberto Setubal, do Itaú Unibanco.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) pressionou pela redução dos juros dos empréstimos e disse que os bancos que
não seguirem a política das instituições públicas de expansão
agressiva do crédito após a crise "vão comer poeira".
Foi uma resposta à crítica de
Setubal de que as taxas cobradas pelos bancos públicos são
insustentáveis. "O presidente
do Itaú se equivocou. Ele não
esperou o resultado do BB, falou antes e cometeu uma falácia, um erro grave. Se eles [bancos privados] não seguirem o
exemplo, vão começar a comer
poeira dos bancos públicos."
Desde o agravamento da crise, em setembro, bancos e governo estão em conflito. Num
primeiro momento, as instituições privadas reduziram a oferta de crédito, como ocorreu em
todo o mundo, enquanto o governo usou os bancos públicos
para irrigar a economia, elevando sua fatia no crédito total.
Mantega também substituiu
o presidente do BB para garantir que a instituição acelerasse
a queda nos juros e elevasse o
volume de financiamentos oferecidos. O então presidente,
Antonio Lima Neto, que defendia maior prudência na redução dos juros, perdeu o cargo
para Aldemir Bendine em abril.
Após assumir, Bendine disse
mais de uma vez que o banco,
sendo público, não poderia se
comportar como uma instituição privada.
Os bancos públicos também
tornaram-se agentes do governo em programas como o Minha Casa, Minha Vida, que promete construir 1 milhão de casas. O BB, que nunca atuou na
venda de imóveis para a baixa
renda, entrou no programa, e a
Caixa, tradicional nesse mercado, tornou-se o principal agente do programa.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) também reagiu, com ironia, às declarações
de Setubal. "Quem sabe os bancos privados não se unem para
definir uma taxa única para todo o setor?", disse Bernardo
ontem, na Costa do Sauípe.
Bernardo classificou o comentário de Setubal como "infeliz": "Setubal descuidou-se
com o que estava dizendo. Todos sabemos que temos as taxas de juros mais altas do mundo. Temos é que aumentar a
concorrência para reduzir mais
ainda os juros".
Mantega justificou que o aumento do lucro do BB foi puxado pelo crédito. Segundo ele, o
BB optou por oferecer mais
crédito com juros menores, enquanto os bancos privados reduziram o volume de empréstimos e elevaram os juros e os
"spreads" (diferença entre os
juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado
e a taxa cobrada nos empréstimos que concedem).
"Os bancos privados estão
equivocados [ao aumentar os
juros]. Eles não contribuem
com o crescimento da economia", disse Mantega.
Segundo ele, a redução dos
"spreads" pelos bancos públicos foi feita de maneira responsável, tanto que o lucro do BB
cresceu. Para ele, o governo
conseguiu usar o banco para fazer políticas públicas de oferta
de crédito e, ao mesmo tempo,
deixou os acionistas satisfeitos.
"É uma política de gestão, eles
[bancos privados] acham melhor emprestar menos e cobrar
mais do cliente", disse à noite,
durante evento com empresários em São Paulo.
Mas o ministro não mencionou que, em caso de alta na inadimplência, o BB terá mais prejuízo do que os que restringiram a oferta de crédito durante
a crise. Quando criticou a política de redução dos "spreads"
bancários na semana passada,
Setubal disse que o desempenho dos bancos públicos vai
piorar no futuro se mantiverem os "spreads" mais baixos.
Com SAMANTHA LIMA e DENYSE GODOY
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