São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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LUÍS NASSIF

Os problemas da Embratel

O modelo de regulação brasileiro se funda nas agências reguladoras. É seu papel arbitrar conflitos e definir as relações entre os diversos integrantes do mercado, assim como o de proteger os consumidores.
Ao entrar na Justiça contra a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Embratel colocou em risco o modelo. Em sua defesa, alegou questão de sobrevivência. Estaria sendo esmagada pelos custos de interconexão cobrados pelas empresas de telefonia fixa e, na falta de ação da Anatel, teria recorrido à Justiça em última instância.
No entanto ouvindo-se todas as partes, argumentos e números e, especialmente, analisando-se dados de balanço, constata-se que a Embratel padece de problemas claros de gestão, de decisões desastrosas que tomou e de uma política de investimento imediatista e inibidora de crescimento.
Os problemas de gestão ficam claros no aumento acentuado dos custos comerciais e administrativos. De 1998 a 2001, enquanto a receita líquida de interconexão subiu R$ 1,6 bilhão, as despesas administrativas aumentaram R$ 1,8 bilhão e a inadimplência foi de R$ 1,15 bilhão. Isso ocorreu em um período em que não houve turbulências maiores na área de longa distância, com a empresa praticamente dona do mercado corporativo.
No último balanço semestral, as despesas administrativas da Embratel aumentaram R$ 90 milhões, enquanto as de uma Telemar caíram R$ 21 milhões. De 2000 para 2001, o Ebitda da Embratel registrou perda de 40%. A receita aumentou 11% -compatível com o mercado, mas os custos aumentaram 30%.
No item "despesas gerais e administrativas", as operadoras locais caíram de 19% para 18% da receita líquida. A Brasil Telecom caiu de 24% para 20%; a Telemar, de 24% para 21%; enquanto a Embratel saltava de 15% para 32%. E nem se trata de uma questão setorial, porque em termos mundiais as despesas administrativas da Sprint caíram de 32% para 28%, enquanto as da ATT se mantiveram em 20% de 1999 a 2001.
Enquanto as operadoras fixas locais aumentaram sua base de clientes de 5,5 milhões para 12,5 milhões reduzindo o número de funcionários, a Embratel, mesmo com metas modestas para atender, aumentou seu efetivo de 8.000 para 12 mil empregados. No mesmo período, a Telefônica reduziu de 19 mil para 11 mil o quadro de funcionários; a Telemar, de 32 mil para 27 mil; e a Brasil Telecom, de 10 mil para 8.000.
De 1999 a 2001, as despesas de venda, gerais e administrativas da Telemar caíram de 24% para 21% da receita líquida; as da Brasil Telecom, de 24% para 20%; e as da Telefônica, de 19% para 18%. As da Embratel saltaram de 15% para 32%.
Os erros estratégicos foram de duas naturezas. O primeiro, o da companhia não se valer da obrigação que tinham as operadoras fixas de fornecer o cadastro de clientes, preferindo montar o seu próprio. Resultou em uma inadimplência que chegou ao R$ 1,5 bilhão. De 1999 a 2001, a inadimplência da Telefônica aumentou de 1,5% para 3,4% da receita; a da Telemar, de 3,3% para 8%; a da Brasil Telecom, de 1,6% para 5,3%, enquanto a da Embratel saltava de 2,7% para 16,2%.
O segundo erro foi a guerra suicida de tarifas com a Intelig. No último ano, a receita com longa distância nacional da Embratel cresceu 16%. Já com longa distância internacional caiu 12%, por conta da guerra de preços com a Intelig. A rentabilidade da longa distância (Ebitda/receita líquida) caiu de 32% para 15% de 1999 a 2001. Isso se deu em um quadro em que praticamente não houve competição com as operadoras fixas, aliás, aparentemente muito mais interessadas em rentabilizar seus investimentos do que em competir neste ano turbulento.
Finalmente, no campo dos investimentos, a Embratel jamais cuidou de manter uma política agressiva, inclusive para fugir da dependência da interconexão. Enquanto a Telemar investiu R$ 18 bilhões após a privatização, e a Telefônica, R$ 15 bilhões, os investimentos da Embratel mal chegaram aos R$ 5 bilhões. Agora mesmo, para entrar na telefonia fixa, planeja investir R$ 250 milhões, quantia irrisória.
Em síntese, o modelo de telecomunicações brasileiro está sendo colocado em xeque para que a Embratel tenha um álibi para problemas que ela mesmo criou para si.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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