São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após seis anos, Japão abandona "juro zero"

Encerramento de uma década de deflação e previsão de volta do crescimento levam BC do país a aumentar taxa a 0,25%

Medida acompanha alta dos juros em outras economias desenvolvidas, como EUA e UE, que pode ter efeitos negativos para o Brasil


DA BLOOMBERG

O Banco do Japão (o banco central do país) elevou a taxa de juros básica da economia pela primeira vez em quase seis anos, com a previsão de crescimento sustentado no país, a segunda maior economia do mundo, e o encerramento de uma década de deflação.
O presidente do órgão, Toshihiko Fukui, e seus colegas do comitê de política monetária elevaram a taxa básica para 0,25% ao ano. O nível anterior era próximo de zero. No Brasil, para efeito de comparação, a taxa básica de juros (Selic) está em 15,25% ao ano.
O BC japonês elevou seus juros -que ainda são os mais baixos dos países do G7, o grupo das sete maiores economias do mundo- a fim de evitar bolha como a ocorrida na década de 1980, que foi seguida por queda acentuada dos preços da terra no país e por três recessões.
Os bônus japoneses subiram, e o iene recuou após Fukui ter dito que o banco pode manter a taxa de juros em um nível "bastante baixo" para dar respaldo ao crescimento do país, que tem sido impulsionado pelo maior ritmo de investimentos corporativos em 16 anos.
"Há um risco bastante real de que a economia japonesa entre em superaquecimento", disse Glenn Maguire, economista-chefe para a Ásia do Société Générale de Hong Kong. "Presenciaremos um ajuste para cima do juro gradual e sustentado."
Bancos centrais de todo o mundo vêm elevando suas taxas de juros, com os preços recorde do petróleo e dos metais estimulando o surgimento de pressões inflacionárias.
O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) elevou seus juros para 5,25% em sua última reunião, a 17ª alta consecutiva desde que a taxa estava em 1%, em junho de 2004.
O BCE (Banco Central Europeu) subiu os juros para 2,75% no mês passado, o terceiro ajuste desde dezembro de 2005.
A alta dos juros nos países desenvolvidos pode causar saída de capital de emergentes, como o Brasil. Isso acontece porque o investimento nos EUA ou na União Européia é menos arriscado do que no Brasil e sua rentabilidade cresce com os juros mais altos. Desde maio, os mercados têm passado por sucessivas turbulências, em razão de dúvida sobre o quanto as taxas nos EUA vão subir.

Política
A decisão de ontem do BC japonês foi unânime. Os 16 economistas ouvidos em pesquisa da Bloomberg previam o reajuste da taxa e nove consideram que a alta será a última do ano.
"Manter a política de juros zero poderia gerar grandes oscilações na economia e nos preços no futuro", disse Fukui. "Os ajustes futuros do nível dos juros serão realizados gradualmente", disse ele.
O BC japonês tem sofrido pressões de autoridades, entre as quais o ministro da Fazenda do Japão, Sadakazu Tanigaki.
Elas receiam que a alta dos juros prejudicará os esforços do governo para brecar a expansão da dívida pública, que deve alcançar 151% do PIB (Produto Interno Bruto) até março do ano que vem.


Com a Redação

Texto Anterior: Instabilidade vai continuar, diz Petrobras
Próximo Texto: Indício de desaquecimento na economia dos EUA ameniza perdas no mercado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.