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ENCONTRO DE WASHINGTON
Para ministro, crescimento precisa ser trabalhado
Palocci retoma discurso de estabilidade com equidade
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, reencontrou
ontem o velho discurso social do
PT na avenida Massachusetts
1.750, em uma área que concentra
boa parte dos reputados institutos
norte-americanos de pesquisa
política e econômica.
Em almoço organizado pelo IIE
(Instituto para a Economia Internacional), Palocci disse que o governo Luiz Inácio Lula da Silva
quer, sim, manter a estabilidade,
mas quer também, simultaneamente, distribuição de renda.
Para Nancy Birdsall, presidente
do Centro para o Desenvolvimento Global, a mensagem do ministro foi a de que o governo "tem o
claro objetivo de promover justiça social e redistribuição de renda, não como prêmio pelo crescimento econômico mas como
condição para ele".
Birdsall é uma das maiores especialistas em programas de combate à pobreza, sua área de ação
quando trabalhava no Banco
Mundial.
Já Fred Bergsten, o presidente
do IIE, afirmou que Palocci introduziu "uma dimensão adicional
muito importante", em relação ao
discurso que a anterior equipe
econômica costumava fazer sempre, centrado na estabilidade quase como um fim em sim mesmo.
Bergsten disse que Palocci havia
sido "convincente" ao defender a
possibilidade de promover, simultaneamente, estabilidade econômica com redistribuição de
renda.
Pela manhã, em entrevista improvisada no saguão de entrada
da embaixada brasileira, também
na avenida Massachusetts, Palocci já havia introduzido o social em
um discurso que, até então, tivera
quase toda a ênfase voltada para a
ortodoxia do ajuste fiscal e do
aperto monetário.
É verdade que a pitada social
surgiu após provocação da Folha,
que perguntou se o ministro não
desconfiava da sucessão de elogios recebidos dos organismos internacionais e até do G-7, o grupo
dos sete países mais ricos do
mundo. A pergunta lembrava que
essas mesmas instituições incensavam também o governo anterior, que, não obstante, terminou
com 70% dos eleitores votando
contra.
O ministro da Fazenda, como é
óbvio, afirmou que os elogios
"são muito bem-vindos, na medida em que o país é visto com menos risco e receptivo a investimentos".
No entanto, logo tratou de diferenciar a política do governo Lula
daquela que foi seguida no governo anterior:
"O que vamos buscar, e que é
uma diferença fundamental em
relação ao passado recente, é que
o ordenamento das contas brasileiras se transforme rapidamente
em crescimento econômico. Nós
não acreditamos, como se acreditou por muito tempo no Brasil,
que a estabilidade gera crescimento".
Engatou: "Crescimento e distribuição de renda não vêm por geração espontânea. Precisam ser
trabalhados, preparados, planejados. O Brasil já cresceu sem distribuição de renda e já distribuiu
renda sem crescer. Precisamos
que a estabilidade permita crescimento e distribuição de renda".
Além de buscar a confiança do
investidor externo, o que foi, bem
feitas as contas, o eixo de sua estada em Washington, ontem encerrada, o ministro disse querer também "dar confiança ao investidor
interno".
É uma frase que pode ser tomada como alusão velada à necessidade de reduzir os juros, na medida em que, no nível atual, nenhum empresário brasileiro se
anima a investir porque o custo
do dinheiro é absurdamente elevado, como já reclamou até o vice-presidente José Alencar, ele
também um empresário.
Os economistas que compartilharam o almoço com Palocci (fechado aos jornalistas) saíram
convencidos, ao menos a julgar
pela versão de Bergsten.
O presidente do IIE, recordista
em menções na mídia norte-americana e internacional, disse que
algumas das reformas que o governo Lula está propondo "ajudam tanto no desempenho global
da economia como na redistribuição de renda".
Citou especificamente as reformas tributária e previdenciária.
Esta última, na opinião de Nancy
Birdsall, envia um duplo sinal: reduz os gastos do governo, o que é
bom para a estabilidade, e aponta
para maior igualdade (alusão ao
fato de que há aposentadorias milionárias para alguns enquanto a
maioria recebe um pagamento irrisório).
Bergsten citou Coréia do Sul,
Taiwan e Indonésia como países
que, na opinião dele, conseguiram bom desempenho econômico com maior igualdade. "A América Latina também pode fazer a
mesma coisa, e Lula está sendo
pioneiro nos esforços para tanto",
completou o economista.
Pela manhã, Palocci tomou café
da manhã na embaixada do Brasil
com um grupo de funcionários
norte-americanos de segundo escalão. Recebeu depois Robert
Zoellick, uma espécie de ministro
do Comércio Exterior dos EUA.
Zoellick saiu sem fazer comentários e Palocci limitou-se a dizer
o óbvio: que discutira as negociações comerciais globais e regionais e, também, o comércio bilateral com os Estados Unidos.
O ministro anunciou que, no
fim de maio, Zoellick irá ao Brasil.
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