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POLÊMICA
Medida que permite plantio de soja geneticamente modificada deve ser publicada hoje; herbicida segue proibido
MP vai liberar transgênico "pela metade"
MARTA SALOMON
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dezessete dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informar que não o faria, o Palácio
do Planalto divulgou ontem o
teor de mais uma medida provisória para liberar o cultivo de soja
transgênica no país. Será a oitava
safra brasileira plantada a partir
de sementes contrabandeadas da
Argentina. A comercialização ficará liberada até o início de 2006.
O texto da medida provisória,
que seria assinado ainda ontem
pelo presidente Lula, será publicado na edição de hoje do "Diário
Oficial" da União. O texto foi divulgado sem a assinatura de Lula
porque o presidente deixou o Palácio do Planalto antes de serem
concluídas mudanças na redação
da medida provisória.
A MP veda a comercialização do
grão da soja como semente, bem
como o uso em propriedade situada em Estado distinto daquele
em que foi produzido.
O plantio e a comercialização da
safra de soja do ano de 2005 só poderá ser realizado por aqueles
produtores que assinarem o Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta, o que terá de ser feito até dezembro deste ano. Quem não assinar o termo de compromisso,
que poderá ser entregue nas agências da Caixa Econômica Federal,
do Banco do Brasil ou dos Correios, ficará impedido de receber
financiamento agrícola.
Como já aconteceu na safra passada, o governo resolveu pela metade a ilegalidade do cultivo da soja transgênica. O uso do herbicida
glifosato nos pés de soja depois de
as sementes brotarem, que constitui a principal vantagem do grão
geneticamente modificado, continua proibido por lei.
"O produtor que utilizar herbicida à base de glifosato na pós-emergência da soja estará sujeito
a advertência, multa de até R$ 19
mil e destruição do todo ou parte
da plantação ou dos grãos colhidos", afirma alerta divulgado no
endereço eletrônico do Ministério
da Agricultura, com base na Lei
de Agrotóxico, em vigor desde 89.
No mesmo alerta, a Agricultura
livra o governo federal da responsabilidade pela fiscalização do glifosato "pós-emergente". A fiscalização caberia aos Estados.
Fato consumado
Lula está avisado sobre o problema desde o ano passado,
quando autorizou, pela primeira
vez, o plantio de soja transgênica.
No primeiro ano de mandato, em
2003, medida provisória autorizou só a comercialização da safra.
Desta vez o presidente optou
por um texto curto, que se limitasse a autorizar o plantio e a comercialização, proibidos por lei
que o próprio Lula sancionou em
dezembro passado. Na época, ele
confiava em que o Congresso
aprovaria a nova lei de biossegurança a tempo de definir regras
para a safra seguinte, o que não
ocorreu.
A versão da lei de biossegurança
aprovada no Senado também autoriza o uso de embriões humanos na produção de células-tronco para fins terapêuticos e de pesquisa. Essas células podem se diferenciar em diversos tipos de tecido humano.
O projeto dá poderes à CTNBio
(Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança) para autorizar organismos geneticamente modificados, independentemente de estudos de impacto ambiental, com
possibilidade de recurso a uma
comissão de ministros.
Essas regras aprovadas pelo Senado serão submetidas novamente à Câmara antes de seguirem à
sanção presidencial e virarem lei.
Colaborou André Soliani, da Sucursal
de Brasília
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