São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2000


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CELULOSE
Reajuste é consequência da alta da cotação da matéria-prima no mercado internacional, informam fabricantes
Preço do papel sobe até 73% desde janeiro

Marcelo Min/Folha Imagem
Unidade de produção de caixas de papelão da Klabin, em SP


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta no mercado internacional do preço da celulose, matéria-prima básica para a produção de papel, resulta em reajustes de até 73% nos produtos derivados, como papel cartão, papel de imprensa e caixas de papelão, desde o início do ano passado até agora. A inflação no mesmo período, medida pela Fipe, foi de 11,12%.
Nos últimos 18 meses , só o preço do papel imprensa subiu 25%.
Os usuários de papel, como a indústria de embalagens, estão contestando os reajustes. Mas admitem que, desta vez, não estão conseguindo evitá-los, pois os preços da celulose estão em alta no mercado internacional, tendência que se verifica desde a metade de 99.
A celulose está cotada a US$ 690 por tonelada neste trimestre, informa a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel). No primeiro trimestre estava a US$ 620 e, no segundo, a US$ 660. No ano passado, esse valor variou de US$ 400 a US$ 600, em média.
"O que existe é uma recuperação dos preços da celulose", afirma Boris Tabacof, presidente da Bracelpa. Ele fala em recuperação porque considera que o preço histórico da tonelada da celulose é da ordem de US$ 700 a US$ 800. Esses valores, diz, remuneram o capital da indústria a ponto de ela manter os investimentos.
A tendência é a de os preços da celulose continuarem subindo, segundo especialistas desse mercado. Isso, dizem, porque a demanda está firme no mercado mundial e a oferta está mantida.
"A indústria de celulose fez grandes investimentos no início da década da 90 e acabou sofrendo no final dos anos 90 com as crises mundiais, pois os preços desabaram. Agora, ela está assistindo ao inverso: a retomada da demanda e dos preços", diz Tabacof.
A Klabin, fabricante de papel para embalagem e descartáveis, informa que, em decorrência da alta da cotação da celulose, os preços do papel para fabricar caixas de papelão subiram 20% nos últimos 12 meses e os do papel para fabricar os descartáveis, como papel higiênico, 45%, no período.
"A indústria de papel e celulose é conhecida por ser cíclica. Com a maturação dos investimentos e, consequentemente, com o aumento da oferta, os preços caem. Agora os preços estão voltando ao normal porque a demanda cresceu", afirma Josmar Verillo, diretor-geral da Klabin.
Segundo ele, o que derrubou os preços da celulose no final da década de 90 foi principalmente o aumento da produção de celulose da Indonésia. Para ele, a cotação da matéria-prima não deve subir muito mais do que a atual, mas pode chegar aos níveis históricos.
O impacto do aumento de preços dos derivados de papel nas indústrias não deve ser grande, na análise de Verillo. Segundo ele, a caixa de papelão representa, por exemplo, de 3% a 4% do preço final de um produto do setor alimentício. Em alguns setores, ela representa menos de 1%, diz.
A indústria de embalagens está bem mais preocupada com a alta da celulose. Sérgio Haberfeld, presidente da Abre, associação dos fabricantes de embalagens, informa que o papel para embalagem subiu 66% de janeiro de 99 até agora, e o papel cartão, 73%.
"Vamos ter de repassar alguma coisa, pois o papel representa de 50% a 55% do custo de uma embalagem. A cartolina chega a representar de 65% a 70%", afirma.
Segundo ele, se a indústria não conseguir reajustar os preços das embalagens, que já subiram cerca de 15%, em média, neste ano, elas vão quebrar, sobretudo as pequenas. "Está difícil reajustar preços."
Além da pressão dos aumentos de custos do papel, diz Haberfeld, o setor está enfrentando os reajustes das matérias-primas plásticas. Segundo ele, essas subiram entre 80% e 90% de janeiro de 99 até agora. "A situação é complicada. Se não repassamos os aumentos de preços, quebramos. Se repassamos, alimentamos a inflação."
Haberfeld diz que existem hoje no país cerca de mil indústrias de embalagens. Muitas delas, para enfrentar o aumento de preço da celulose, poderão até driblar o pagamento de impostos para tentar manter a competitividade.


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