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ANÁLISE
Recuperação é cíclica,
diz professor da UFRJ
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Fernando Cardim, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
diz que a seqüência de indicadores econômicos positivos, divulgados no último mês, mostra que
a economia vive um processo de
"recuperação cíclica". Mas a retomada do crescimento, segundo
ele, depende de uma política mais
agressiva de corte na taxa Selic e
da redução do "spread" bancário.
Leia trechos de entrevista.
Folha - A produção, o consumo e o
emprego estão se recuperando. A
política do governo funcionou?
Fernando Cardim - A seqüência
de bons indicadores divulgados
no último mês dissipou a dúvida
que havia sobre a melhora da economia. Uma das hipóteses era de
que se tratava de dados esparsos e
continuávamos no fundo do poço. A outra, de que estaria ocorrendo uma recuperação cíclica.
Prevaleceu a recuperação e isso é
bom. Mas isso não é crescimento.
Folha - O que o senhor chama de
"recuperação cíclica"?
Cardim - É quando a demanda,
o emprego e o investimento caem
mais do que devia, mas depois
melhora a expectativa dos agentes
econômicos e eles passam a consumir e a produzir mais. As empresas, então, passam a ocupar a
capacidade produtiva que estava
ociosa. É o que ocorre hoje.
Folha - Esse não é o processo natural de retomada do crescimento?
Cardim - Essa é uma fase que pode ou não levar ao crescimento. O
grande desafio, agora, é que, a
partir da recuperação, as empresas retomem os investimentos na
expansão da capacidade produtiva e do emprego. A taxa básica de
juros da economia ainda é alta para estimular os investimentos.
Folha - O que garantirá que essa
fase desemboque no crescimento?
Cardim - Tudo vai depender da
política monetária do governo: é
preciso baixar a Selic dos 16% em
que ela estacionou e criar mecanismos de financiamento ao investimento produtivo.
Folha - A Selic caiu dez pontos
percentuais em 12 meses, mas o
crédito continua caro. Adianta só
cortar a taxa básica?
Cardim - Enquanto os bancos
puderem emprestar para o governo ganhando 16% ao ano, sem
correr riscos, não vão ampliar a
oferta de crédito nem reduzir os
juros para o setor privado. Daí a
necessidade de cortar mais a Selic.
Também é preciso que o governo
atue de forma mais agressiva sobre o "spread" bancário.
Folha - Como fazer isso?
Cardim - Combatendo o monopólio dos bancos. É preciso criar
um imposto progressivo sobre o
lucro dessas instituições e fomentar a concorrência para forçá-las a
dar mais crédito. Nos EUA, nos
anos 90, o que pressionou os juros
foi o lançamento de operações de
securitização de dívidas de empresas. Elas captavam recursos
emitindo títulos que eram vendidos a fundos de investimento.
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