São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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FIM DE CASO

Siderúrgica anglo-holandesa alega "incertezas" para encerrar negociações; união abriria espaço para brasileira

Corus cancela acordo de fusão com a CSN

JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

A companhia siderúrgica anglo-holandesa Corus cancelou anteontem a fusão que negociava desde julho com a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Segundo a empresa, apesar dos "fortes argumentos em favor da fusão", o negócio não seria fechado dadas as "incertezas no setor e no mercado financeiro internacional". O fim do acordo, diz Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, não era esperado, mas não chegou a ser uma surpresa.
Além do fim da fusão, a Corus ainda anunciou que sua previsão de recuperação no mercado está mais lenta do que o esperado.
Numa demonstração de que o mercado avalia como ruim para a Corus o fim do negócio, as ações da empresa caíram 27,3% ontem na Bolsa de Londres, para 34 libras esterlinas. Já as ações da CSN subiram na Bovespa, fechando cotadas a R$ 40,75, com alta de 5% em relação ao dia anterior.
Em telefonema a Steinbruch, às 19h de terça-feira, o presidente da Corus, Brian Moffat, disse que estava cancelando a fusão. A decisão havia sido tomada horas antes, durante uma reunião da diretoria da empresa.
O negócio seria interessante para a empresa brasileira pois iria ampliar e abrir caminhos para os mercados norte-americano e europeu, onde a Corus tem bom espaço. Por outro lado, para a empresa anglo-holandesa, a fusão com a CSN seria uma forma de se beneficiar da grande eficiência e do baixo custo operacional da brasileira.
Segundo Steinbruch, os termos do memorando de entendimento estipulavam que as duas empresas deveriam terminar 2002 com seus resultados zerados -ou seja, sem contabilizar prejuízo bruto. Para 2003, a meta era que cada uma delas fechasse o ano com lucro bruto de US$ 2 milhões.
A CSN, que anunciou ontem seus resultados no terceiro trimestre, tinha, até 30 de setembro, prejuízo líquido de R$ 577 milhões e, de acordo com os números melhores, apesar de prejuízos, dos últimos dois trimestres, poderia atingir ou ficar perto da meta. Já a Corus, que afirmava que iria atingir a meta acordada, revelou que, na realidade, deve fechar o ano com prejuízo bruto de US$ 500 milhões.
Para o presidente da CSN, há duas hipóteses para explicar o cancelamento da fusão. Uma delas é algum problema financeiro na empresa -que, segundo ele, pode até mesmo ser passageiro- , que teria levado a diretoria da Corus a reavaliar o negócio. Outra hipótese seria um desencontro entre as cúpulas da empresa na Holanda e na Inglaterra, que acabou emperrando o negócio.
De qualquer forma, caso a Corus feche realmente o ano com prejuízo de US$ 500 milhões, diz Steinbruch, a empresa ficaria em posição desfavorável para cumprir o cronograma da fusão. Isso porque estava agendado para o fim deste ano o cálculo de participações das duas empresas na companhia resultante da fusão, de acordo com o resultado de cada uma no ano. O prejuízo afetaria bastante o valor da Corus, prejudicando-a na hora da divisão.
Por isso, a CSN diz acreditar que a empresa estrangeira tenha decidido não renovar o memorando de entendimento, o que seria realizado no dia 15 de dezembro, para não perder espaço no controle da operação depois da fusão.
Steinbruch, porém, diz acreditar que a Corus não tenha descartado completamente a fusão.
"O problema pode ser apenas momentâneo na Corus e, eles melhorando [os resultados do balanço], acredito que poderão voltar a discutir a fusão", disse ele. "Para mim, o negócio seria muito bom e continua fazendo sentido."
A Corus, segundo o presidente da CSN, se prontificou a enviar uma equipe ao Brasil na semana que vem para explicar em detalhes os motivos do fim da fusão. A vinda do grupo, porém, ainda não está confirmada, pois a CSN ainda avalia se isso será necessário.
O "plano B" de operação da CSN, agora sem a fusão com a Corus, é permanecer sozinha no mercado, diz Steinbruch.

Resultados
Os resultados da CSN no terceiro trimestre foram divulgados ao mercado ontem à tarde. A receita líquida da empresa foi de R$ 1,2 bilhão no terceiro trimestre -aumento de 64% em relação aos três meses anteriores. No acumulado do ano, o crescimento contra 2001 foi de 31%, chegando a R$ 3,1 bilhões. O prejuízo líquido foi de R$ 179 milhões no trimestre, chegando a R$ 577 milhões no acumulado do ano até setembro. O principal motivo para o prejuízo foi a desvalorização do real em relação ao dólar, segundo a CSN.
O melhor resultado, porém, é o da dívida líquida da empresa, que foi reduzida em US$ 700 milhões entre o fim de 2001 e 30 de setembro deste ano. Atualmente, a dívida da CSN é de US$ 1,4 bilhão.
A meta é, até o fim do ano, dever menos do que duas vezes o lucro bruto registrado. Caso isso seja conseguido, a empresa terá a melhor relação dívida/lucro bruto no setor siderúrgico mundial.


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