São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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ANÁLISE

Recuperação é cíclica, diz professor da UFRJ

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Fernando Cardim, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que a seqüência de indicadores econômicos positivos, divulgados no último mês, mostra que a economia vive um processo de "recuperação cíclica". Mas a retomada do crescimento, segundo ele, depende de uma política mais agressiva de corte na taxa Selic e da redução do "spread" bancário. Leia trechos de entrevista.
 

Folha - A produção, o consumo e o emprego estão se recuperando. A política do governo funcionou?
Fernando Cardim -
A seqüência de bons indicadores divulgados no último mês dissipou a dúvida que havia sobre a melhora da economia. Uma das hipóteses era de que se tratava de dados esparsos e continuávamos no fundo do poço. A outra, de que estaria ocorrendo uma recuperação cíclica. Prevaleceu a recuperação e isso é bom. Mas isso não é crescimento.

Folha - O que o senhor chama de "recuperação cíclica"?
Cardim -
É quando a demanda, o emprego e o investimento caem mais do que devia, mas depois melhora a expectativa dos agentes econômicos e eles passam a consumir e a produzir mais. As empresas, então, passam a ocupar a capacidade produtiva que estava ociosa. É o que ocorre hoje.

Folha - Esse não é o processo natural de retomada do crescimento?
Cardim -
Essa é uma fase que pode ou não levar ao crescimento. O grande desafio, agora, é que, a partir da recuperação, as empresas retomem os investimentos na expansão da capacidade produtiva e do emprego. A taxa básica de juros da economia ainda é alta para estimular os investimentos.

Folha - O que garantirá que essa fase desemboque no crescimento?
Cardim -
Tudo vai depender da política monetária do governo: é preciso baixar a Selic dos 16% em que ela estacionou e criar mecanismos de financiamento ao investimento produtivo.

Folha - A Selic caiu dez pontos percentuais em 12 meses, mas o crédito continua caro. Adianta só cortar a taxa básica?
Cardim -
Enquanto os bancos puderem emprestar para o governo ganhando 16% ao ano, sem correr riscos, não vão ampliar a oferta de crédito nem reduzir os juros para o setor privado. Daí a necessidade de cortar mais a Selic. Também é preciso que o governo atue de forma mais agressiva sobre o "spread" bancário.

Folha - Como fazer isso?
Cardim -
Combatendo o monopólio dos bancos. É preciso criar um imposto progressivo sobre o lucro dessas instituições e fomentar a concorrência para forçá-las a dar mais crédito. Nos EUA, nos anos 90, o que pressionou os juros foi o lançamento de operações de securitização de dívidas de empresas. Elas captavam recursos emitindo títulos que eram vendidos a fundos de investimento.


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