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Crise imobiliária dos EUA pode piorar
Imóveis comerciais são novos alvos de preocupação; setor tem US$ 2 tri em financiamentos a vencer
Recuo do valor de escritórios leva proprietários a preferir não honrar empréstimos; bancos já esperam uma "quebradeira" no setor
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O megainvestidor George Soros prevê um "banho de sangue" na área. Seu colega bilionário Wilbur Ross, especialista
em reestruturar empresas falidas, falou em "grande quebradeira" há alguns dias.
Em efeito dominó, bancos e
consultorias nos EUA afirmam
que uma nova onda de inadimplência e quebras está a caminho no setor imobiliário. Desta
vez, no segmento voltado para a
locação comercial.
Nos próximos 15 meses, cerca de US$ 2 trilhões (o equivalente às reservas cambiais da
China, as maiores do mundo)
em financiamentos imobiliários destinados a uso comercial
estarão vencendo.
Segundo estimativas do
Deutsche Bank, os bancos que
concederam esses financiamentos podem levar calotes de
até US$ 250 bilhões, o que corresponderia a cerca de 12,5%
das dívidas que têm a receber.
O problema é que até agora
menos de 2% das perdas potenciais foram reconhecidas pelos
bancos, a grande maioria de pequenas e médias instituições
nos EUA. Mas outros grandes,
como Bank of America e Citigroup (ainda sob ajuda federal),
também têm grande exposição
neste mercado.
A expectativa pessimista para a área tem uma razão muito
aparente: o corte maciço de
empregos nos EUA a partir do
final de 2008 esvaziou escritórios e fechou milhões de lojas.
Ao final de 2009, cerca de 2,5
milhões de empregos relacionados a escritórios terão sido
perdidos, segundo estimativa
da Foresight Analytics. Nos subúrbios norte-americanos, o
volume de imóveis comerciais
vazios já atinge 20% do total.
Em Manhattan, em Nova
York, é quase impossível rodar
um único quarteirão sem encontrar pelo menos dois ou três
pontos comerciais para alugar.
Alguns estão assim há meses.
Já o valor dos aluguéis comerciais nessa nobre região
despencou cerca de 50% desde
o pico de meados de 2007.
O esvaziamento de escritórios e fechamento de lojas é reflexo e alimenta a maior taxa de
desemprego norte-americana
em mais de 26 anos, que atingiu
10,2% em outubro.
Nos EUA, geralmente imóveis comerciais são comprados
por grupos de investidores ou
empresas do ramo com financiamento bancário. Os aluguéis
cobrados mais a valorização
dos imóveis cobrem as prestações pagas aos bancos.
Com os dois fatores em queda (os aluguéis devem cair 17%
neste ano e a taxa de desocupação média é recorde), os compradores não têm outra opção a
não ser refinanciar a dívida ou
deixar de pagar.
O refinanciamento, porém,
está se tornando impossível, já
que o valor das dívidas hoje supera na maioria dos casos o
preço dos imóveis.
"Nesses casos, o que normalmente se faz é "estender e apostar". Estender o empréstimo e
apostar que as coisas vão melhorar", diz Jonathan Simon,
do Simon Development Group,
que administra imóveis comerciais em Manhattan.
Matt Anderson, sócio da Foresight Analytics, afirma que,
neste momento, essa alternativa apenas aumentaria no futuro o problema dos bancos com
empréstimos arriscados.
Anderson prevê que centenas de bancos médios e pequenos podem entrar em sérias dificuldades nos próximos meses
como resultado disso.
Dos mais de 110 bancos fechados neste ano pela FDIC, o
órgão federal que supervisiona
o setor, a grande maioria tinha
forte exposição no mercado de
financiamentos imobiliários.
Tradicionalmente, os empréstimos comerciais nos EUA
são concedidos de forma que o
tomador amortize juros e principal em 20 anos. Na época do
boom imobiliário, porém, vários bancos atraíram novos tomadores exigindo apenas o pagamento de juros nos primeiros sete anos. A partir daí, gordas parcelas do principal são
cobradas. É essa a conta que está chegando.
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