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São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2003

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Lucro da Embraer tem queda de 90%

ELIANE MENDONÇA
DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A Embraer, segunda maior exportadora brasileira, registrou uma queda de quase 90% no lucro líquido no segundo trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado. O ganho de R$ 21 milhões (ante R$ 166,5 milhões em 2002) é o pior resultado da empresa desde o primeiro trimestre de 1999, quando lucrou R$ 15,12 milhões.
Para o diretor-presidente da Embraer, Mauricio Novis Botelho, a desvalorização do dólar e a demora no repasse de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) foram os principais responsáveis pela piora no balanço.
A companhia, uma das maiores do mundo no setor de aviação, fechou o primeiro semestre com lucro de R$ 218,8 milhões -queda de 36% em relação ao resultado do mesmo período do ano passado -R$ 342,8 milhões.
Segundo Botelho, houve um atraso de seis meses para a liberação de recursos do BNDES. Durante o período, ocorreu grande variação cambial, o que acarretou a liberação de recursos em valor inferior ao anteriormente acordados com a empresa -o que ocasionou um desequilíbrio no caixa.
A direção do banco informou que comentaria o assunto somente hoje. "O BNDES registrou uma redução de caixa com a valorização do real, e isso afetou os repasses, já que fez o banco chegar ao seu limite de financiamento", afirmou Botelho.
Apesar de enfatizar a participação do BNDES na queda do lucro da empresa, Botelho ressaltou que não se trata de uma resistência do banco com a empresa.
"Temos uma relação de ajuda mútua. No entanto entendemos que o BNDES passa pelas mesmas dificuldades que enfrentamos, já que está com um orçamento limitado, também em razão da desvalorização do dólar", declarou.
O dinheiro do BNDES é usado no financiamento às exportações da companhia. O presidente do banco, Carlos Lessa, já demonstrou intenção de reduzir os repasses à Embraer e sugeriu que a empresa procurasse novos financiadores, a fim de que a instituição pudesse ter mais recursos para apoiar outros exportadores. "O BNDES não é a única fonte de financiamento de aviões do mundo", afirmou Lessa em maio.
Os pedidos em carteira em 30 de junho totalizavam US$ 27,1 bilhões, sendo US$ 10,3 bilhões em ordens firmes e US$ 16,8 bilhões em opções. O Ebitda (lucro antes de despesas financeiras, impostos, depreciação e amortização) no trimestre foi de R$ 322,2 milhões, inferior aos R$ 429,5 milhões do mesmo período de 2002.
No segundo trimestre, foram entregues 28 jatos, ante 30 no mesmo período do ano passado e 23 no primeiro trimestre de 2003.

Varig
Botelho também citou a inadimplência da Varig como um dos problemas enfrentados pela Embraer. A companhia aérea tem 15 aviões da Embraer.
A Folha não conseguiu contato com a direção da Varig ontem para se pronunciar sobre o assunto.
"Temos um acordo com o BNDES, enquanto órgão financiador, de colaborar com o banco em casos como esse. Mas a recolocação de um produto no mercado significa que esse produto está tomando lugar de um avião novo. O que, evidentemente, não é bom para a empresa", disse.
O balanço da Embraer frustrou as previsões da maioria dos analistas do mercado, que estimava um lucro entre R$ 150 milhões e R$ 250 milhões.
Mas, a despeito de a empresa ter o chamado ""hedge natural", uma vez que é exportadora, analistas questionaram a razão de não ter procurado outras formas de hedge (uma vez que a maioria de seus insumos é importada). ""Boa parte dessa variação monetária negativa é resultado de atraso no repasses", disse Pedro Galdi, analista do Sudameris. ""Mas é surpreendente a empresa não ter tido nenhum investimento maior em busca de hedge", completou.


Colaborou José Alan Dias, da Reportagem Local


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