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LUÍS NASSIF
O papel da grande empresa
Até os anos 90, a grande
empresa no Brasil era
uma ilha, em geral verticalizada ou mantendo relação distante e autoritária com fornecedores, consumidores e comunidade.
Há a notável exceção da Petrobras, que, a partir dos anos
70, ajuda na criação de uma
indústria de equipamentos,
com suas encomendas, e na
consolidação de um padrão internacional de qualidade no
setor, com suas exigências.
No início dos anos 90, três
episódios fornecem as bases para a mudança no papel da
grande empresa.
O primeiro, a idéia das Câmaras Setoriais, no governo
Collor, quando se começa a valorizar o conceito da cadeia
produtiva -substituindo a relação de subordinação entre a
grande empresa e seus fornecedores.
O segundo, a experiência da
Fiat em Minas, que define pactos de longo prazo com seus fornecedores, assegurando encomendas em troca de investimentos, qualidade e preços.
O terceiro, a criação do Prêmio Nacional de Qualidade,
que consolida novos paradigmas, com as grandes empresas
entendendo que sua competitividade dependia do grau de
competitividade sistêmica da
economia.
No decorrer dos anos 90,
ocorre também a profissionalização da gestão das grandes
empresas e surge uma nova geração de CEOs brasileiros comandando empresas nacionais
e multinacionais. A redemocratização passou a exigir executivos antenados com os novos tempos, com o papel da opinião pública e dos agentes sociais.
Ocorre, também, a implosão
em escala global da cadeia produtiva das grandes multinacionais, gerando uma competição
entre as filiais, para atração de
investimentos da matriz.
Todos esses fatos tornam os
executivos de filiais de multinacionais aliados naturais do
país. Se o país não der certo, a
filial murcha, e eles perdem. Se
a matriz aposta na filial, ganhamos todos.
O capital externo produtivo
será fundamental não apenas
pelos investimentos em si mas
por possibilitar transferência
de tecnologia, aumento de exportações. E, mais que isso, as
filiais de multinacionais podem ser elementos relevantes
na promoção da imagem do
país no exterior. Com sua rede
de relacionamentos, podem ser
canais para atração de investimentos, para a colocação de
produtos brasileiros no exterior.
Internamente, com a experiência adquirida em apoio a
políticas sociais, podem desempenhar papel relevante na disseminação de conceitos de gestão, inovação e capacitação a
fornecedores, clientes, arranjos
produtivos locais, universidades, institutos de pesquisa.
Para tanto, é fundamental
definir formas de articulação
com os executivos brasileiros
das multinacionais -entendidos, por tal, aqueles que compartilham sentimentos de solidariedade e relações objetivas
de interesse com o Brasil, independentemente de sua nacionalidade.
No grande quebra-cabeça da
reconstrução do desenvolvimento, fica clara a importância da competitividade sistêmica, da inclusão social e do
apoio às pequenas empresas.
Mas há o desafio premente da
tecnologia de ponta, em definir
como e onde o país poderá se
inserir nas próximas ondas tecnológicas.
Mas isso é tema para outra
coluna.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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