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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Uma nova velocidade de crescimento
Considero a expansão do PIB de 4,3% bastante boa se observarmos as amarras que ainda existem na economia
O IBGE divulgou na última
quarta-feira os números referentes ao crescimento da
economia no primeiro trimestre do
ano. Essas informações têm uma
importância especial por serem divulgadas segundo metodologia mais
acurada de cálculo, implantada no
ano passado. Parte dos analistas ficou decepcionada com o crescimento de 4,3%, em relação ao primeiro
trimestre do ano passado. O próprio
presidente da República mostrou-se
um pouco decepcionado, pois esperava algo próximo de 5%.
Considero o número de 4,3% bastante bom se observarmos as amarras que ainda existem na economia.
Analisando os detalhes desse crescimento médio, essa observação fica
ainda mais reforçada. Duas coisas
chamam a atenção: em primeiro lugar, o aumento expressivo dos itens
principais do investimento privado;
em segundo, a crescente participação das importações na oferta de
produtos comercializáveis em nosso
mercado interno. São essas duas informações que nos permitem ficar
razoavelmente tranqüilos em relação ao vigor do crescimento do consumo privado -perto de 6% ao
ano- nesse período.
Em outras palavras, estamos vendo, pela primeira vez em muitas décadas, um aumento expressivo do
consumo interno sendo acompanhado por um aumento quase paralelo da oferta, evitando uma repetição do chamado vôo de galinha. Essa
imagem muito feliz procurava associar a incapacidade que tínhamos de
ter um crescimento da oferta interna em linha com o aumento do consumo dos brasileiros, em momentos
de crescimento mais acelerado. A
fragilidade no balanço de pagamentos era o fator crítico, que levava ao
ciclo de desvalorização cambial, inflação e choque de juros, já que o
Banco Central era obrigado a abortar o crescimento.
Na ata da última reunião do Copom, divulgada no momento em
que escrevo esta coluna, temos pela
primeira vez um reconhecimento
explícito da predominância do canal
externo por nossa autoridade monetária. Aliás, essa é a causa principal apontada para a volta das reduções de meio ponto percentual na
taxa Selic. Como se dizia antigamente, "água mole em pedra dura tanto
bate até que fura". Depois de meses
em que um grupo de economistas
-no qual me incluo- vinha chamando a atenção para essa nova dinâmica do lado da oferta, é muito
bom ver o Banco Central incorporando essas observações nas suas
decisões. Somos uma economia
aberta de fato, experimentando de
forma inédita os efeitos da globalização em nosso mercado de bens. E essa situação traz uma nova dinâmica
à economia que precisa ser reconhecida.
Com relação à decepção de nosso
presidente, cabe lembrá-lo que, apesar de uma taxa de crescimento do
PIB duas vezes superior à da última
década, ainda há amarras estruturais que emperram a economia.
Oxalá a decepção do presidente da
República o faça acordar de sua paralisia e o leve a liderar uma agenda
de reformas, por menor que seja, para melhorar nosso ambiente de negócios. É preciso usar a oportunidade aberta pela economia mundial
para melhorar a competitividade
sistêmica da economia. O caso do
Japão é ilustrativo. Após quase uma
década de expansão fiscal, que levou
as contas públicas do país à pior situação entre os países do G7, o governo está usando o vento de cauda
da China para restaurar sua saúde financeira. Infelizmente, a preocupação com o futuro parece ser contrária ao DNA dos que hoje ocupam o
poder em Brasília, como deixou claro ontem a ministra do Turismo.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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