São Paulo, Sexta-feira, 15 de Outubro de 1999
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Medidas são "boas intenções", dizem lojistas


FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

As medidas anunciadas pelo governo para diminuir os juros cobrados dos consumidores são consideradas "boas intenções" para lojas e financeiras, mas ainda insuficientes para resultar na redução das taxas no curto prazo.
A inadimplência, segundo especialistas em varejo e em crédito ouvidos pela Folha, tem grande participação na definição dos juros, e continua ainda elevada, apesar de estar menor do que há dois anos, quando atingiu o pico.
Na análise de lojistas e executivos de financeiras, os juros tendem a cair de forma mais significativa quando o consumidor tiver capacidade para renegociar as dívidas. E isso, dizem, só será possível com a diminuição do desemprego e com reajustes salariais.
Na Lojas Cem, os juros continuam como estão. "É que a inadimplência continua estabilizada em 3,5% sobre o valor financiado, diz Natale Dalla Vecchia, diretor. Segundo ele, a inadimplência bateu em 7,5% em 97, mas antes de 94 não passava de 1%.
Dalla Vecchia não vê, pelo menos a curto prazo, condições para que a inadimplência diminua. Os juros, portanto, vão se manter entre 1,6% ao mês e 4,5% ao mês, incluindo o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), no financiamento até 12 meses.
A Cred 1, prestadora de serviços do banco Matrix para financiamento ao consumidor, também não vai mexer nas taxas, pelo menos por enquanto.
A Cred 1, que administra o crediário de cerca de mil pontos-de-venda, entende que a inadimplência, o custo operacional da empresa e a taxa de juros básica da economia definem os juros cobrados dos consumidores.
"Nada disso mudou hoje (ontem)", afirma Mauro Wulkan, sócio-diretor da Cred 1. A redução do IOF nas operações de crédito de pessoas físicas, de 6,5% para 1,5%, diz, vai resultar na redução da prestação e não dos juros.
O fato de o governo ter zerado a taxa que os bancos recolhem ao Banco Central (BC) sobre os depósitos a prazo terá pouco impacto. "Já existe mais dinheiro no mercado, só que isso não resultou em redução dos juros por causa do risco da inadimplência."
Na Cred 1, diz ele, a inadimplência está estabilizada em 6,5% sobre as vendas financiadas no plano médio de financiamento, que é de cinco meses. No prazo mais longo, de até 12 prestações, a inadimplência chega a 12%.
"Se o calote diminuiu um pouco é porque estamos sendo mais rigorosos na liberação do crédito e não porque o consumidor está ganhando mais dinheiro ou porque reduziu o desemprego."
Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, diz que a boa notícia é a decisão do governo de criar sistemas para identificar quem são os bons e os maus pagadores. "As medidas têm boas intenções. É preciso dar tempo para que dêem resultados."
A diretoria do Ponto Frio entende que as medidas para reduzir os juros cobrados dos consumidores terão efeito, mas não imediato. "A inadimplência precisa diminuir para que os lojistas e as financeiras se animem e reduzam os juros", diz David Epsztejn, diretor.
No Ponto Frio, o consumidor paga juros de 3% a 7,7% ao mês, incluindo o IOF. "Vamos ver como o mercado vai se comportar."




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