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ARTIGO
"Disclosure" às avessas
HOMERO AMARAL JÚNIOR
e GREGORIO MANCEBO RODRIGUEZ
Companhia de capital aberto é
aquela cujos valores mobiliários
são objeto de colocação e negociação pública junto ao mercado de
capitais, após registro na CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). Entre os principais títulos,
temos as ações, admitidas para negociação nas Bolsas de Valores, e
as debêntures, no mercado de balcão.
É dever do acionista majoritário
de uma companhia aberta, seja
uma empresa controlada por capitais privados ou de economia mista, atender às normas legais quanto à publicação de demonstrativos
financeiros e ao encaminhamento
para a CVM e as Bolsas das informações que possam interferir na
formação do preço do papel no
mercado. Ele deve ainda ter como
prática uma saudável política de
distribuição de dividendos e a realização de reuniões periódicas com
os analistas, ou seja, uma boa política de "disclosure".
No caso do mercado de capitais
brasileiro, já altamente concentrado, a falta de "disclosure" é um
dos principais aspectos que influem na perda da liquidez da
maioria dos papéis, levando à concentração exatamente naqueles
mais líquidos.
Os setores de telecomunicações e
energia elétrica, capitaneados pelas ações da Telebrás e da Eletrobrás, concentram atualmente cerca de 80% do volume das ações negociadas nas Bolsas, constituindo-se no principal foco de atenção
dos investidores nacionais e internacionais.
O descaso e a forma como o governo vem divulgando as decisões
relativas às privatizações das empresas desses setores vêm se constituindo num desrespeito ao acionista minoritário. O governo, como acionista majoritário, vem
realizando um "disclosure às
avessas", criando incertezas e gerando movimentos especulativos
que arranham a imagem das empresas e do país.
O simples anúncio de privatização de empresas, sem os devidos
esclarecimentos quanto à estrutura futura que elas terão ou à forma
como se realizará esse processo,
contribui ainda mais para gerar
um clima de incerteza e especulações.
Isso mostra uma postura inadequada das nossas autoridades,
principalmente com a política de
divulgar pela imprensa, a "conta-gotas", informações truncadas
que afetam a formação do preço
das ações em Bolsa, causando sérios prejuízos aos investidores.
As empresas serão cindidas, incorporadas ou fundidas? Qual será
a estrutura futura das atuais holdings? Cabe lembrar que tanto a
Telebrás como a Eletrobrás passarão a atuar como holdings puras,
perdendo a contribuição da rentabilidade obtida pela geração e distribuição da energia elétrica.
No caso da Telebrás, temos como provável a concentração das
empresas estaduais em três (ou serão cinco, ou ainda nove? Quem
sabe sejam 13?), que posteriormente seriam objeto de privatização, total ou parcialmente. De
qualquer forma, a receita futura da
Telebrás estará também bastante
comprometida.
Obviamente, o programa de desestatização, principalmente no
que tange aos setores de telecomunicações e elétrico, deve continuar
comandando os humores do nosso mercado acionário.
Assim, compete ao governo, como acionista majoritário, e ao
BNDES, como gestor do Programa
Nacional de Desestatização, dar os
devidos esclarecimentos sobre o
processo ou apenas se manifestar
quando for possível. Utilizar-se
convenientemente do "disclosure", possibilitando a todos os investidores, independente do seu
porte e importância, o acesso às
informações necessárias, a fim de
que se possam avaliar convenientemente o risco e o retorno do investimento.
Consideramos que a CVM, como órgão regulador, deve tomar
conhecimento prévio do que se
pretende realizar e até contribuir
para aparar arestas que possam retardar o processo de privatização.
No entanto, com relação às empresas abertas de economia mista
controladas pelo governo, seria
extremamente importante que a
divulgação do programa de privatização desses setores fosse feita
prioritariamente no Brasil, já que
as Bolsas brasileiras são os centros
formadores dos preços dessas
ações. Pode-se admitir, em última
instância, uma divulgação simultânea no país e no exterior.
Por parte das empresas, esperamos que sejam publicados na forma de "fato relevante" os possíveis efeitos, não deixando seus
acionistas à mercê das especulações.
O investidor necessita de informações claras e precisas sobre o
processo de privatização e suas
consequências. Se essas informações não foram devidamente discutidas ou se não existe consenso a
respeito do processo, a melhor
postura por parte das autoridades
é não divulgar informações truncadas ou imprecisas, que aumentam ainda mais a volatilidade das
ações e o risco de o investidor se
aplicar no mercado.
Homero Amaral Júnior, 51, é presidente da
Ancor (Associação Nacional das Corretoras de
Valores).
Gregorio Mancebo Rodriguez, 45, é presidente da Abamec (Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais) nacional.
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