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CEF quer contratar R$ 2,9 bi até junho para saneamento
Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente do banco, diz que trâmites têm sido agilizados para atender à demanda
Funcionária de carreira da Caixa, ela se diz contrária à possível venda de parte das ações do banco para gerar verba para investimentos
SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Principal operadora do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento), a Caixa Econômica Federal terá de contratar
R$ 2,9 bilhões em projetos de
saneamento até o dia 20 de junho. Apesar do prazo curto para um volume de recursos considerado alto para um setor que
estava completamente desestruturado, Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da Caixa, diz que não há risco de ficar
com dinheiro encalhado.
Em sua primeira entrevista
após ser confirmada no cargo,
ela evita entrar na polêmica em
relação à disputa do PT e do
PMDB para ocupar as 11 vice-presidências do banco. "Isso eu
não tenho mandato para responder, é da alçada do Ministério da Fazenda", diz Maria Fernanda, filiada ao PT e funcionária de carreira da Caixa.
Ela se diz contrária à abertura de capital da Caixa, com venda de parte das ações que hoje
pertencem 100% ao Tesouro
Nacional. A seguir, trechos da
entrevista à Folha.
FOLHA - O que a Caixa está fazendo para conseguir deslanchar o PAC,
sobretudo as obras de saneamento?
MARIA FERNANDA RAMOS COELHO -
A Caixa vai para o outro lado do
balcão. Em vez de ficar aguardando, receber e devolver projetos, discute-se no âmbito local. Dá apoio técnico, mostrando as melhores soluções. Isso
agiliza. Contratamos engenheiros e arquitetos para compor as
células de assistência técnica
no Brasil todo, auxiliar Estados
e municípios na elaboração de
projetos. Para iniciar o ano, pegamos uma seleção do Ministério das Cidades. Temos 277
projetos, no valor de R$ 2,974
bilhões, de saneamento, já analisados. Falta licenciamento
ambiental, a fase licitatória.
FOLHA - Vai dar tempo de gastar
esse dinheiro?
COELHO - Estamos agilizando
etapas. Uma delas é a questão
do licenciamento ambiental.
Há uma articulação da Caixa no
âmbito local, com as empresas
de licenciamento, para ter agilidade. No caso do processo licitatório, o PAC já contempla.
Acreditamos que vamos ter
uma celeridade muito grande
na fase da contratação, até porque os prazos são muito rígidos.
FOLHA - Quais são os prazos?
COELHO - Tivemos até 5 de abril
para receber todos os projetos.
É um grande indicador [...] Até
4 de junho, vamos ter os documentos exigidos no manual de
instrução dos pleitos para, até
20 de junho, autorizar a contratação da operação. A partir daí
começa a execução das obras.
FOLHA - E a área de habitação?
COELHO - Esse primeiro trimestre surpreende por alguns números. Comparando com o primeiro trimestre de 2006, temos R$ 2,9 bilhões de crédito
imobiliário. Crescemos no
mercado de poupança no Brasil. Tínhamos 35% desse mercado e estamos com 39%. E isso
com o mercado crescendo da
forma como está. Nunca os
bancos operaram tanto.
FOLHA - Qual a diferença desse
crescimento hoje em relação ao
boom de financiamento à produção
que se viu no passado e que não foi
acompanhado pela demanda?
COELHO - Hoje financio onde já
tenho demanda qualificada e
sendo plenamente atendida.
Por isso, a carteira é extremamente saudável do ponto de
vista de crédito imobiliário. Já
construímos considerando a
demanda previamente identificada, analisada e que tem condições de moradia. O mercado
se especializou para conhecer a
potencialidade, a região.
FOLHA - Qual a média da parcela
do imóvel que é financiada?
COELHO - Esse é um dado importante para sustentabilidade.
Em 2003, tínhamos 61% do valor médio. Na década de 80, o
imóvel era praticamente 100%
financiado. O cidadão não tinha
desembolso. Em 2006, o percentual caiu para 46%.
FOLHA - Como maior agente no
crédito imobiliário, a Caixa não é a
que mais tem a perder?
COELHO - Tínhamos uma situação de muita tranqüilidade
porque o mercado não concorria com a Caixa. Os bancos iniciaram uma estratégia para
operar com crédito imobiliário
e, mesmo assim, a participação
da Caixa no segmento cresce. O
crescimento da Caixa, de janeiro a 5 de abril, foi de 76% nas
operações com recursos da
poupança. No financiamento à
produção foi de 598%.
FOLHA - Quanto significa em reais?
COELHO - Tínhamos contratado
em 2006 com recursos da poupança R$ 6,3 milhões [para financiar a produção de imóveis
na planta]. Estamos com R$ 44
milhões neste ano. Para as pessoas físicas, tínhamos R$ 595
milhões e passamos a R$ 1,049
bilhão. Isso decorre das mudanças na avaliação de crédito.
FOLHA - Qual será a estratégia daqui para a frente?
COELHO - Trabalhar onde está o
déficit habitacional. Hoje, 96%
desse déficit está na faixa de
renda até cinco salários mínimos. Dos quais, 93% até três salário mínimos. A estratégia permanece em atender à população até cinco salários mínimos.
FOLHA - Qual a redução dos juros à
classe média nos financiamentos
habitacionais de 2003 a 2006?
COELHO - De 13,5% ao ano para
11% ao ano. Isso com recursos
da poupança. No FGTS chega a
uma média de 8% ao ano.
FOLHA - O episódio Gtech, que gerou um dos primeiros escândalos do
governo Lula, está superado?
COELHO - Sim. Tivemos uma
transição [do sistema da Gtech
para outro desenvolvido pela
Caixa] que nos surpreendeu
positivamente. Nossa arrecadação aumentou em mais de
40% no primeiro trimestre.
FOLHA - Além do caso Gtech, a Caixa teve a imagem arranhada pela
quebra do sigilo bancário do caseiro
Francenildo Costa, que resultou na
demissão do ministro Palocci.
COELHO - Isso foi superado, como mostram os resultados. Tivemos uma expansão do crédito imobiliário, da nossa rede de
agências. Em nenhum momento perdemos clientes ou depósitos por conta do episódio.
FOLHA - A sra. já foi confirmada na
presidência, mas ainda há a definição de 11 vice-presidências. PMDB e
PT, seu partido, disputam as vagas.
COELHO - Isso eu não tenho
mandato para responder, é da
alçada do Ministério da Fazenda. Agora, os trabalhos da Caixa
continuam. O governo tem seu
tempo para resolver.
FOLHA - Mas essas indicações não
podem deixar a empresa suscetível
a novas crises, como já aconteceu?
COELHO - Temos hoje uma governança muito clara dentro da
instituição, um conselho de administração muito atuante, estamos criando um comitê de
auditoria com pessoas de fora
da instituição. Estamos tornando cada vez mais transparentes os resultados.
FOLHA - A sra. é a favor da venda
de ações da Caixa para gerar recursos para investimentos do governo?
COELHO - Olha, acho que a Caixa é um banco público e assim
deve ser. Ele tem uma missão
social que outros bancos não
cumprem. Faz, por exemplo,
pagamento do Bolsa Família
em áreas distantes do Amazonas. Se abrir o capital, passa a
ser mais cobrado por resultados, como um banco comercial.
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