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São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2003

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BALANÇO

Débitos de elétricas ocasionam resultado negativo

Inadimplência causa 1º prejuízo semestral do BNDES desde 1991

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) registrou um prejuízo de cerca de R$ 1,3 bilhão no primeiro semestre deste ano. Trata-se do primeiro prejuízo do banco desde 1991, durante o governo de Fernando Collor de Mello.
De acordo com o que a Folha apurou, o prejuízo do banco se deve principalmente às provisões feitas para cobrir os débitos da AES/Eletropaulo e da Cemig.
Os empréstimos contraídos por essas duas empresas somam US$ 1,8 bilhão -US$ 1,2 bilhão da AES e US$ 600 milhões da Cemig. A AES está inadimplente com o banco desde fevereiro deste ano, e a Cemig, desde maio.
Apesar de as duas empresas estarem em atraso em apenas uma parcela da dívida, o BNDES decidiu provisionar no balanço o total da dívida das duas empresas. Ou seja, o banco decidiu lançar os R$ 4,8 bilhões do débito total da AES e da Cemig como prejuízo. Caso não tivesse feito esse provisionamento, o BNDES teria tido um lucro de R$ 900 milhões no primeiro semestre.
O BNDES afirma que o seu orçamento não ficará comprometido neste ano. Isso porque trata-se de um prejuízo contábil, já que a dívida da duas empresas seria paga no decorrer de vários anos. O que o BNDES fez foi lançar no balanço de uma só vez essa dívida como prejuízo.
Para este ano, as perspectivas são que o prejuízo do banco até aumente, em razão de outras operações realizadas no passado e que são consideradas, pela atual diretoria, como candidatas à inadimplência.
Entre essas operações, destaca-se o empréstimo concedido à American Eagle, subsidiária da American Airlines, para a compra de aviões da Embraer. O nível de risco de empréstimo do BNDES já foi rebaixado pelo banco, apesar de a empresa não estar inadimplente, e sua dívida também pode ser lançada como prejuízo no balanço.
O BNDES pretende, no entanto, recuperar as perdas com a AES e a Cemig, no futuro, quando as ações das duas empresas se valorizarem no mercado. O banco é detentor de uma participação expressiva no capital das duas empresas, que foi dado em garantia pelos empréstimos.
O BNDES espera, no entanto, que as ações das duas empresas se valorizem quando a economia voltar a crescer.
Segundo apurou a Folha, o BNDES já deveria ter registrado prejuízo no balanço do ano passado, e não um lucro de R$ 550 milhões, como foi anunciado. Pelas contas do banco, o prejuízo teria sido de R$ 456,6 milhões, por conta do provisionamento de créditos duvidosos (que não foi feito no ano passado).
Apesar de o prejuízo não afetar o programa de investimentos do banco, o BNDES está pedindo ao Ministério da Fazenda uma injeção de recursos do Tesouro para engordar o seu orçamento para os próximos anos.
O argumento é que, nos últimos oito anos, todo o lucro registrado pelo banco foi transferido para o Tesouro para aumentar os números do superávit primário, o que fez encolher o capital do BNDES.
Para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento do país, o BNDES acha que precisa melhorar sua estrutura de capital, e, para isso, será necessária uma injeção de recursos do Tesouro. O Ministério da Fazenda ainda não se pronunciou a respeito do pedido do BNDES.


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