São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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MARÉ BAIXA

Para centro de pesquisa britânico, preços das commodities ficarão estagnados; impacto na economia brasileira é incerto

Comércio esfria em 2005 e ameaça emergente

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço das commodities no mercado internacional deve encerrar 2004 com uma alta acumulada de 14%. Mas, em 2005, a cotação desses produtos deve permanecer estagnada.
As projeções são da EIU (Economist Intelligence Unit), braço de pesquisas econômicas do grupo britânico que edita a revista "The Economist". Os cálculos excluem o petróleo.
Há outro prognóstico também que não é lá muito alentador para os países emergentes, sobretudo aqueles que tiveram o crescimento da economia sustentado pelas exportações.
O recuo dos preços das commodities será acompanhado de um declínio do ritmo de expansão do comércio global. Neste ano, espera uma taxa de crescimento de 8,6%. Em 2005, 7,4%.
Segundo Emily Morris, economista-sênior para a América Latina da EIU, os efeitos de um desempenho neutro do mercado internacional de commodities ainda não são claros. "Não sabemos ainda que impacto isso poderia ter para o Brasil. A cesta de exportações brasileiras é muito complexa e diversificada", avaliou.
Para este ano, a EIU calcula que o país acumulará um superávit na balança comercial de US$ 26,4 bilhões. Confirmada a previsão, o resultado colocará o Brasil na quarta colocação entre os países emergentes com maior saldo de exportações.
O levantamento, feito a pedido da Folha, mostra que Arábia Saudita, Rússia e China ficam, respectivamente, nas três primeiras posições. Os dois primeiros países contam com um grande volume de vendas externas de petróleo por trás do desempenho positivo.
A previsão do centro britânico de pesquisas é mais conservadora que as estimativas do ministro do Desenvolvimento brasileiro, Luiz Fernando Furlan. Na última sexta-feira, Furlan elevou a meta de exportação do ano de US$ 88 bilhões para US$ 90 bilhões. A do superávit passou de US$ 28 bilhões para US$ 30 bilhões.
"O desempenho do saldo do Brasil é impressionante, mas o país se beneficiaria de um aumento das importações", diz Morris. Neste ano, o Brasil deve importar US$ 58,3 bilhões. Em 2005, US$ 63,1 bilhões. O ímpeto importador brasileiro ainda não deve comprometer o saldo comercial. No próximo ano, o superávit deve atingir US$ 26,6 bilhões, ainda segundo a EIU.

Menor vulnerabilidade
A dinâmica das exportações brasileiras tem ajudado o Brasil a superar a sua vulnerabilidade externa. Na avaliação de Morris, a blindagem contra choques externos está mais reforçada, mas a relação entre a dívida externa do país e as vendas externas ainda não vai tão bem.
De acordo com a EIU, essa relação está se estreitando, mas ainda é alta em comparação com os demais emergentes. Em 2004, a dívida externa líquida deverá ficar em torno de duas vezes as exportações brasileiras de bens e serviços. "A economia brasileira ainda não é muito aberta em relação aos outros países emergentes, mas ela tem potencial para um incremento dessa abertura", diz.
Sobre o impacto da dívida na cotação do real, a economista argumenta que: "Esse peso da dívida tem feito a moeda brasileira subvalorizada. (...) Isso, em parte, explica a competitividade das exportações do Brasil".
Se o caminho do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil poderá ser atrapalhado por um cenário externo menos favorável, a boa notícia, diz a economista, é que o setor doméstico vai consolidar a retomada. Isso, explica Morris, sustenta a previsão de aumento das importações.
Mesmo com o aspecto doméstico positivo, a previsão de menor dinamismo do comércio mundial afeta a estimativa de crescimento do PIB. Para este ano, a EIU projeta 4%. No próximo ano, 3,1%.

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