São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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TRABALHO

Chapa ligada ao PSTU, que acusa CUT de ser "chapa branca", alega que listas de funcionários aptos a votar são suspeitas

Justiça suspende eleição dos bancários

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A eleição para a nova diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, filiado à CUT, foi suspensa ontem por decisão da Justiça do Trabalho a pedido da chapa de oposição, ligada ao PSTU.
O processo eleitoral estava previsto para começar ontem, mas a oposição conseguiu uma liminar alegando suspeita de fraude nas listagens de bancários e funcionários aposentados aptos a votar. No balanço social publicado no início deste ano, a entidade divulgou ter 60 mil sócios. Nas listas entregues pela comissão eleitoral às duas chapas que disputam a direção do sindicato havia 43.484 bancários com direito à voto.
A 78ª Vara do Trabalho de São Paulo concedeu a liminar à oposição, deu prazo para que a situação seja regularizada em dez dias e deve marcar uma audiência de conciliação entre as duas chapas.
"Em razão de que a diferença de aproximados 15 mil associados apurados entre a listagem divulgada e o balanço apresentado impõe severo gravame a viabilização da campanha eleitoral", afirma a juíza Erotilde Ribeiro dos Santos Minharro, em sua decisão.
Desde 1997, a eleição pelo comando da entidade não era disputada por duas chapas. Dono de um orçamento anual de cerca de R$ 36 milhões, o sindicato representa 106 mil bancários em São Paulo, Osasco e região.
Encabeçada pelo atual presidente do sindicato, Luiz Claudio Marcolino, a chapa 1 reúne dirigentes de três correntes sindicais da CUT -a Articulação Sindical, a Frente de Esquerda Socialista e a Corrente Sindical Classista. Funcionário do Itaú desde 1989, Marcolino é considerado como "moderado" no movimento sindical.
Lidera a chapa 2 Dirceu Travesso, diretor do sindicato que integra a chamada ala "radical" da entidade. Ex-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSTU, o sindicalista já trabalhou em bancos privados e desde 1984 é funcionário da Nossa Caixa.
A disputa interna por poder entre os bancários ficou evidente com a greve da categoria em outubro do ano passado. A paralisação de 30 dias foi resultado do impasse nas negociações salariais e da falta de sintonia entre o que queriam os trabalhadores e o que negociavam os sindicalistas.
A direção do sindicato fez acordo e aceitou o reajuste oferecido pelos bancos -de 8,5%. O PSTU foi ao horário político convocar os bancários para a greve. Depois de a Justiça definir o reajuste dos empregados da Caixa e do Banco do Brasil, o setor privado encerrou a greve e fechou acordo -o reajuste foi mantido, mas houve uma diferença de quase R$ 500 no valor da cesta-alimentação que permitiu que os bancários do setor privado aceitassem a oferta.
"O sindicato perdeu a independência, a coerência e a combatividade porque está atrelado ao governo. A atual direção é ligada ao pessoal com cargos no governo, em fundos de pensão e participa do conselho de empresas. O sindicato virou trampolim para cargos e negócios", diz Travesso ao se referir aos ministros Ricardo Berzoini (Trabalho) e Luiz Gushiken (Comunicações), que já presidiram o sindicato.
As críticas à CUT e ao modo como os sindicalistas agem em relação ao governo Lula, que historicamente é ligado à central, tem surgido no movimento sindical em vários setores. Em março, o Andes (sindicato nacional de docentes das instituições de ensino superior), que representa 74 mil professores das universidades públicas e privadas, encaminhou pedido de desligamento da CUT, após 16 anos filiado à central.

Recurso
A chapa 1 entrou com recurso ontem na Justiça na tentativa de cassar a liminar que suspendeu a eleição. A juíza deve avaliar em até 48 horas o pedido.
"É um absurdo essa tentativa de desqualificar a eleição. A última listagem é a mais atualizada. O balanço social pode falar em 60 mil sócios, mas não separa os aptos a votar", diz Marcolino. "Por que esperaram até agora para contestar os dados? Por medo de perder a eleição." A comissão eleitoral informa que os representantes das duas chapas participaram de todo o processo de organização da eleição. "Eles receberam a listagem, conferiram e assinaram recibos. O processo eleitoral está sendo conduzido com transparência", diz Pedro Sardi, bancário e representante da comissão.


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