São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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INVESTIMENTOS

Autarquia tem indícios de que gestores utilizaram mecanismos para dissimular perdas recentes de rentabilidade

CVM abre mais de 20 inquéritos sobre fundos

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Gestores de fundos de investimento estão sob a mira da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A autarquia investiga denúncias que têm sido feitas pelo mercado -como informou a Folha na semana passada- de que algumas instituições estariam usando mecanismos para dissimular perdas de rentabilidade em seus fundos de investimento.
De acordo com Carlos Eduardo Sussekind, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM, além das investigações preliminares iniciadas recentemente, já tramitam na autarquia mais de 20 inquéritos sobre supostas irregularidades desse tipo ocorridas durante os últimos meses.
"Temos indícios de que isso pode estar acontecendo agora. Estamos acionando a equipe de fiscalização para ir às instituições financeiras para apurar isso", diz o superintendente da CVM, instituição responsável pela fiscalização dos fundos de investimento.

Marcação
Legalmente, os gestores são obrigados a registrar diariamente as oscilações, positivas ou negativas, sofridas pelos papéis que compõem as carteiras de seus fundos. É a chamada marcação a mercado.
Se o preço de um título público sofre forte desvalorização no mercado secundário, a tendência é que isso afete negativamente o retorno de um fundo que tenha comprado esses papéis.
Chamou a atenção de analistas nas últimas semanas o fato de a rentabilidade de muitos fundos da categoria DI não ter sido fortemente prejudicada pela depreciação das LFTS (Letras Financeiras do Tesouro), títulos pós-fixados que, geralmente, compõem as carteiras desse tipo de aplicação.
"Se a rentabilidade de um fundo de investimento está complemente estável e sabemos que esse fundo está carregando ativos que estão oscilando, isso nos chama a atenção", afirma Sussekind.
De acordo com ele, há denúncias, por exemplo, de que alguns fundos e tesourarias dos mesmos bancos fariam operações combinadas. Essas operações aconteceriam da seguinte forma: quando o fundo tem rentabilidade acima da meta declarada em seu regulamento, esse ganho extra iria para a tesouraria. Em troca, a tesouraria compensaria o fundo em momentos que o mesmo sofresse perdas.
"Nós ouvimos falar que há quem faça isso no mercado. Ainda não temos prova disso. Mas essa operação, chamada no mercado de "escovar a cota fundo", seria completamente irregular", afirma Sussekind.
O fato de os fundos de renda fixa terem apresentado nos últimos dias fortes perdas de rentabilidade é um indicativo de que os gestores dessa categoria de aplicação estão cumprindo a regra de marcação, segundo Sussekind.
Ontem, esses fundos voltaram a amargar perdas. Entre mais de 400 fundos de renda fixa, 51 tiveram rentabilidade negativa, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Os prejuízos-que se repetiram ao longo de toda a semana-têm sido provocados pela disparada dos juros nos mercados futuros.


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