São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Recuperação foi maior para os mais pobres

Renda média do trabalhador voltou aos níveis de 1999; já os 50% mais pobres recuperaram o poder de compra de 1996

Apesar do avanço dos rendimentos da população, desigualdade no país ainda diminui "de forma suave", na avaliação do IBGE

DA SUCURSAL DO RIO

A renda do trabalhador cresceu pelo segundo ano seguido, mas, para a média do país, ainda não foi possível recuperar o poder de compra de 1996, época em que o país ainda vivia o auge dos efeitos do Plano Real. As perdas de 2006 em relação a 1996 foram de 8,9%.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostram que a renda média do trabalho avançou 7,2% no ano passado, o maior ritmo de expansão desde 1995. O valor da renda média do país no ano passado chegou a R$ 888, patamar idêntico ao de 1999.
Na prática, os 50% mais pobres foram mais beneficiados e recuperaram o poder de compra de 1996. O valor do rendimento médio dessa parcela da população, no entanto, era de R$ 293, abaixo do salário mínimo do ano passado, de R$ 350. Em 2006, o rendimento médio cresceu 8,52%.
Já os 50% mais ricos da população, com renda média de R$ 1.482, ainda não voltaram ao patamar de 2001, quando ganhavam em média R$ 1.495.
"O Brasil viveu uma fase de estagnação trabalhista, em todos os sentidos, de renda e emprego, que começa a ser superada. A queda da renda expôs a pior face dessa crise. Quando se olha o retrato do Brasil, a figura ainda é muito ruim, mas, quando se observa a trajetória, verifica-se que houve avanço", afirma Marcelo Neri, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas).
No governo Lula, a renda cresceu a um ritmo de 1,1% ao ano. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o reajuste de 13,3% do salário mínimo no ano passado foi determinante para o crescimento da renda. Outro fator citado por especialistas foi a manutenção dos preços sob controle. Em 2006, a inflação encerrou o ano com alta de 3,14%.
Segundo João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, o salário mínimo tem colaborado para reduzir a desigualdade porque afeta tanto o rendimento dos trabalhadores como o piso das aposentadorias. "O crescimento de 7,2% da renda não é excepcional, mas foi bom para o padrão brasileiro. Com o aumento da formalização, o rendimento tende a crescer. Quem tem carteira de trabalho assinada ganha mais. Ao mesmo tempo é frustrante pensar que você precisa levar mais de uma década para voltar ao que era no Real", disse.

Desigualdade
Apesar da expansão mais forte da renda, o IBGE avalia que o ritmo de queda da desigualdade ainda é "suave". Em 2005, a renda havia aumentado em 4,6%. O índice de Gini do trabalho passou de 0,544 em 2005 para 0,541 no ano passado. O índice varia de 0 a 1, quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. Desde 1993, não cresce a desigualdade no país.
"Em que pese, ano após ano, os indicadores de distribuição de renda se mostrarem favoráveis, a velocidade é muito pequena ante a desigualdade no país", afirmou o presidente do IBGE, Eduardo Nunes.
A análise da concentração dos rendimentos mostra que os 10% mais pobres detinham 1% do total dos rendimentos no ano passado. Já os 10% mais ricos concentravam 44,4% do total de remunerações. Desde o ano de 2004, esse patamar sofreu poucas alterações. À época, os mais ricos representavam 44,7% da renda.
De acordo com a pesquisa, os 10% mais ricos da população recebiam um rendimento médio mensal de R$ 3.947 no ano passado.
Na avaliação de especialistas, no entanto, a queda da desigualdade tem sido expressiva. "É uma queda forte que reflete o impacto do salário mínimo e de políticas sociais, como o Bolsa Família", afirma Sonia Rocha, pesquisadora do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
"O país tinha antes uma desigualdade inercial, que praticamente não mudava, um cenário que começou a mudar nos últimos anos. Pequenas alterações nesses números podem significar grandes mudanças nos estratos sociais", afirmou Neri.
A renda média de todas as fontes, que inclui trabalho, aposentadorias e programas sociais, cresceu a um ritmo menor do que a do trabalho. De 2005 para 2006, houve alta de 6,2%, e o valor chegou a R$ 878.
Apesar dos avanços, as diferenças regionais continuam marcantes. No ano passado, 12,7% dos domicílios com rendimento tinham renda de até um salário mínimo. Na região Nordeste, esse percentual chega a 25,3%, e, no Sul, fica em 7,6%. Apenas 3% dos domicílios com renda tinham um patamar superior a 20 salários mínimos. No Sudeste, esse percentual chega a 3,8%, mas, no Nordeste, fica em 1,5%.


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