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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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SONHO DISTANTE

Com orçamento curto, famílias cortam gastos com saúde, deixam de pagar escola e adiam plano de consumo

Crise afasta classe média do paraíso

DA REDAÇÃO

Nos últimos seis anos, os 7,9 milhões de famílias consideradas de classe média no Brasil perderam mais de 30% de sua renda em valores reais (descontada a inflação). Metade desse tombo ocorreu em 2002, segundo dados de uma pesquisa da Ipsos-Marplan realizada em nove regiões do país e fornecida com exclusividade para a Folha.
Para ajustar-se à nova realidade, essa fatia da população, que representa cerca de 17% do total de famílias brasileiras, cortou gastos essenciais, reduziu o lazer e adiou planos de consumo.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e da ANS (Agência Nacional de Saúde) mostram que cerca de 4 milhões de pessoas -a maioria das quais de classe média- perderam seus planos de saúde nos últimos quatro anos.
Há uma década, o calote irrecuperável em faculdades privadas era de 1,5%. Hoje, está em 7%, segundo números da consultoria Hoper. Calcula-se que somente 40% dos universitários pagam suas mensalidades em dia.
Para equilibrar-se sobre uma renda mais achatada, a classe média começou a abrir mão de símbolos de sucesso e conforto.
A pesquisa da Ipsos-Marplan mostra que caíram drasticamente o consumo de bebidas importadas, as viagens e a frequência a academias e clubes.
Com a crise, também houve um visível esforço para baratear comodidades e outros serviços: grupos foram criados para "dividir" personal trainers e psicólogos passaram a oferecer "terapia virtual". Os gastos por pessoa em restaurantes recuaram de R$ 30, há dois anos, para R$ 20 em 2003.

Empobrecimento
Na opinião de Waldir Quadros, professor da Unicamp, o que se viu nos últimos anos foi "um processo estrutural de empobrecimento dessa classe, provocado pelo desemprego, pela onda de terceirizações e pela deterioração dos salários".
No entanto, o principal vilão do padrão de vida da classe média foi a disparada dos preços dos serviços e tarifas públicas. "São itens que pesam na sua cesta de consumo", observa o economista Ricardo Carneiro, do Centro de Conjuntura Política e Econômica da Unicamp.
Segundo estudo desse centro, o custo de itens como gasolina, energia elétrica, telefonia e cuidados pessoais subiu bem acima da inflação desde a desvalorização cambial de 1999, corroendo o poder aquisitivo da classe média.
A situação piorou no ano passado, quando, segundo dados da Ipsos-Marplan, entre 17% e 20% da renda dessas famílias evaporou.
As pessoas do topo e os da base da escala econômica foram menos sacrificadas, registrando queda real de renda em torno de 10% em 2002. As perdas acumuladas em seis anos também foram menores nessas faixas.

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