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FIM DE CASO
Siderúrgica anglo-holandesa alega "incertezas" para encerrar negociações; união abriria espaço para brasileira
Corus cancela acordo de fusão com a CSN
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL
A companhia siderúrgica anglo-holandesa Corus cancelou anteontem a fusão que negociava
desde julho com a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Segundo a empresa, apesar dos
"fortes argumentos em favor da
fusão", o negócio não seria fechado dadas as "incertezas no setor e
no mercado financeiro internacional". O fim do acordo, diz Benjamin Steinbruch, presidente da
CSN, não era esperado, mas não
chegou a ser uma surpresa.
Além do fim da fusão, a Corus
ainda anunciou que sua previsão
de recuperação no mercado está
mais lenta do que o esperado.
Numa demonstração de que o
mercado avalia como ruim para a
Corus o fim do negócio, as ações
da empresa caíram 27,3% ontem
na Bolsa de Londres, para 34 libras esterlinas. Já as ações da CSN
subiram na Bovespa, fechando
cotadas a R$ 40,75, com alta de
5% em relação ao dia anterior.
Em telefonema a Steinbruch, às
19h de terça-feira, o presidente da
Corus, Brian Moffat, disse que estava cancelando a fusão. A decisão havia sido tomada horas antes, durante uma reunião da diretoria da empresa.
O negócio seria interessante para a empresa brasileira pois iria
ampliar e abrir caminhos para os
mercados norte-americano e europeu, onde a Corus tem bom espaço. Por outro lado, para a empresa anglo-holandesa, a fusão
com a CSN seria uma forma de se
beneficiar da grande eficiência e
do baixo custo operacional da
brasileira.
Segundo Steinbruch, os termos
do memorando de entendimento
estipulavam que as duas empresas deveriam terminar 2002 com
seus resultados zerados -ou seja,
sem contabilizar prejuízo bruto.
Para 2003, a meta era que cada
uma delas fechasse o ano com lucro bruto de US$ 2 milhões.
A CSN, que anunciou ontem
seus resultados no terceiro trimestre, tinha, até 30 de setembro,
prejuízo líquido de R$ 577 milhões e, de acordo com os números melhores, apesar de prejuízos,
dos últimos dois trimestres, poderia atingir ou ficar perto da meta.
Já a Corus, que afirmava que iria
atingir a meta acordada, revelou
que, na realidade, deve fechar o
ano com prejuízo bruto de US$
500 milhões.
Para o presidente da CSN, há
duas hipóteses para explicar o
cancelamento da fusão. Uma delas é algum problema financeiro
na empresa -que, segundo ele,
pode até mesmo ser passageiro-
, que teria levado a diretoria da
Corus a reavaliar o negócio. Outra
hipótese seria um desencontro
entre as cúpulas da empresa na
Holanda e na Inglaterra, que acabou emperrando o negócio.
De qualquer forma, caso a Corus feche realmente o ano com
prejuízo de US$ 500 milhões, diz
Steinbruch, a empresa ficaria em
posição desfavorável para cumprir o cronograma da fusão. Isso
porque estava agendado para o
fim deste ano o cálculo de participações das duas empresas na
companhia resultante da fusão,
de acordo com o resultado de cada uma no ano. O prejuízo afetaria bastante o valor da Corus, prejudicando-a na hora da divisão.
Por isso, a CSN diz acreditar que
a empresa estrangeira tenha decidido não renovar o memorando
de entendimento, o que seria realizado no dia 15 de dezembro, para não perder espaço no controle
da operação depois da fusão.
Steinbruch, porém, diz acreditar que a Corus não tenha descartado completamente a fusão.
"O problema pode ser apenas
momentâneo na Corus e, eles melhorando [os resultados do balanço], acredito que poderão voltar a
discutir a fusão", disse ele. "Para
mim, o negócio seria muito bom e
continua fazendo sentido."
A Corus, segundo o presidente
da CSN, se prontificou a enviar
uma equipe ao Brasil na semana
que vem para explicar em detalhes os motivos do fim da fusão. A
vinda do grupo, porém, ainda não
está confirmada, pois a CSN ainda
avalia se isso será necessário.
O "plano B" de operação da
CSN, agora sem a fusão com a Corus, é permanecer sozinha no
mercado, diz Steinbruch.
Resultados
Os resultados da CSN no terceiro trimestre foram divulgados ao
mercado ontem à tarde. A receita
líquida da empresa foi de R$ 1,2
bilhão no terceiro trimestre -aumento de 64% em relação aos três
meses anteriores. No acumulado
do ano, o crescimento contra 2001
foi de 31%, chegando a R$ 3,1 bilhões. O prejuízo líquido foi de R$
179 milhões no trimestre, chegando a R$ 577 milhões no acumulado do ano até setembro. O principal motivo para o prejuízo foi a
desvalorização do real em relação
ao dólar, segundo a CSN.
O melhor resultado, porém, é o
da dívida líquida da empresa, que
foi reduzida em US$ 700 milhões
entre o fim de 2001 e 30 de setembro deste ano. Atualmente, a dívida da CSN é de US$ 1,4 bilhão.
A meta é, até o fim do ano, dever
menos do que duas vezes o lucro
bruto registrado. Caso isso seja
conseguido, a empresa terá a melhor relação dívida/lucro bruto no
setor siderúrgico mundial.
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