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INVESTIMENTOS
Autarquia tem indícios de que gestores utilizaram mecanismos para dissimular perdas recentes de rentabilidade
CVM abre mais de 20 inquéritos sobre fundos
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Gestores de fundos de investimento estão sob a mira da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). A autarquia investiga denúncias que têm sido feitas pelo
mercado -como informou a Folha na semana passada- de que
algumas instituições estariam
usando mecanismos para dissimular perdas de rentabilidade em
seus fundos de investimento.
De acordo com Carlos Eduardo
Sussekind, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM, além das investigações preliminares iniciadas recentemente, já tramitam na autarquia mais de 20 inquéritos sobre supostas irregularidades desse tipo ocorridas durante os últimos meses.
"Temos indícios de que isso pode estar acontecendo agora. Estamos acionando a equipe de fiscalização para ir às instituições financeiras para apurar isso", diz o
superintendente da CVM, instituição responsável pela fiscalização dos fundos de investimento.
Marcação
Legalmente, os gestores são
obrigados a registrar diariamente
as oscilações, positivas ou negativas, sofridas pelos papéis que
compõem as carteiras de seus
fundos. É a chamada marcação a
mercado.
Se o preço de um título público
sofre forte desvalorização no mercado secundário, a tendência é
que isso afete negativamente o retorno de um fundo que tenha
comprado esses papéis.
Chamou a atenção de analistas
nas últimas semanas o fato de a
rentabilidade de muitos fundos
da categoria DI não ter sido fortemente prejudicada pela depreciação das LFTS (Letras Financeiras
do Tesouro), títulos pós-fixados
que, geralmente, compõem as
carteiras desse tipo de aplicação.
"Se a rentabilidade de um fundo
de investimento está complemente estável e sabemos que esse fundo está carregando ativos que estão oscilando, isso nos chama a
atenção", afirma Sussekind.
De acordo com ele, há denúncias, por exemplo, de que alguns
fundos e tesourarias dos mesmos
bancos fariam operações combinadas. Essas operações aconteceriam da seguinte forma: quando o
fundo tem rentabilidade acima da
meta declarada em seu regulamento, esse ganho extra iria para
a tesouraria. Em troca, a tesouraria compensaria o fundo em momentos que o mesmo sofresse
perdas.
"Nós ouvimos falar que há
quem faça isso no mercado. Ainda não temos prova disso. Mas essa operação, chamada no mercado de "escovar a cota fundo", seria
completamente irregular", afirma
Sussekind.
O fato de os fundos de renda fixa terem apresentado nos últimos
dias fortes perdas de rentabilidade é um indicativo de que os gestores dessa categoria de aplicação
estão cumprindo a regra de marcação, segundo Sussekind.
Ontem, esses fundos voltaram a
amargar perdas. Entre mais de
400 fundos de renda fixa, 51 tiveram rentabilidade negativa, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Os prejuízos-que
se repetiram ao longo de toda a
semana-têm sido provocados
pela disparada dos juros nos mercados futuros.
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