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Trabalhador da VW aprova acordo no ABC
Em assembléia tensa e dividida, funcionários aceitam plano de demissão voluntária, que prevê corte de 3.600 empregos
Para presidente da Volks,
no Brasil, decisão assegura
"futuro da fábrica'; grupo
ameaçou demitir 6.000 e
fechar unidade do ABC
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma assembléia tumultuada e dividida, os trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo aprovaram
ontem acordo negociado com a
montadora para demitir 3.600
trabalhadores da fábrica por
meio de um programa de demissão voluntária.
Mais antiga fábrica do grupo
VW no Brasil, a unidade do
ABC emprega 12.400 funcionários e era alvo de um impasse
que começou há quatro meses,
quando a montadora anunciou
seu plano de reestruturação para cortar custos e atrair investimentos da matriz alemã.
O Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC (CUT) informou que
70% dos 12 mil funcionários
presentes à assembléia aprovaram o acordo. Mas, como os
trabalhadores têm de erguer os
braços para votar, a impressão
era de que a rejeição foi maior.
Para integrantes da oposição,
filiados ao Conlutas (central
sindical ligada ao PSTU), 55%
aprovaram a proposta.
Com o resultado de ontem, o
desligamento dos funcionários
será feito em 11 etapas a partir
deste mês até dezembro de
2008. A adesão ao PDV garante
o pagamento de 0,3 a 1,4 salário
extra por ano trabalhado, conforme a data de adesão ao plano, além das verbas rescisórias.
O benefício será maior para
os primeiros inscritos. Na primeira fase, a VW disse esperar a
inscrição de 1.300 trabalhadores e impôs um limite de 1.500
adesões -só eles receberão 1,4
salário por ano trabalhado.
Nas demais etapas, o incentivo é menor. Essa era uma das
principais críticas dos empregados ao pacote durante e após
a assembléia. "Por que não pagam 1,4 salário a mais para todos?", questionava Marcelo
Godoy, 35, preparador de máquinas, há 13 anos na fábrica.
Na avaliação dos sindicalistas, a procura pelo pacote deve
ser maior do que o limite estabelecido pela fábrica. "Não sei
dizer quantos vão aderir. Mas,
em 2003, a meta era de 500
adesões e 1.900 se inscreveram", afirmou José Lopez Feijóo, presidente do sindicato.
Em contrapartida à aprovação do acordo (necessário para
reduzir em 15% os custos com
mão-de-obra), a montadora se
compromete a produzir dois
novos veículos no ABC e põe
fim à ameaça de fechamento da
fábrica feita em agosto.
A empresa chegou a distribuir 1.800 cartas de demissão
avisando que os operários seriam desligados a partir de 21
de novembro, quando termina
acordo de estabilidade na fábrica. Com a proposta aprovada,
as cartas estão canceladas.
"Ao aprovar o acordo, os empregados da Anchieta sinalizaram, com clareza, que querem
assegurar o futuro da fábrica",
disse o presidente da VW do
Brasil, Hans-Christian Maergner, em comunicado. "Com isso, a Volkswagen do Brasil entra em nova fase, em que a retomada de sua rentabilidade por
meio de operações mais competitivas se torna realidade."
Cerca de R$ 1 bilhão será investido em dois novos veículos
(um carro popular e uma picape), segundo o sindicato. Sobre
a pressão do governo Lula na
crise da Volks, Feijóo afirmou
que "foi correta".
Clima tenso
Sob críticas e vaias de um
grupo de trabalhadores, o presidente do sindicato dizia que
"esse foi o melhor acordo possível de se conseguir na mesa de
negociação". Enquanto isso,
cartazes eram mostrados com
os dizeres: "Feijóo mentiu
quando disse que estava com
raiva da VW e que não aceitaria
demissão em seu currículo".
Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, disse que
críticas eram isoladas: de trabalhadores afastados desde 2003
no Centro de Formação e Estudos, criado para absorver "excedentes". Parte deles está de
licença e parte estuda.
Para esse grupo de 500 funcionários, a VW oferece incentivos menores -0,4 a 0,6 salário por ano de serviço, conforme a data de adesão. "O sindicato já prepara uma ação coletiva para pedir a equiparação do
benefício com os demais trabalhadores", afirmou Feijóo.
No final da assembléia, o sindicalista deixou o pátio da
Volks escoltado por um grupo.
Ao ser questionado se eram seguranças, ele disse que eram
"militantes e trabalhadores".
"Foi uma vitória da fábrica e
uma derrota para os trabalhadores", disse Rogério Romancini, ligado à oposição.
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