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LUÍS NASSIF
Os problemas da Embratel
O modelo de regulação
brasileiro se funda nas
agências reguladoras. É seu papel arbitrar conflitos e definir as
relações entre os diversos integrantes do mercado, assim como o de proteger os consumidores.
Ao entrar na Justiça contra a
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Embratel
colocou em risco o modelo. Em
sua defesa, alegou questão de
sobrevivência. Estaria sendo esmagada pelos custos de interconexão cobrados pelas empresas
de telefonia fixa e, na falta de
ação da Anatel, teria recorrido à
Justiça em última instância.
No entanto ouvindo-se todas
as partes, argumentos e números e, especialmente, analisando-se dados de balanço, constata-se que a Embratel padece de
problemas claros de gestão, de
decisões desastrosas que tomou
e de uma política de investimento imediatista e inibidora de
crescimento.
Os problemas de gestão ficam
claros no aumento acentuado
dos custos comerciais e administrativos. De 1998 a 2001, enquanto a receita líquida de interconexão subiu R$ 1,6 bilhão,
as despesas administrativas aumentaram R$ 1,8 bilhão e a inadimplência foi de R$ 1,15 bilhão.
Isso ocorreu em um período em
que não houve turbulências
maiores na área de longa distância, com a empresa praticamente dona do mercado corporativo.
No último balanço semestral,
as despesas administrativas da
Embratel aumentaram R$ 90
milhões, enquanto as de uma
Telemar caíram R$ 21 milhões.
De 2000 para 2001, o Ebitda da
Embratel registrou perda de
40%. A receita aumentou 11%
-compatível com o mercado,
mas os custos aumentaram
30%.
No item "despesas gerais e administrativas", as operadoras
locais caíram de 19% para 18%
da receita líquida. A Brasil Telecom caiu de 24% para 20%; a
Telemar, de 24% para 21%; enquanto a Embratel saltava de
15% para 32%. E nem se trata
de uma questão setorial, porque
em termos mundiais as despesas
administrativas da Sprint caíram de 32% para 28%, enquanto as da ATT se mantiveram em
20% de 1999 a 2001.
Enquanto as operadoras fixas
locais aumentaram sua base de
clientes de 5,5 milhões para 12,5
milhões reduzindo o número de
funcionários, a Embratel, mesmo com metas modestas para
atender, aumentou seu efetivo
de 8.000 para 12 mil empregados. No mesmo período, a Telefônica reduziu de 19 mil para 11
mil o quadro de funcionários; a
Telemar, de 32 mil para 27 mil;
e a Brasil Telecom, de 10 mil para 8.000.
De 1999 a 2001, as despesas de
venda, gerais e administrativas
da Telemar caíram de 24% para
21% da receita líquida; as da
Brasil Telecom, de 24% para
20%; e as da Telefônica, de 19%
para 18%. As da Embratel saltaram de 15% para 32%.
Os erros estratégicos foram de
duas naturezas. O primeiro, o
da companhia não se valer da
obrigação que tinham as operadoras fixas de fornecer o cadastro de clientes, preferindo montar o seu próprio. Resultou em
uma inadimplência que chegou
ao R$ 1,5 bilhão. De 1999 a 2001,
a inadimplência da Telefônica
aumentou de 1,5% para 3,4%
da receita; a da Telemar, de
3,3% para 8%; a da Brasil Telecom, de 1,6% para 5,3%, enquanto a da Embratel saltava
de 2,7% para 16,2%.
O segundo erro foi a guerra
suicida de tarifas com a Intelig.
No último ano, a receita com
longa distância nacional da
Embratel cresceu 16%. Já com
longa distância internacional
caiu 12%, por conta da guerra
de preços com a Intelig. A rentabilidade da longa distância
(Ebitda/receita líquida) caiu de
32% para 15% de 1999 a 2001.
Isso se deu em um quadro em
que praticamente não houve
competição com as operadoras
fixas, aliás, aparentemente muito mais interessadas em rentabilizar seus investimentos do
que em competir neste ano turbulento.
Finalmente, no campo dos investimentos, a Embratel jamais
cuidou de manter uma política
agressiva, inclusive para fugir
da dependência da interconexão. Enquanto a Telemar investiu R$ 18 bilhões após a privatização, e a Telefônica, R$ 15 bilhões, os investimentos da Embratel mal chegaram aos R$ 5
bilhões. Agora mesmo, para entrar na telefonia fixa, planeja
investir R$ 250 milhões, quantia
irrisória.
Em síntese, o modelo de telecomunicações brasileiro está
sendo colocado em xeque para que a Embratel tenha um álibi
para problemas que ela mesmo criou para si.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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