São Paulo, quinta, 15 de outubro de 1998

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MERCADO TENSO
Premiê diz que deve priorizar salvamento de bancos, redução do déficit e reforma fiscal em programa
Rússia vai estocar comida para o inverno

das agências internacionais

A Rússia vai armazenar alimentos para prevenir que boa parte da população passe fome durante o inverno que se aproxima, numa tentativa de minimizar os efeitos da crise sobre os mais pobres, anunciou ontem o primeiro-ministro russo, Ievguêni Primakov.
Primakov discursou ontem diante do Conselho da Federação, o Senado russo, para anunciar suas prioridades econômicas. Entre elas, estão a reestruturação do sistema bancário, virtualmente falido, a redução do déficit do governo e a reforma do sistema fiscal.
O objetivo é reanimar a economia injetando liquidez, mas evitando recorrer à emissão de moeda, medida que esteve em pauta nas últimas semanas, para evitar uma desvalorização ainda maior e uma aceleração da inflação.
Desenhando um panorama desolador da economia russa, Primakov admitiu que, desde sua chegada ao poder, há um mês, o poder aquisitivo da população caiu 11% e o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 16%.
O rublo, moeda local, perdeu mais de 60% de seu valor desde agosto, depois de uma desvalorização que se descontrolou. Com isso, a inflação disparou, podendo ultrapassar 160% neste ano.
Além disso, o governo está atrasando desde maio o pagamento de salários e pensões e alguns bancos tiveram seus depósitos congelados, prejudicando as duas principais fontes de rendimento dos russos. Para completar, a produção agrícola do país teve uma quebra.
"Os salários e as pensões não têm sido pagos, o sistema bancário está paralisado, não recebemos a parcela de ajuda do Fundo Monetário Internacional, as importações de bens de consumo caíram a um quarto. É necessário reunir esforços para tirar o país da crise", disse Primakov.
Ele anunciou a criação de uma "reserva alimentar de emergência", capaz de abastecer um terço da população russa, de 148 milhões de pessoas, durante duas semanas.
O custo, segundo o premiê, será de US$ 40 milhões. Primakov não disse como vai reunir essa quantidade de alimentos.
Outro passo para tentar aliviar a população é a prioridade para colocar em dia o pagamento dos salários e pensões, ainda que isso signifique atrasar ainda mais o cumprimento das dívidas do governo, especialmente dos débitos externos, segundo ele.
A dívida pública russa, afirmou, ultrapassa os US$ 225 bilhões e precisa de prazos mais longos para ser paga -até 2005. A maior parte da dívida feita nos últimos anos tem vencimento em um ano ou menos.

Injeção
Primakov disse que uma de suas prioridades será a reforma dos bancos, mas apenas os maiores poderão receber uma injeção de recursos que os salvem da quebra. O descenso do rublo provocou problemas de liquidez nos já instáveis bancos russos.
"Os bancos que tiverem mais significado para a economia, mas que não estejam agora muito viáveis, receberão ajuda do governo para permanecer vivos. Os que estiverem absolutamente inviáveis não sobreviverão", afirmou.
Uma redução de impostos, numa tentativa de diminuir a sonegação, também deve ocorrer nos próximos dias. Para começar, será anulada uma tarifa de 3% imposta pelo governo anterior a alimentos e medicamentos importados.



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