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VINICIUS TORRES FREIRE
Exportação das fábricas vai a zero
Ritmo de crescimento das vendas de manufaturados foi à casa de 1% em fevereiro.
Há dois anos, crescia a 28%
AS VENDAS das fábricas brasileiras para outros países regrediram ao nível do ano maligno de 2002, quando o país perdeu
quase todo o crédito, inclusive parte
do crédito para exportar. Para ser
mais preciso, o ritmo de crescimento da quantidade de bens manufaturados chegou a 1,7% em fevereiro, no
acumulado de 12 meses, conta feita a
partir dos dados revelados ontem
pela Funcex. Entre janeiro e outubro de 2002, o quantum de exportações de manufaturados regredia.
Voltaria a crescer 2% no mês da eleição. A indústria voltará ao zero?
A quantidade total de bens exportados cresceu 3,6% em 12 meses,
graças ao aumento da venda de produtos básicos (7,34%). Há dois anos,
cresciam a 20%. As vendas externas
de bens de consumo duráveis estão
no vermelho desde junho de 2006;
em fevereiro, acumulavam regressão de 12%. Duráveis: automóveis,
eletrodomésticos, eletrônicos.
O aumento da quantidade de bens
importados cresce ao ritmo de quase 18% em 12 meses; no caso dos
bens duráveis, corre a 71%.
O preconceito contra o empresário industrial, durante anos beneficiário de seu lobby por proteção tarifária, pela política ineficiente do fechamento comercial, tornou quase
impossível discutir de modo ponderado os problemas que podem advir
do enfraquecimento do comércio
exterior da indústria. Para piorar, a
visão em geral simplista dos industriais a respeito do câmbio ajuda a
desacreditar suas queixas e críticas.
Por fim, o saldo da balança comercial, ainda na casa dos US$ 40 bilhões, parece tornar irrelevante tal
debate. Mas o saldo comercial tem
se sustentado devido ao aumento do
preço dos produtos básicos que o
país exporta e do barateamento dos
importados. Isto é, os termos de troca são favoráveis ao Brasil.
Mas, além do fato de os termos de
troca serem instáveis, a redução da
quantidade de produtos industriais
exportados tem impacto direto na
expansão do investimento e do emprego industrial. E a queda nas exportações não se deve à restrição de
oferta, ao fato de o país vender menos por não ter capacidade produtiva -há ociosidade na indústria.
O efeito do barateamento de máquinas importadas no aumento da
produtividade industrial ainda é incerto. Por ora, não está acontecendo
nada de excepcional com a taxa de
investimento. Cresce de modo semelhante às de outras retomadas cíclicas (e medíocres) da economia,
embora mais rápido que o PIB.
Além do mais, o custo menor dos
bens de capital não é o único fator na
determinação do investimento em
máquinas. O investimento depende
da expectativa de lucro, por sua vez
condicionada pelo crescimento esperado da economia e da rentabilidade da atividade industrial. A rentabilidade também depende do preço dos bens produzidos, os quais podem ser achatados pelo câmbio.
Gasto excessivo do governo, impostos demais, infra-estrutura de
menos, pouca pesquisa em tecnologia e excessos na política monetária
são os fatores que prejudicam a eficiência média da indústria. Mas estamos a discutir tolices como intervenção no câmbio ou ministérios do
PMDB. Nessa toada, é possível até
que as máquinas da indústria do álcool venham a ser produzidas na
China, daqui a alguns anos.
vinit@uol.com.br
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