São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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LUÍS NASSIF

O papel da grande empresa

Até os anos 90, a grande empresa no Brasil era uma ilha, em geral verticalizada ou mantendo relação distante e autoritária com fornecedores, consumidores e comunidade.
Há a notável exceção da Petrobras, que, a partir dos anos 70, ajuda na criação de uma indústria de equipamentos, com suas encomendas, e na consolidação de um padrão internacional de qualidade no setor, com suas exigências.
No início dos anos 90, três episódios fornecem as bases para a mudança no papel da grande empresa.
O primeiro, a idéia das Câmaras Setoriais, no governo Collor, quando se começa a valorizar o conceito da cadeia produtiva -substituindo a relação de subordinação entre a grande empresa e seus fornecedores.
O segundo, a experiência da Fiat em Minas, que define pactos de longo prazo com seus fornecedores, assegurando encomendas em troca de investimentos, qualidade e preços.
O terceiro, a criação do Prêmio Nacional de Qualidade, que consolida novos paradigmas, com as grandes empresas entendendo que sua competitividade dependia do grau de competitividade sistêmica da economia.
No decorrer dos anos 90, ocorre também a profissionalização da gestão das grandes empresas e surge uma nova geração de CEOs brasileiros comandando empresas nacionais e multinacionais. A redemocratização passou a exigir executivos antenados com os novos tempos, com o papel da opinião pública e dos agentes sociais.
Ocorre, também, a implosão em escala global da cadeia produtiva das grandes multinacionais, gerando uma competição entre as filiais, para atração de investimentos da matriz.
Todos esses fatos tornam os executivos de filiais de multinacionais aliados naturais do país. Se o país não der certo, a filial murcha, e eles perdem. Se a matriz aposta na filial, ganhamos todos.
O capital externo produtivo será fundamental não apenas pelos investimentos em si mas por possibilitar transferência de tecnologia, aumento de exportações. E, mais que isso, as filiais de multinacionais podem ser elementos relevantes na promoção da imagem do país no exterior. Com sua rede de relacionamentos, podem ser canais para atração de investimentos, para a colocação de produtos brasileiros no exterior.
Internamente, com a experiência adquirida em apoio a políticas sociais, podem desempenhar papel relevante na disseminação de conceitos de gestão, inovação e capacitação a fornecedores, clientes, arranjos produtivos locais, universidades, institutos de pesquisa.
Para tanto, é fundamental definir formas de articulação com os executivos brasileiros das multinacionais -entendidos, por tal, aqueles que compartilham sentimentos de solidariedade e relações objetivas de interesse com o Brasil, independentemente de sua nacionalidade.
No grande quebra-cabeça da reconstrução do desenvolvimento, fica clara a importância da competitividade sistêmica, da inclusão social e do apoio às pequenas empresas. Mas há o desafio premente da tecnologia de ponta, em definir como e onde o país poderá se inserir nas próximas ondas tecnológicas.
Mas isso é tema para outra coluna.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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