São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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Greenspan diz que viu crise só no final de seu mandato

Para ele, Bernanke, seu sucessor no Fed, está fazendo um trabalho "excelente"

Ele disse não ter certeza se faria algo diferente no comando do BC dos EUA e que inflação hoje não permite "agir sem medo"

DA REDAÇÃO

Alan Greenspan, que presidiu o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) de 1987 a 2006, afirmou que só reconheceu no final do seu mandato os riscos que o mercado de crédito imobiliário de alto risco, considerado o estopim da turbulência atual nas Bolsas mundiais, poderia trazer para a economia americana. Ele também elogiou o trabalho de seu sucessor no organismo, Ben Bernanke.
Greenspan disse que estava "ciente" dos problemas no setor de "subprime", crédito de alto risco para pessoas com histórico financeiro ruim que agora têm dificuldades para honrar o compromisso.
"Eu estava ciente de que essas práticas estavam acontecendo, mas só fui ter noção de quão significativas elas eram quando já era muito tarde", afirmou em entrevista ao programa "60 Minutes", da TV CBS, que vai ao ar nos EUA neste final de semana.
"Eu não tinha noção [do problema] até o final de 2005 e [começo de] 2006", disse Greenspan.

Bernanke
Sobre a atuação de Bernanke na condução da turbulência nas Bolsas, iniciada em julho, Greenspan -que atualmente trabalha como consultor em várias instituições financeiras, como o Deutsche Bank- afirmou que seu sucessor está fazendo um "excelente" trabalho. Questionado se teria agido de modo mais agressivo que Bernanke, cortando os juros básicos, respondeu "não ter certeza se faria algo diferente".
Em 1998, Greenspan reduziu por três vezes as taxas de juros depois que o calote da dívida pela Rússia repercutiu em todos os mercados mundiais.
Segundo ele, o ambiente inflacionário na sua época era mais favorável que agora, tornando menos arriscado o corte na taxa de juros. "Nós podíamos agir sem o medo de criar pressões inflacionárias. Você não pode mais fazer isso agora."
O Fed se reúne na semana que vem para decidir se corta a taxa básica de juros dos EUA, que está em 5,25% desde meados do ano passado. Na semana passada, o BCE (Banco Central Europeu) e o BC britânico decidiram manter suas taxas. Antes do início da instabilidade nos mercados, em julho, as duas instituições sinalizavam que aumentariam seus juros.

Críticas
Greenspan também respondeu aos críticos que o acusam de ter mantido por muito tempo a taxa de juros muito baixa no começo da década, período em o mercado imobiliário americano viveu enorme expansão, que se encerrou no ano passado e hoje é um dos grandes temores das autoridades econômicas do país.
"Eles estão enganados. Era o nosso trabalho descongelar o sistema bancário americano se quiséssemos que a economia funcionasse. Isso exigia que mantivéssemos os juros modestamente baixos", afirmou o ex-presidente do Fed, que lança na próxima segunda-feira o livro "A Era da Turbulência".
No comando de Greenspan, o banco central americano manteve entre 2001 e 2003 a taxa de juros em seu menor nível em décadas, em uma tentativa de ajudar a economia do país, que viveu um período de recessão, bolha nas Bolsas, ataques terroristas e escândalos financeiros como o da Enron.
Analistas afirmam que os juros baixos impulsionaram o boom no mercado imobiliário dos Estados Unidos.


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