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COMENTÁRIO
Arrocho deve aumentar
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A elevação dos juros para
21% ao ano torna praticamente certa a necessidade de revisão dos parâmetros e metas do
acordo com o Fundo Monetário
Internacional já no próximo mês.
Em bom português, o FMI deverá
exigir mais corte de gastos do governo, deste e do próximo.
Embora o acordo tenha sido fechado há pouco mais de cinco semanas, caducou todo o cenário
que servia de base para as negociações com o Fundo e que tornaram possível um empréstimo de
cerca de US$ 30 bilhões para o
país. Esperavam-se taxas de juros
em queda, dólar a R$ 3 e dívida
pública de 59% do Produto Interno Bruto no final deste ano, algo
como R$ 770 bilhões.
Nos patamares atuais do dólar,
a dívida supera as projeções em
mais de R$ 100 bilhões. Todos
prevêem um recuo na cotação da
moeda americana até o final do
ano, mas o próprio Banco Central
passou a usar a cotação de R$ 3,20
nos seus cálculos para 2003.
Se o efeito do câmbio sobre a dívida pode ser transitório, o mesmo não se dá com os juros. Ainda
que as taxas definidas pelo Banco
Central caiam em breve, o aumento de dívida que produzirão
será permanente.
Nem o governo, preocupado
em conter o pessimismo, nem a
oposição, favorita nas eleições
presidenciais, falam abertamente
no assunto, mas tudo aponta para
uma negociação difícil com o FMI
em novembro.
Pelo acordo com o Fundo, o governo terá de garantir um superávit primário (a parcela das receitas destinada ao pagamento de juros) de 3,75% do PIB, cerca de R$
53 bilhões, em 2003 -o que, pelo
cenário desenhado no mês passado, seria suficiente para deter a escalada da dívida pública.
O acordo estabelece revisões periódicas da conjuntura econômica, que poderão levar a metas
mais rígidas em caso de piora dos
indicadores econômicos. A primeira delas será iniciada no próximo mês e concluída em 6 de dezembro.
O presidente eleito, seja Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) ou José
Serra (PSDB), deverá ser representado nas negociações. No primeiro caso, pelo menos, é provável que venha a haver resistência
em relação a novos apertos no
gasto público.
Mas, considerando provável
que a turbulência financeira permaneça até o desfecho do segundo turno da eleição, será preciso
conseguir uma melhora radical
das expectativas do mercado em
menos de 30 dias a fim de evitar a
necessidade de mais arrocho.
Há duas outras variáveis a serem consideradas nas negociações. A primeira seria imaginar
um crescimento econômico acima dos 3% projetados no acordo,
o que poderia atenuar a pressão
por um ajuste fiscal adicional
-essa possibilidade ficou mais
remota com a elevação da taxa básica de juros.
A segunda é a hipótese, cada vez
mais considerada, de alta da inflação em 2003. Uma taxa acima dos
5% esperados pelo Banco Central
expandiria o valor em reais da
produção do país e da arrecadação do governo, o que ajudaria a
conter a proporção da dívida pública em relação ao PIB.
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