São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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Ministro da Agricultura diz que IBGE errou

Stephanes afirma que crescimento de 0,2% do setor no 2º trimestre foi subestimado e questiona a metodologia do órgão

Segundo o IBGE, números divulgados estão corretos; segundo ministro, instituto prevê crescimento de 6,5% para o setor neste ano

SHEILA D'AMORIM
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A divulgação do resultado da produção nacional entre abril e junho deste ano gerou um atrito entre o IBGE -órgão vinculado ao Ministério do Planejamento e responsável pela pesquisa- e o Ministério da Agricultura. Para o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura), o instituto "errou" ao calcular um crescimento pífio de 0,2% do setor no segundo trimestre do ano em comparação com o período de janeiro a março.
"Tivemos aumento na safra de trigo, de cereais -o que o IBGE concorda. Tivemos aumento na safra de açúcar e de álcool, de 11,3%. Então, como o PIB dá 0,2%? Não sei. Qual é a explicação? Ninguém consegue explicar essa informação que se tornou pública", disse ele à Folha.
O ministro baseou suas críticas num documento do próprio IBGE, intitulado "Sumário executivo", que tinha em mãos. Rebateu ponto a ponto as possibilidades levantadas, numa conversa preliminar que sua assessoria teve com técnicos do IBGE para tratar do resultado.
Stephanes mobilizou seus assessores logo após a divulgação oficial dos dados do PIB na manhã de quarta-feira. Relata que falou com o presidente do instituto, que lhe prometeu esclarecimentos. À noite, ainda não tinha conseguido uma explicação. Indignado, reagiu: "Acho que há um erro ali. [O crescimento de 0,2] evidentemente contradiz todos os dados aqui".
A argumentação do IBGE repassada ao ministro de que a contribuição da agricultura para o PIB do trimestre poderia ter sido influenciada negativamente pela queda na produção do café, da silvicultura e da pesca e pela estagnação da pecuária não o convenceu.
"O café não tem um peso tão alto assim. E a pesca não tem um peso tão alto. O que significa a pesca no Brasil? A carne, se não diminuiu o consumo interno e aumentou a exportação em quase 20%, de onde saiu essa carne? Então, tem algo totalmente errado aí", reagiu.
Especialistas do ministério chegaram a questionar a capacidade técnica de quem redigiu a nota divulgada pelo IBGE. Alegaram que poderia ter sido alguém que não entendia do assunto e fez confusão.

IBGE
Procurado pela Folha, o IBGE informou por meio da sua assessoria de imprensa que os números estão corretos. Disse que prestou os esclarecimentos e que o ministro se deu por satisfeito. A polêmica, no entanto, só foi resolvida no início da noite. Quando, de acordo com sua assessoria, Stephanes recebeu fax enviado pelo IBGE.
Segundo o ministro, o IBGE reafirmou o 0,2% divulgado na quarta-feira, mas argumentou que o PIB agrícola cresceu 6,6% no acumulado de 12 meses terminados em junho e disse que a estimativa é de aumento de 6,5% para 2007.
Os números -que, segundo Stephanes, não tinham sido divulgados- estão em linha com as projeções do ministério. Mas, ainda assim, não amenizaram as críticas. "A metodologia do IBGE não é adequada para a agricultura. Não se pode medir o setor agrícola como se fosse a indústria que produz todos os meses. A agricultura tem períodos de produção, e comparar trimestre contra trimestre não funciona."


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