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Greenspan diz que viu crise só no final de seu mandato
Para ele, Bernanke, seu sucessor no Fed, está fazendo um trabalho "excelente"
Ele disse não ter certeza se faria algo diferente no comando do BC dos EUA e que inflação hoje não permite "agir sem medo"
DA REDAÇÃO
Alan Greenspan, que presidiu o Fed (Federal Reserve, o
BC dos EUA) de 1987 a 2006,
afirmou que só reconheceu no
final do seu mandato os riscos
que o mercado de crédito imobiliário de alto risco, considerado o estopim da turbulência
atual nas Bolsas mundiais, poderia trazer para a economia
americana. Ele também elogiou o trabalho de seu sucessor
no organismo, Ben Bernanke.
Greenspan disse que estava
"ciente" dos problemas no setor de "subprime", crédito de
alto risco para pessoas com histórico financeiro ruim que agora têm dificuldades para honrar
o compromisso.
"Eu estava ciente de que essas práticas estavam acontecendo, mas só fui ter noção de
quão significativas elas eram
quando já era muito tarde",
afirmou em entrevista ao programa "60 Minutes", da TV
CBS, que vai ao ar nos EUA neste final de semana.
"Eu não tinha noção [do problema] até o final de 2005 e [começo de] 2006", disse Greenspan.
Bernanke
Sobre a atuação de Bernanke
na condução da turbulência nas
Bolsas, iniciada em julho,
Greenspan -que atualmente
trabalha como consultor em
várias instituições financeiras,
como o Deutsche Bank- afirmou que seu sucessor está fazendo um "excelente" trabalho.
Questionado se teria agido de
modo mais agressivo que Bernanke, cortando os juros básicos, respondeu "não ter certeza
se faria algo diferente".
Em 1998, Greenspan reduziu
por três vezes as taxas de juros
depois que o calote da dívida
pela Rússia repercutiu em todos os mercados mundiais.
Segundo ele, o ambiente inflacionário na sua época era
mais favorável que agora, tornando menos arriscado o corte
na taxa de juros. "Nós podíamos agir sem o medo de criar
pressões inflacionárias. Você
não pode mais fazer isso agora."
O Fed se reúne na semana
que vem para decidir se corta a
taxa básica de juros dos EUA,
que está em 5,25% desde meados do ano passado. Na semana
passada, o BCE (Banco Central
Europeu) e o BC britânico decidiram manter suas taxas. Antes
do início da instabilidade nos
mercados, em julho, as duas
instituições sinalizavam que
aumentariam seus juros.
Críticas
Greenspan também respondeu aos críticos que o acusam
de ter mantido por muito tempo a taxa de juros muito baixa
no começo da década, período
em o mercado imobiliário americano viveu enorme expansão,
que se encerrou no ano passado
e hoje é um dos grandes temores das autoridades econômicas do país.
"Eles estão enganados. Era o
nosso trabalho descongelar o
sistema bancário americano se
quiséssemos que a economia
funcionasse. Isso exigia que
mantivéssemos os juros modestamente baixos", afirmou o
ex-presidente do Fed, que lança na próxima segunda-feira o
livro "A Era da Turbulência".
No comando de Greenspan, o
banco central americano manteve entre 2001 e 2003 a taxa de
juros em seu menor nível em
décadas, em uma tentativa de
ajudar a economia do país, que
viveu um período de recessão,
bolha nas Bolsas, ataques terroristas e escândalos financeiros como o da Enron.
Analistas afirmam que os juros baixos impulsionaram o
boom no mercado imobiliário
dos Estados Unidos.
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