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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Estatal demonstrará que reajuste tira competitividade e que, sem mercado, Bolívia pode entrar em colapso
Petrobras não vai aceitar aumento do gás
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Petrobras e a YPFB (estatal
boliviana) iniciam hoje processo
de negociação sobre o preço do
gás, mas, do lado brasileiro, já está
decidido: não será aceito pedido
de aumento.
Segundo a Folha apurou, a Petrobras demonstrará aos representantes da estatal boliviana que
o aumento do gás torna o produto
pouco competitivo no Brasil, o
que levaria a indústria, principal
consumidora, a substituí-lo por
outros combustíveis.
Esse será o argumento mais forte do lado brasileiro na reunião.
Na avaliação da Petrobras, se, por
conta de alta de preço, a participação do gás na matriz energética do
Brasil diminuir, a economia boliviana entraria em colapso.
Esse cenário é baseado nos seguintes números: a Bolívia produz de 35 milhões a 40 milhões de
m3 de gás por dia. Desse total, o
Brasil consome a maior parte: entre 24 milhões e 26 milhões de m3.
A fim de criar infra-estrutura para
levar o gás que deixaria de ser
consumido no Brasil para outros
mercados, a Bolívia levaria, no
mínimo, cinco anos. Antes disso,
haveria grave crise econômica.
Por outro lado, a estatal brasileira avalia que o cenário sem o gás
boliviano foi superdimensionado
pela imprensa. Seria um problema, mas não uma catástrofe.
Assimilar o golpe
A avaliação da diretoria da empresa é que, em cerca de 30 dias, a
economia já teria assimilado o
golpe e substituído o combustível.
Haveria aumento de custos, mas
nada comparável ao que aconteceria à economia boliviana.
De acordo com as regras do
contrato entre a Petrobras e a
YPFB, a qualquer momento as
partes podem abrir negociações
sobre o preço. Uma vez abertas,
essas negociações têm prazo de 45
dias para acontecer. Em caso de
impasse, o assunto vai para uma
corte arbitral em Nova York.
Em 1999, quando o Brasil começou a comprar gás da Bolívia, o
preço era US$ 0,91 por milhão de
BTU (British Termal Unit, medida de energia). Hoje, está em
aproximadamente US$ 3,8 por
milhão de BTU.
Ganhos
A avaliação dentro da Petrobras
é que, politicamente, o governo
do presidente Evo Morales pode
sair da negociação sem aumento
de preço porque tem o que mostrar nessa área.
Em 2005, os ganhos da Bolívia
com a exploração do gás natural
foram de aproximadamente US$
70 milhões. Neste ano, mesmo se
o governo não tivesse aumentado
os impostos, o ganho iria para
cerca de US$ 500 milhões, apenas
por conta da valorização dos preços dos derivados de petróleo.
Com o aumento da tributação
(de 50% para 82%), esse ganho
pode chegar a aproximadamente
US$ 700 milhões. Entre 1999 e
2005, o ganho total foi de cerca de
US$ 575 milhões.
Em relação ao controle acionário da YPFB das refinarias da Petrobras na Bolívia, a estatal brasileira avalia que o gesto é apenas
político. Em 2004, a Petrobras ofereceu as refinarias ao governo boliviano, que não teve como aceitá-las por não dispor de condições
técnicas nem de recursos para
operá-las.
Segundo a Folha apurou, há na
Petrobras quem defenda que, em
vez de 50% mais uma ação de participação estabelecidos no decreto
do presidente Morales, sejam oferecidos 100% das ações. A Petrobras, no entanto, não abre mão de
ser indenizada, ao menos no valor
dos investimentos feitos no país.
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