São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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LUÍS NASSIF

A hora do turismo

Um dos poucos trabalhos sistemáticos de administração pública, conduzidos ao longo dos últimos anos, tem sido no âmbito da Embratur. Um planejamento bem conduzido levou à criação de uma estrutura de agentes de turismo municipais e a uma série de iniciativas visando consolidar a cultura de turismo no âmbito dos municípios.
A política cambial dos últimos anos impediu o florescimento desse turismo interno, por tornar as viagens ao exterior muito mais competitivas. Mesmo assim, permitiu alguns números expressivos. A Organização Mundial de Turismo estima que o turismo, no Brasil, é atividade de US$ 38 bilhões de faturamento direto e indireto. Recolhe US$ 7 bilhões de impostos diretos e indiretos. É responsável por 5 milhões de empregos, 4,8 milhões de turistas estrangeiros, 38,2 milhões de turistas domésticos, US$ 3,6 bilhões de ingressos de divisas e US$ 13,2 bilhões de receitas diretas com o turismo interno.
O grande desafio será acelerar as mudanças culturais nos municípios, para que se preparem para os novos tempos.
Diretor-Geral de Hotelaria Accor do Brasil, o francês naturalizado brasileiro Roland Bonadona tem experiência internacional e uma visão muito clara sobre como os municípios deveriam atuar na promoção do turismo interno.
Para ele, a grande meta nacional deveria ser estimular o turismo interno. O turismo de lazer ainda é incipiente. 90% desse turismo se hospeda em casa de amigos e familiares e em sítios.
Em geral, existem três grandes grupos de turismo de lazer. Existe o turismo cultural, mais aprimorado na Europa. Em geral, é turismo de casal.
O segundo grupo é o de compra e entretenimento, do qual o exemplo mais ostensivo é Miami. É turismo de família.
O terceiro grupo é o de balneário, de descanso, e o exemplo melhor é o Caribe.
Nesse turismo de balneário, o Brasil ou tem praias, ou festas. Festas têm apelo relevante, e podem se constituir em bom diferencial. Recife, São Luís e Salvador, por exemplo, têm bom potencial para turismo cultural. O restante do Nordeste é commoditie, apenas praias e dunas -existentes em outras partes do mundo. Na Flórida, além das praias, existem campos de golfe. Na Riviera francesa, campos de golfe e cassinos.
Na França, as cidades passaram a se organizar para fazer o marketing do turismo.
O primeiro passo é identificar a marca do turismo local. Em alguns lugares, existem águas quentes -atenção, Poços de Caldas, o turismo termal está em franca expansão na Europa. Em outros, esportes náuticos, em mares ou rios. O importante é criar a marca.
O gasto na promoção tem que ser da prefeitura, coordenando as forças econômicas da cidade. E é fundamental o bom planejamento.
Antes, via-se o turismo como um produto, um bom hotel, uma temporada. Hoje, é muito mais que isso, é um estado de espírito. A meta de todo plano turístico é tornar a estada do turista inesquecível. Para tanto, há a necessidade de eventos, envolvimento da população local, bom atendimento por parte dos funcionários, da alfândega, até de motoristas de táxi e a criação de um clima todo especial. A idéia -especialmente do turismo balneário- é poder se tratar, como num spa, mas sem isolamento.
Na França, esse tipo de turismo é financiado, em parte, pela Previdência Pública, pois significa redução do índice de doenças.
Além disso, na hora de montar um plano turístico, e pacotes, a cidade tem que fechar compromissos com operadores, como transparência nos preços, não ter overbook etc.
Outro ponto relevante é a continuidade nas políticas públicas. Na Bahia, o plano turístico foi integrado e teve continuidade, assim como no Ceará. Já Pernambuco, que possui enorme potencial para turismo cultural e musical, não teve a mesma sorte. A cada seis meses mudava tudo. Culminou com o governo Arraes, para quem turismo era diversão de classe rica.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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