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São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

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CAMPANHA DE NATAL

Vice de Lula diz que população deve resistir aos financiamentos para fugir dos juros altos

Comprem apenas à vista, pede Alencar

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O vice-presidente da República, José Alencar, na sua cruzada pela queda dos juros, disse ontem que a população deve "resistir" comprando à vista ou financiando apenas as compras "essenciais". O objetivo, segundo ele, é evitar que o sistema financeiro se beneficie com a venda financiada no comércio.
"Temos que nos liberar desse regime de juros, e toda a sociedade pode colaborar com isso resistindo", disse o vice de Lula, após participar da abertura de um seminário em Belo Horizonte sobre o comércio entre o Brasil e a China.
Questionado se a forma de a população reagir neste final de ano seria não comprar, Alencar disse: "Comprar à vista". Diante da colocação de que as pessoas não têm dinheiro para comprar à vista e que muitas estão desempregadas, ele completou: "Quando for o essencial, vamos ter que comprar [financiado]".
E acrescentou: "Agora, o que vamos fazer? Eu tenho que dizer isso, infelizmente. Gostaria de dizer o contrário: comprar, comprar, comprar. O Brasil precisa consumir muito para promover o desenvolvimento, mas, para isso, tem que haver consumo. Tem que haver consumo com capacidade de evitar que haja transferência da renda para o setor financeiro".
Alencar disse que, mesmo que a taxa básica de juros, determinada pelo Banco Central, seja fixada em 3% ao ano, "não acontece nada". Ou seja, os juros no mercado, de acordo com sua análise, continuariam altos.
"Temos que formar opinião para que o governo tenha força para conseguir isso [a queda dos juros de mercado]", disse. E citou um comercial que usa repetidas vezes a palavra "experimenta": "Vamos experimentar dizer contra esses juros".
Alencar apelou também para os empresários resistirem. "Vamos procurar, por exemplo, crescer os nossos negócios apenas com os recursos próprios gerados por eles [empresários]. Porque, se nós comprarmos matéria-prima a prazo e levarmos nossas duplicatas a bancos, vamos transferir todo o nosso esforço, toda a nossa dedicação e também todo o nosso capital para o sistema financeiro, como tem acontecido no Brasil."
Na abertura do seminário, Alencar foi indiscreto ao falar sobre a política interna da China. Citando os movimentos reformadores na ex-União Soviética, ele disse que os chineses promoveram a "perestroika" (reestruturação econômica), mas não a "glasnost" (abertura política), que, segundo ele, "provavelmente virá, mesmo que dure até dez séculos".


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