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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Setor em SP contrata mais do que demite em setembro; Fiesp, porém, ainda não vê retomada econômica

Após "ressaca", indústrias contratam mais

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Após cinco meses consecutivos de queda no nível de emprego industrial -desde abril o setor fechava mais vagas do que abria-, em setembro o saldo ficou positivo. Foram criados 4.383 postos de trabalho (equivale a metade de uma siderúrgica como a Usiminas) pelo setor no Estado de São Paulo. Isso equivale a uma expansão de 0,29% no número de vagas em setembro sobre agosto.
Os dados foram apresentados pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ontem. Com isso, setembro de 2003 apresentou o melhor resultado para o mês desde 2000. E foi o segundo melhor mês do ano para o indicador. Isso, de certa forma, "anula" as perdas em agosto, quando foram demitidos mais de 3,9 mil empregados.
A entidade, no entanto, fez questão de descartar a hipótese de que o resultado seja reflexo de uma retomada econômica na indústria paulista. Mais do que isso: demonstrou, por meio de números, que a contratação de trabalhadores ocorreu em setores exportadores. É uma meia verdade.
Exemplo: o setor de calçados foi o campeão em contratações em setembro, com elevação de 8% no nível de emprego em relação a agosto. Mas esse é um segmento que atende, em grande parte, o mercado interno. Dos 640 milhões de pares produzidos anualmente no país, de 20% a 30%, no máximo, são enviados para fora.
E mais: no mês de setembro, em relação a agosto, houve queda das exportações de calçados de 12%, diz a Abicalçados, entidade que representa as empresas.
Além de calçados, os melhores desempenhos ficaram com o setor de congelados e supercongelados (suco de laranja, por exemplo) e calçados produzidos em Franca (SP) -que são analisados pelo estudo separadamente.
O setor de bebidas, papelão e fundição (os dois últimos com boa parte da produção para atender basicamente o mercado interno) tiveram aumento nas contratações também. Grandes empresas de fundição, por exemplo, admitem pessoal para produzir eixo de vagão para ferrovias no país.
A Fiesp, porém, afirma que "ainda hão há sinal claro de retomada na economia, mas uma perspectiva apontando para isso". Afirma ainda que "foi o extraordinário resultado das exportações em alguns setores que puxou a alta no emprego", diz Clarice Messer, diretora da Fiesp.
Para defender seu raciocínio, Messer afirma que setores como massas e biscoitos, esquadrias e construção metálica e aparelhos elétricos -que atendem a demanda interna em grande parte- tiveram resultados negativos no nível de emprego.
Na análise de economistas ouvidos pela Folha ontem, ainda é difícil ter uma noção clara do que ocorre em todos os setores e há riscos nas generalizações. Mas há uma unanimidade: nem sempre o indicador de nível de emprego é o que melhor reflete a temperatura da atividade econômica. Ou seja, mesmo que vagas tivessem sido fechadas em setembro, o resultado não poderia ser interpretado como sinônimo de retração.
Isso porque pode ocorrer um aumento no ritmo de produção de uma indústria sem, porém, que seja preciso contratar mais mão-de-obra. O recente aumento na produtividade e os investimentos tecnológicos ajudaram as empresas a fabricar mais sem precisar contratar tantos funcionários como no passado.
Para a Fiesp, o setor deve fechar o ano com 6,5 mil vagas a menos do que em 2002 -quando já foram fechados 68,9 mil postos.


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