São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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CEF quer contratar R$ 2,9 bi até junho para saneamento

Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente do banco, diz que trâmites têm sido agilizados para atender à demanda

Funcionária de carreira da Caixa, ela se diz contrária à possível venda de parte das ações do banco para gerar verba para investimentos

SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZM

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Principal operadora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a Caixa Econômica Federal terá de contratar R$ 2,9 bilhões em projetos de saneamento até o dia 20 de junho. Apesar do prazo curto para um volume de recursos considerado alto para um setor que estava completamente desestruturado, Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da Caixa, diz que não há risco de ficar com dinheiro encalhado.
Em sua primeira entrevista após ser confirmada no cargo, ela evita entrar na polêmica em relação à disputa do PT e do PMDB para ocupar as 11 vice-presidências do banco. "Isso eu não tenho mandato para responder, é da alçada do Ministério da Fazenda", diz Maria Fernanda, filiada ao PT e funcionária de carreira da Caixa. Ela se diz contrária à abertura de capital da Caixa, com venda de parte das ações que hoje pertencem 100% ao Tesouro Nacional. A seguir, trechos da entrevista à Folha.  

FOLHA - O que a Caixa está fazendo para conseguir deslanchar o PAC, sobretudo as obras de saneamento?
MARIA FERNANDA RAMOS COELHO
- A Caixa vai para o outro lado do balcão. Em vez de ficar aguardando, receber e devolver projetos, discute-se no âmbito local. Dá apoio técnico, mostrando as melhores soluções. Isso agiliza. Contratamos engenheiros e arquitetos para compor as células de assistência técnica no Brasil todo, auxiliar Estados e municípios na elaboração de projetos. Para iniciar o ano, pegamos uma seleção do Ministério das Cidades. Temos 277 projetos, no valor de R$ 2,974 bilhões, de saneamento, já analisados. Falta licenciamento ambiental, a fase licitatória.

FOLHA - Vai dar tempo de gastar esse dinheiro?
COELHO
- Estamos agilizando etapas. Uma delas é a questão do licenciamento ambiental. Há uma articulação da Caixa no âmbito local, com as empresas de licenciamento, para ter agilidade. No caso do processo licitatório, o PAC já contempla. Acreditamos que vamos ter uma celeridade muito grande na fase da contratação, até porque os prazos são muito rígidos.

FOLHA - Quais são os prazos?
COELHO
- Tivemos até 5 de abril para receber todos os projetos. É um grande indicador [...] Até 4 de junho, vamos ter os documentos exigidos no manual de instrução dos pleitos para, até 20 de junho, autorizar a contratação da operação. A partir daí começa a execução das obras.

FOLHA - E a área de habitação?
COELHO
- Esse primeiro trimestre surpreende por alguns números. Comparando com o primeiro trimestre de 2006, temos R$ 2,9 bilhões de crédito imobiliário. Crescemos no mercado de poupança no Brasil. Tínhamos 35% desse mercado e estamos com 39%. E isso com o mercado crescendo da forma como está. Nunca os bancos operaram tanto.

FOLHA - Qual a diferença desse crescimento hoje em relação ao boom de financiamento à produção que se viu no passado e que não foi acompanhado pela demanda?
COELHO
- Hoje financio onde já tenho demanda qualificada e sendo plenamente atendida. Por isso, a carteira é extremamente saudável do ponto de vista de crédito imobiliário. Já construímos considerando a demanda previamente identificada, analisada e que tem condições de moradia. O mercado se especializou para conhecer a potencialidade, a região.

FOLHA - Qual a média da parcela do imóvel que é financiada?
COELHO
- Esse é um dado importante para sustentabilidade. Em 2003, tínhamos 61% do valor médio. Na década de 80, o imóvel era praticamente 100% financiado. O cidadão não tinha desembolso. Em 2006, o percentual caiu para 46%.

FOLHA - Como maior agente no crédito imobiliário, a Caixa não é a que mais tem a perder?
COELHO
- Tínhamos uma situação de muita tranqüilidade porque o mercado não concorria com a Caixa. Os bancos iniciaram uma estratégia para operar com crédito imobiliário e, mesmo assim, a participação da Caixa no segmento cresce. O crescimento da Caixa, de janeiro a 5 de abril, foi de 76% nas operações com recursos da poupança. No financiamento à produção foi de 598%.

FOLHA - Quanto significa em reais?
COELHO
- Tínhamos contratado em 2006 com recursos da poupança R$ 6,3 milhões [para financiar a produção de imóveis na planta]. Estamos com R$ 44 milhões neste ano. Para as pessoas físicas, tínhamos R$ 595 milhões e passamos a R$ 1,049 bilhão. Isso decorre das mudanças na avaliação de crédito.

FOLHA - Qual será a estratégia daqui para a frente?
COELHO
- Trabalhar onde está o déficit habitacional. Hoje, 96% desse déficit está na faixa de renda até cinco salários mínimos. Dos quais, 93% até três salário mínimos. A estratégia permanece em atender à população até cinco salários mínimos.

FOLHA - Qual a redução dos juros à classe média nos financiamentos habitacionais de 2003 a 2006?
COELHO
- De 13,5% ao ano para 11% ao ano. Isso com recursos da poupança. No FGTS chega a uma média de 8% ao ano.

FOLHA - O episódio Gtech, que gerou um dos primeiros escândalos do governo Lula, está superado?
COELHO
- Sim. Tivemos uma transição [do sistema da Gtech para outro desenvolvido pela Caixa] que nos surpreendeu positivamente. Nossa arrecadação aumentou em mais de 40% no primeiro trimestre.

FOLHA - Além do caso Gtech, a Caixa teve a imagem arranhada pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que resultou na demissão do ministro Palocci.
COELHO
- Isso foi superado, como mostram os resultados. Tivemos uma expansão do crédito imobiliário, da nossa rede de agências. Em nenhum momento perdemos clientes ou depósitos por conta do episódio.

FOLHA - A sra. já foi confirmada na presidência, mas ainda há a definição de 11 vice-presidências. PMDB e PT, seu partido, disputam as vagas.
COELHO
- Isso eu não tenho mandato para responder, é da alçada do Ministério da Fazenda. Agora, os trabalhos da Caixa continuam. O governo tem seu tempo para resolver.

FOLHA - Mas essas indicações não podem deixar a empresa suscetível a novas crises, como já aconteceu?
COELHO
- Temos hoje uma governança muito clara dentro da instituição, um conselho de administração muito atuante, estamos criando um comitê de auditoria com pessoas de fora da instituição. Estamos tornando cada vez mais transparentes os resultados.

FOLHA - A sra. é a favor da venda de ações da Caixa para gerar recursos para investimentos do governo?
COELHO
- Olha, acho que a Caixa é um banco público e assim deve ser. Ele tem uma missão social que outros bancos não cumprem. Faz, por exemplo, pagamento do Bolsa Família em áreas distantes do Amazonas. Se abrir o capital, passa a ser mais cobrado por resultados, como um banco comercial.


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