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EM TRANSE
Sem mecanismo de defesa contra defasagem de papéis federais, classe média perde e aumenta saques em fundos
Pequeno investidor perde mais com títulos
LEONARDO SOUZA
FLÁVIA SANCHES
MARIANA MAINENTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os pequenos investidores, fundamentalmente a classe média,
são os maiores prejudicados pela
crise financeira que afeta o valor
dos títulos públicos federais.
Somadas as compras diretas
dos papéis do governo com os recursos que têm aplicados nos fundos de investimento, formam o
segundo maior grupo de investidores nesses títulos, atrás apenas
dos bancos.
As LFTs (Letras Financeiras do
Tesouro), os títulos públicos federais de maior participação na dívida interna, não param de perder
valor. Consequentemente, muitos
fundos de investimento têm apresentado resultados negativos, o
que tem motivado resgates por
parte dos investidores.
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional Rubens Sardenberg
disse ontem à Folha que a evasão
de cerca de R$ 50 bilhões dos fundos até julho fará com que eles
percam posição como detentores
dos títulos públicos.
"A mudança na composição da
dívida vai ser percebida quando
saírem os números de julho e
agosto", afirmou. Segundo ele, será constatada redução proporcional na participação dos fundos de
investimento e aumento da participação dos bancos no carregamento da dívida.
Pelos dados de junho, os bancos
detêm em carteira própria R$ 227
bilhões em títulos públicos. Os
FIFs (Fundos de Investimento Financeiro), quase R$ 204 bilhões.
Além disso, as pessoas físicas têm
outros R$ 5 bilhões aplicados diretamente em títulos públicos.
A diferença é que os pequenos
investidores -pessoas físicas-
não têm mecanismos para se defender da depreciação dos títulos.
Em maio, o Banco Central obrigou os administradores de recursos de terceiros a registrar os títulos públicos dos fundos de investimento pelo valor de mercado do
papel, e não mais pelo valor de
aquisição. Ou seja, quedas no valor dos papéis passaram a representar perdas imediatas nos investimentos dos cotistas. Ontem,
o BC mudou essa regra.
Já aos bancos, o BC permitiu a
possibilidade de registro dos papéis pelo valor de aquisição, desde
que carregados até o vencimento.
Isto é, se levassem os títulos até
seu prazo final, depreciações dos
papéis no mercado não seriam
contabilizadas.
Além disso, os investidores institucionais, como empresas, fundos de pensão e até mesmo os
bancos, podem ter fundos de investimentos exclusivos, os quais
também podem ter registrados os
papéis pelo valor de aquisição.
As turbulências também provocaram encurtamento dos prazos
de vencimento dos títulos. O
ideal, em condições normais, é
que haja alongamento da dívida,
porque, quanto maior o prazo,
menor o risco para o Tesouro. Em
maio, o prazo médio para pagamentos era de 35,1 meses. Em junho, caiu para 32,9 meses.
Os vencimentos dos papéis
num prazo de 12 meses aumentaram para 32,7% do total da dívida
em junho, contra 27,8% em maio.
Em junho, o Tesouro realizou
diversas operações de troca de papéis, mediante a compra de títulos com prazos mais longos (com
vencimento de 2004 a 2006) e a
venda com prazos mais curtos
(2002 e 2003), com o objetivo de
reduzir a volatilidade de preços
dos títulos.
Segundo Sardenberg, a redução
foi grande em cima de um percentual pequeno.
O secretário disse que é possível
encurtar ainda mais o prazo médio da dívida mobiliária (em títulos). "Estamos observando a indústria de fundos", disse.
Para ele, três fatores levaram os
investidores a saírem dos fundos:
a crise internacional; o processo
eleitoral; e fatores de mercado.
O administrador de recursos
atualmente dá preferência por papéis de curto prazo, segundo o secretário. "Ele tem de fazer dinheiro para pagar o quotista [quando
resgata o investimento"."
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