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Benefício social é bomba-relógio fiscal
Valores destinados a idosos a partir de 65 anos e a portadores de deficiência praticamente quadruplicaram nos últimos dez anos
Em 2006, benefícios foram pagos a 2,477 milhões e custaram R$ 9,718 bi ao governo; previsão é que, em 20 anos, custem R$ 50 bi
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os benefícios assistenciais
pagos a idosos a partir de 65
anos e a portadores de deficiência praticamente quadruplicaram nos últimos dez anos e podem se tornar a nova bomba-relógio fiscal que o governo
precisará desarmar. As últimas
projeções do Ministério da Previdência Social indicam que em
20 anos o número de beneficiários continuará crescendo a
passos largos e, ao final de duas
décadas, consumirá quase R$
50 bilhões por ano.
No ano passado, os benefícios da Loas (Lei Orgânica da
Assistência Social), também
conhecidos por BPCs (Benefícios de Prestação Continuada),
foram pagos a 2,477 milhões de
brasileiros e custaram aos cofres públicos R$ 9,718 bilhões
-mais do que o principal programa social do governo, o Bolsa Família.
Somente nos dois primeiros
meses deste ano o estoque de
benefícios já incorporou mais
23 mil pessoas.
No final de 1997, o total de
atendidos pela Loas não chegava a 650 mil idosos e portadores de deficiência, e o gasto era
inferior a R$ 800 milhões por
ano. "Há realmente um crescimento do estoque de benefícios. Há sempre a entrada de
pessoas e a saída não ocorre na
mesma proporção. A expectativa de vida do brasileiro aumentou. Por isso, é natural que o
número seja crescente", afirma
a diretora do Departamento de
Benefícios Assistenciais do Ministério de Desenvolvimento
Social, Maria José de Freitas.
A avaliação do ministério é
que a taxa de concessão não está crescendo. A previsão é que o
número de benefícios cresça
6% em 2007. Nos últimos três
anos, porém, o governo assistiu
a um boom de concessões devido à criação do Estatuto do Idoso. Com a nova lei, em vigor em
2004, houve redução na idade
exigida para recebimento do
benefício -de 67 para 65 anos.
No primeiro ano da vigência
do estatuto, o volume de BPCs
cresceu 21%. Em 2005, a taxa
de crescimento foi menor (de
10%) e, no ano passado, menor
ainda (8%). Técnicos da Previdência explicam que o efeito do
estatuto já foi totalmente absorvido e atribuem o contínuo
crescimento do estoque a dois
outros fatores: o crescimento
vegetativo da folha e a política
de reajustes para o mínimo.
Um dos requisitos para o
acesso ao BPC é a renda per capita familiar mensal ser de até
um quarto do mínimo (hoje, R$
95). Com os aumentos reais para o mínimo, há uma ampliação
no número de famílias cujos
idosos se enquadram na regra.
Bomba-relógio
Especialistas ouvidos pela
Folha alertam, porém, que a
tendência de aumento do estoque dos benefícios deve se acelerar nos próximos anos e chegam a considerar subestimadas
as projeções da Previdência para o médio prazo. Uma das explicações é o envelhecimento
da população, aumentando o
universo de elegíveis ao BPC.
"A população está envelhecendo e acredito que as estatísticas estejam subestimadas. O
sistema assistencial e o contributivo [Previdência] precisam
ser consistentes", afirma o especialista da OIT (Organização
Internacional do Trabalho) e
ex-secretário de Previdência
Social Vinícius Pinheiro.
Segundo o economista José
Márcio Camargo, a bomba-relógio do ponto de vista fiscal está sendo armada porque, além
de a população brasileira estar
envelhecendo, o governo vem
reajustando o valor dos benefícios acima da inflação.
Camargo diz que a atual regra do BPC estimula a informalidade, deixando mais gente de
fora da Previdência. Um estudo
de sua co-autoria traz evidências de que, desde a criação da
Loas, houve redução na entrada de jovens de pouca qualificação no mercado de trabalho.
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