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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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ENCONTRO DE WASHINGTON

Para ministro, crescimento precisa ser trabalhado

Palocci retoma discurso de estabilidade com equidade

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, reencontrou ontem o velho discurso social do PT na avenida Massachusetts 1.750, em uma área que concentra boa parte dos reputados institutos norte-americanos de pesquisa política e econômica.
Em almoço organizado pelo IIE (Instituto para a Economia Internacional), Palocci disse que o governo Luiz Inácio Lula da Silva quer, sim, manter a estabilidade, mas quer também, simultaneamente, distribuição de renda.
Para Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global, a mensagem do ministro foi a de que o governo "tem o claro objetivo de promover justiça social e redistribuição de renda, não como prêmio pelo crescimento econômico mas como condição para ele".
Birdsall é uma das maiores especialistas em programas de combate à pobreza, sua área de ação quando trabalhava no Banco Mundial.
Já Fred Bergsten, o presidente do IIE, afirmou que Palocci introduziu "uma dimensão adicional muito importante", em relação ao discurso que a anterior equipe econômica costumava fazer sempre, centrado na estabilidade quase como um fim em sim mesmo.
Bergsten disse que Palocci havia sido "convincente" ao defender a possibilidade de promover, simultaneamente, estabilidade econômica com redistribuição de renda.
Pela manhã, em entrevista improvisada no saguão de entrada da embaixada brasileira, também na avenida Massachusetts, Palocci já havia introduzido o social em um discurso que, até então, tivera quase toda a ênfase voltada para a ortodoxia do ajuste fiscal e do aperto monetário.
É verdade que a pitada social surgiu após provocação da Folha, que perguntou se o ministro não desconfiava da sucessão de elogios recebidos dos organismos internacionais e até do G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo. A pergunta lembrava que essas mesmas instituições incensavam também o governo anterior, que, não obstante, terminou com 70% dos eleitores votando contra.
O ministro da Fazenda, como é óbvio, afirmou que os elogios "são muito bem-vindos, na medida em que o país é visto com menos risco e receptivo a investimentos".
No entanto, logo tratou de diferenciar a política do governo Lula daquela que foi seguida no governo anterior:
"O que vamos buscar, e que é uma diferença fundamental em relação ao passado recente, é que o ordenamento das contas brasileiras se transforme rapidamente em crescimento econômico. Nós não acreditamos, como se acreditou por muito tempo no Brasil, que a estabilidade gera crescimento".
Engatou: "Crescimento e distribuição de renda não vêm por geração espontânea. Precisam ser trabalhados, preparados, planejados. O Brasil já cresceu sem distribuição de renda e já distribuiu renda sem crescer. Precisamos que a estabilidade permita crescimento e distribuição de renda".
Além de buscar a confiança do investidor externo, o que foi, bem feitas as contas, o eixo de sua estada em Washington, ontem encerrada, o ministro disse querer também "dar confiança ao investidor interno".
É uma frase que pode ser tomada como alusão velada à necessidade de reduzir os juros, na medida em que, no nível atual, nenhum empresário brasileiro se anima a investir porque o custo do dinheiro é absurdamente elevado, como já reclamou até o vice-presidente José Alencar, ele também um empresário.
Os economistas que compartilharam o almoço com Palocci (fechado aos jornalistas) saíram convencidos, ao menos a julgar pela versão de Bergsten.
O presidente do IIE, recordista em menções na mídia norte-americana e internacional, disse que algumas das reformas que o governo Lula está propondo "ajudam tanto no desempenho global da economia como na redistribuição de renda".
Citou especificamente as reformas tributária e previdenciária. Esta última, na opinião de Nancy Birdsall, envia um duplo sinal: reduz os gastos do governo, o que é bom para a estabilidade, e aponta para maior igualdade (alusão ao fato de que há aposentadorias milionárias para alguns enquanto a maioria recebe um pagamento irrisório).
Bergsten citou Coréia do Sul, Taiwan e Indonésia como países que, na opinião dele, conseguiram bom desempenho econômico com maior igualdade. "A América Latina também pode fazer a mesma coisa, e Lula está sendo pioneiro nos esforços para tanto", completou o economista.
Pela manhã, Palocci tomou café da manhã na embaixada do Brasil com um grupo de funcionários norte-americanos de segundo escalão. Recebeu depois Robert Zoellick, uma espécie de ministro do Comércio Exterior dos EUA.
Zoellick saiu sem fazer comentários e Palocci limitou-se a dizer o óbvio: que discutira as negociações comerciais globais e regionais e, também, o comércio bilateral com os Estados Unidos.
O ministro anunciou que, no fim de maio, Zoellick irá ao Brasil.


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