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"Recessão nos EUA é inevitável", afirma "pai" do Consenso de Washington
DO ENVIADO A WASHINGTON
O economista britânico John
Williamson, 71, criador do termo Consenso de Washington,
diz ser inevitável uma recessão
nos Estados Unidos.
Ele afirma que ficará "surpreso" se o nível de desemprego nacional (de 6,1%) não superar os 7,7% registrados na Califórnia, Estado onde os efeitos
do estouro da bolha imobiliária
foram sentidos bem antes do
que no resto do país.
"O que estamos vendo são as
conseqüências do modo como
os Estados Unidos vem se comportando há vários anos", afirma Williamson ao se referir ao
forte endividamento das famílias e dos bancos, e que agora
atingirá o governo para resgatar o sistema.
O Consenso de Washington
designava uma série de recomendações liberais dos principais órgãos financeiros dos Estados Unidos para os países latino-americanos. Foi criado
por Williamson em novembro
de 1989, durante um seminário
na capital norte-americana.
Leia a entrevista à Folha.
(FERNANDO CANZIAN)
FOLHA - O sr. acredita que os Estados Unidos estejam mesmo a caminho de uma recessão? A expectativa
é que o consumo caia fortemente
em função do grande endividamento das famílias e dos bancos, não?
JOHN WILLIAMSON - Creio que seja absolutamente inevitável
uma recessão. O que não sabemos ainda é se será uma forte
e rápida recessão, ou alguma
coisa bem mais prolongada. Eu
ainda estou otimista em acreditar que ela será forte e curta.
Mas o fato é que ninguém consegue prever isso direito agora.
Espero que as medidas que vêm
sendo tomadas neste momento
pelos bancos centrais de todo
o mundo confirmem minha
previsão.
FOLHA - A Califórnia foi o primeiro
Estado dos Estados Unidos a passar
pela bolha imobiliária e onde ela
também explodiu primeiro. A taxa
de desemprego lá hoje é de 7,7%,
bem acima da média nacional, de
6,6%. Essa pode ser a realidade para
todo o país daqui a algum tempo?
WILLIAMSON - Sim, acredito nisso. Ficarei até muito surpreso
se o nível de desemprego geral
não ficar ainda acima de 7,7%.
Creio que muitos Estados já estão seguindo o mesmo caminho da Califórnia em vários aspectos, não apenas no que se
refere ao desemprego (assim
como o Estado da Costa Oeste
norte-americana, vários outros
têm anunciado dificuldades no
Orçamento e para refinanciar
suas dívidas).
FOLHA - Como o sr. avalia as medidas que o Fed [o banco central norte-americano] e o Tesouro estão tomando? Na prática, vão acabar aumentando a dívida pública e o déficit do país. Além das famílias e dos
bancos, é o governo quem se endivida agora. Quais as conseqüências?
WILLIAMSON - O que estamos
vendo são as conseqüências do
modo como os Estados Unidos
vem se comportando há anos. E
acho que isso vai mudar. Nunca
o país viu uma mudança e uma
alteração tão grande na situação financeira das famílias como nos últimos dois meses, e
isso já está impactando no consumo e na economia como um
todo. É o início de uma tendência que vai se aprofundar mais
para frente. O governo, por seu
lado, agora vai mais fundo ainda no endividamento. Mas isso
é para salvar as coisas no curto
prazo, pois tem de haver uma
determinação de que o endividamento não se torne algo permanente. As pessoas que vão
pagar essa conta serão as pessoas que têm o dinheiro. Assumindo que [Barack] Obama seja eleito em novembro, e esse
parece ser o cenário mais provável hoje, creio que ele irá promover um forte aumento de
impostos sobre os mais ricos e
pessoas que ganham muito, e o
número deles e seus rendimentos aumentaram rapidamente
nos últimos anos.
FOLHA - O sr. vê o risco de os Estados Unidos serem obrigados a elevar os juros para atrair o dinheiro
que financiará todo esse resgate,
piorando a recessão?
WILLIAMSON - No curto prazo as
taxas de juros tendem a cair,
pois há uma fuga de capitais em
direção à segurança (o que acaba empurrando para baixo a remuneração dos títulos do Tesouro). Depois, o Fed terá de
avaliar melhor a situação. Mas
creio que o maior incentivo para colocar ou não dinheiro nos
Estados Unidos virá da taxa de
câmbio, e ele não será grande,
pois o dólar tende a continuar
muito fraco.
FOLHA - O presidente George W.
Bush foi sábado à reunião do G20,
no FMI, pela primeira vez. O sr. diria
que ele foi atrás das reservas de US$
9 trilhões dos emergentes?
WILLIAMSON - Foi um reconhecimento do governo americano
de que o país precisa de uma
resposta global a esse problema. Mas... sim.
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