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COMÉRCIO EXTERIOR
Decisão tem por base reunião do Comitê de Agricultura da OMC, mas ainda pode demorar semanas
Brasil estuda taxar laticínios importados
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O governo brasileiro vai começar
a estudar, nas próximas semanas,
a imposição de medidas de defesa
(salvaguardas, no jargão comercial) contra a invasão de seu mercado por laticínios importados.
A decisão nasceu das observações feitas pela delegação brasileira à reunião do Comitê de Agricultura da OMC (Organização Mundial do Comércio), encerrada ontem em Genebra (Suíça).
``Serviu como aprendizado para
verificar quais as regras de defesa
que estão sendo usadas por outros
países, sem sofrer contestação por
parte da OMC'', diz Guilherme
Dias da Silva, secretário-executivo
do Ministério da Agricultura e um
dos maiores especialistas na área
agrícola.
Dias da Silva conta também que é
na área de laticínios que se pode
estudar a implantação de salvaguardas, medida técnica permitida
pelas regras internacionais sempre
que cresce muito a proporção de
produtos estrangeiros em determinado segmento do mercado.
No setor industrial, o governo
brasileiro já adotou salvaguardas
nas áreas têxtil e de brinquedos.
A reunião do Comitê de Agricultura serviu para que dois dos
maiores produtores e exportadores agrícolas (a União Européia e
os Estados Unidos) apresentassem
formalmente as notificações de
suas políticas à OMC.
Notificação é outra expressão do
jargão da OMC e significa a formalização de compromissos que cada
país-membro assume em matéria
de política comercial (no caso, relativa à área agrícola).
É sintomático o atraso com que
EUA e UE apresentaram suas notificações: os compromissos foram
assumidos ao término da chamada
Rodada Uruguai, a mais ampla liberalização comercial jamais empreendida no planeta. Terminou
em 94, mas só agora os dois grandes produtores agrícolas formalizam os compromissos.
UE e EUA são também os conglomerados que mais críticas sofrem, por parte dos países em desenvolvimento, pelo protecionismo que praticam na área agrícola.
Negócios da China
Além do aprendizado sobre medidas de defesa que funcionam, a
missão brasileira volta de Genebra
inquieta com o panorama que se
desenha na OMC para a inclusão
da China.
Guilherme Dias da Silva acha que
se caminha, pelo menos na área
agrícola, para a introdução de cotas com tarifas preferenciais.
Traduzindo: a China só abriria
seu mercado agrícola parcialmente, por meio de cotas para cada
produto de cada país.
``No momento, a China não tem
como conviver com o livre mercado'', admite Dias da Silva.
Mas preocupa-o a possibilidade
de que o uso de cotas pela China,
uma medida de exceção, acabe se
tornando pretexto para generalizar sua utilização, reduzindo ainda
mais a abertura na área agrícola
decidida na Rodada Uruguai.
Para o Brasil, ampliar a abertura
para produtos agrícolas é ponto
central de sua política comercial
internacional.
O governo brasileiro repete sempre que sua produção agrícola é altamente competitiva internacionalmente, mas enfrenta uma série
de barreiras protecionistas nos
principais mercados, como o europeu e o norte-americano.
Por isso, o presidente Fernando
Henrique Cardoso vem insistindo
no conceito de reciprocidade. Ou
seja, o Brasil só abre mais seu mercado em áreas novas (telecomunicações e informática, por exemplo) em troca do mesmo tratamento pelos países ricos nas áreas
tradicionais, como agricultura.
A grande rodada de renegociação da abertura agrícola, no entanto, só está marcada para 1999.
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